O governador da Flórida, Ron DeSantis, anunciou neste domingo (21) o fim de sua campanha para representar o Partido Republicano na disputa pela Presidência dos Estados Unidos. Visto inicialmente como a alternativa mais forte a Donald Trump, ele endossou o empresário contra a única adversária restante na corrida, Nikki Haley.
No caucus de Iowa, na última segunda (15), DeSantis ficou em segundo lugar, 30 pontos percentuais atrás de Trump, uma margem de vitória histórica para o ex-presidente. Ante a expectativa de um desempenho ainda pior na primária de New Hampshire, que acontece nesta terça (23), e reconhecendo não haver um caminho para vitória, ele anunciou na plataforma X sua saída da corrida eleitoral.
“Trump é superior ao atual presidente, Joe Biden. Isso está claro. Assinei um compromisso de apoiar o candidato republicano, e vou cumprir esse compromisso. Ele tem meu apoio porque não podemos voltar à velha guarda republicana do passado”, disse no vídeo, ao justificar seu apoio ao líder da disputa.
Em nota, a campanha do empresário agradeceu o endosso recebido e disse que “agora é hora de todos os republicanos se unirem em apoio ao presidente Trump para derrotar o desonesto Joe Biden e encerrar sua Presidência desastrosa”.
Com a saída, a corrida se afunila para apenas dois candidatos, Trump e Haley. O cenário é ideal para a ex-embaixadora dos EUA na ONU, que almeja concentrar todos os votos dos que se opõem ao empresário. Na última semana, ela já havia deixado clara sua estratégia de se colocar como a única outra opção, cancelando participação em debates com a presença apenas de DeSantis.
Neste domingo, após o anúncio da desistência, Haley afirmou à CNN que o governador da Flórida “fez uma boa campanha”, partindo em seguida para ataques a Trump.
Agora, aumentam as expectativas em relação à próxima batalha pela indicação republicana, em New Hampshire, nesta terça. De acordo com o agregador de pesquisas do FiveThirtyEight, Haley está em segundo lugar, pouco mais de dez pontos atrás de Trump, distância que pode ser reduzida ainda mais caso ela absorva o eleitorado de DeSantis no estado, de perfil mais moderado e onde independentes também podem participar da votação.
A capacidade de Haley de atrair esses eleitores é, neste momento, a grande incógnita da corrida republicana. Nas redes sociais, Trump não comentou imediatamente a saída do governador da Flórida, mas disparou uma série de postagens com ataques à concorrente.
Na mesma nota em que agradeceu o apoio de DeSantis, a campanha aproveitou para dizer que Haley é a candidata “dos globalistas e dos democratas”. “Desde impostos mais altos até a devastação da Previdência Social e do Medicare, e fronteiras abertas, ela representa mais as opiniões dos democratas do que as dos republicanos.”
Na última semana, Trump chegou a chamá-la, erroneamente, de Nikki “Nimrada” Haley, para salientar a origem indiana da republicana, filha de pais imigrantes. O nome correto é Nimarata.
A desistência do governador da Flórida logo no início das primárias marca o fim de uma campanha que começou a desmoronar já em seu lançamento, em uma live ridicularizada pela quantidade de falhas no X (então Twitter) junto com Elon Musk.
Desde então, DeSantis não conseguiu crescer nas pesquisas de intenção de voto e viu doadores migrarem para a candidatura de Haley, em ascensão desde seu bom desempenho nos primeiros debates da corrida republicana, que começaram em agosto.
Em Iowa, onde o governador havia apostado todas as suas fichas, ele obteve 21,2% dos votos, à frente da ex-governadora da Carolina do Sul por apenas dois pontos percentuais.
Mesmo ruim, o resultado foi celebrado por sua equipe, que temia um constrangedor terceiro lugar. De acordo com o site de monitoramento de gastos com publicidade AdImpact, DeSantis gastou cerca de US$ 35 milhões com anúncios em Iowa, praticamente o dobro de Trump (US$ 18,5 milhões). Com a perda de apoio de doadores, havia dúvidas se o governador da Flórida teria dinheiro para continuar sua campanha.
“Se houvesse algo que eu pudesse fazer para obter um resultado favorável, mais eventos de campanha, mais entrevistas, eu faria isso, mas não posso pedir aos nossos apoiadores que voluntariem seu tempo e doem seus recursos se não tivermos um caminho claro para a vitória. Portanto, hoje estou suspendendo minha campanha”, afirmou ele no vídeo em que anuncia sua desistência.
Durante a campanha, DeSantis buscou se apresentar como um conservador radical na linha de Trump, mas sem o caos que acompanha o ex-presidente. O objetivo da estratégia era atrair tanto a parcela do partido que resiste ao empresário, quanto aquela —numerosa— que tem simpatia por ele.
Andando nessa corda bamba, o governador da Flórida evitou atacar diretamente o líder das pesquisas, temendo perder o eleitorado que defende Trump. Esse é visto como seu principal erro de campanha.
“O único candidato que realmente tinha uma chance [na corrida republicana] era DeSantis, por ser alguém capaz de navegar essa diferença entre Trump e a velha guarda. O problema é que ele nunca convenceu os populistas de que era melhor do que Trump. Nunca esteve disposto a dizer ‘esse é o motivo pelo qual você deveria me preferir’, porque isso significaria enfrentar Trump. Mas Trump não teve nenhum problema em enfrentá-lo”, disse à Folha o analista político Henry Olsen, especialista no Partido Republicano.
Também não ajudou DeSantis a dificuldade de fazer campanha corpo a corpo. Piadas com a falta de tato social do republicano ao lidar com eleitores são frequentes na imprensa americana, nas redes sociais e em discursos de Trump.