Em mais atritos comerciais na chamada Guerra Fria 2.0, o governo dos Estados Unidos incluiu várias empresas da China a uma lista criada pelo Departamento de Defesa sobre agentes que estariam atuando no território americano em conjunto com as forças militares de Pequim.
A medida, segundo autoridades, faz parte de um esforço para impedir que informações sigilosas da tecnologia americana sejam acessadas pelo setor de inteligência chinês. Foram adicionados à lista, segundo a agência de notícias Reuters, a fabricante de chips YMTC, a empresa de inteligência artificial Megvii, a fabricante de hardwares Hesai Technology, a empresa de tecnologia NetPosa, entre outras.
As suspeitas de espionagem aumentaram nos últimos meses, diante das tensões crescentes entre EUA e China. O estopim da crise ocorreu em fevereiro do ano passado, quando o Pentágono anunciou a descoberta de um balão chinês sobrevoando o território americano. O objeto foi derrubado por um caça, em ação considerada exagerada por Pequim. Washington diz que o artefato abatido era um instrumento de espionagem, enquanto o regime chinês diz que era um equipamento de pesquisas.
A atualização da lista aumenta o número de medidas adotadas por Washington nos últimos anos para restringir a atuação de empresas chinesas que poderiam, segundo o Pentágono, fortalecer as Forças Armadas do gigante asiático.
Em resposta, um porta-voz da embaixada da China em Washington disse que a decisão é um abuso de poder e contraditória ao “suposto compromisso americano com a concorrência de mercado e o comércio justo internacional.” Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do país asiático pediu aos EUA que “retifiquem imediatamente as práticas discriminatórias” e ofereçam às empresas chinesas “um ambiente justo, equitativo e não discriminatório”.
“[A decisão] viola os princípios da concorrência de mercado e as regras econômicas internacionais que o país sempre defendeu, além de minar a confiança das empresas estrangeiras em investir e operar nos EUA”, disse o porta-voz Wang Wenbin nesta quinta-feira (1º).
A medida não envolve punições imediatas, mas pode representar um golpe à reputação das empresas, uma vez que o documento alerta setores empresariais dos EUA sobre os riscos de realizar negócios com as companhias listadas. A atualização ainda deve aumentar a pressão para que o Departamento do Tesouro sancione mais empresas chinesas.
O Hesai Group disse que não tem vínculos ou comercializa produtos para militares de nenhum país. A empresa disse ter ficado desapontada por ter sido incluída na lista. Já a YMTC e a Megvii não responderam aos pedidos de comentários feitos pela Reuters.
Como parte do esforço para impedir o vazamento de informações secretas, a inclusão na lista deve impedir que as companhias chinesas fechem negócios com o Departamento de Defesa americano nos próximos anos. “A lista atualizada do Departamento de Defesa ressalta o compromisso inabalável da China com sua estratégia de fusão militar-civil”, disse Craig Singleton, membro sênior da Foundation for Defense of Democracies, instituto de produção de conhecimento estratégico sobre segurança nacional.
Outras empresas adicionadas na lista incluem a China Three Gorges Corp, a China Construction Technology Co e a Yitu Network Technology, além de companhias que têm capital aberto como Chengdu JOUAV Automation Tech Co 688070.SS, Chengdu M&S Electronics Technology Co 688311.SS, Guizhou Aviation Technical Development Co 688239.SS e ShenZhen Consys Science & Technology Co 688788.SS.
Elas se juntam à empresa de aviação AVIC, à BGI Genomics Co, à China Mobile 0941.HK, à empresa de energia CNOOC 600938.SS e à China Railway Construction Corp 601186.SS, anteriormente listadas.
Em paralelo, na quarta (31), autoridades dos EUA, incluindo o diretor do FBI, Christopher Wray, alertaram que hackers ligados a Pequim estão se preparando para causar “danos no mundo real”, tendo como alvo a infraestrutura crítica americana, como estações de tratamento de água, rede elétrica, oleodutos e gasodutos de gás natural, além de centros de transporte.
O governo americano tem feito esforços nos últimos anos para dificultar que os chineses desenvolvam armas de ponta e outros recursos tecnológicos de uso militar. A medida que motivou mais protestos por parte de Pequim restringe a exportação de ferramentas para produção de chips semicondutores à China.
Os semicondutores são essenciais para desenvolvimento de supercomputadores e outros recursos com aplicações militares, como inteligência artificial, desenvolvimento de armas nucleares e mísseis hipersônicos.