O resultado da eleição presidencial americana neste ano está na mão dos moderados e independentes. E, até agora, eles têm mostrado que não gostam de nenhuma das opções oferecidas.
Do lado republicano, a facilidade com que Donald Trump vem vencendo as primárias do partido prova a consolidação do seu apoio entre o eleitorado conservador, mesmo após a invasão ao Capitólio e os quatro processos criminais. Do lado democrata, Joe Biden venceu a primeira primária da sigla, ainda que extraoficial, sem nem estar na cédula.
A força de ambos em suas bases, no entanto, está longe de se refletir no eleitorado geral. Segundo pesquisa Ipsos/Reuters divulgada na quinta (25), 2 em cada 3 americanos dizem estar cansados de verem os mesmos candidatos e querem alguém novo. Na visão de 70% dos entrevistados, Biden não deveria concorrer, e na de 56%, Trump deveria estar ausente da corrida.
Apesar dessa insatisfação generalizada, com a inusual definição antecipada das primárias neste ano, os dois estão proporcionado a campanha para a eleição geral mais longa já vista nos EUA.
Segundo a Gallup, 43% dos americanos se consideram independentes hoje. O restante, 54%, se divide igualmente entre democratas (27%) e republicanos (27%). Considerando filiação ideológica, e não partidos, 36% se dizem moderados, 36% são conservadores, e 25%, liberais.
Pesquisas de boca de urna das primárias do Partido Republicano neste mês ilustram com clareza a dissonância entre o eleitor do partido e aquele que o empresário vai precisar conquistar para vencer o pleito em novembro.
Em Iowa, por exemplo, estado religioso em que só filiados podem participar do caucus, Trump foi derrotado em 2016 por Ted Cruz, que na época também conquistou a maioria dos votos dos eleitores que se declaravam republicanos e conservadores. Oito anos depois, Trump venceu em ambos os grupos –o apoio a ele mais que dobrou no primeiro e praticamente triplicou no segundo.
Em contrapartida, em 2016, o empresário havia vencido entre os eleitores que se consideravam moderados, com 34% dos votos deles. Esse percentual caiu para 20% agora –Nikki Haley foi quem levou a categoria dessa vez, com o apoio de 63% dos eleitores. Por fim, Trump manteve a liderança entre os independentes, mas um número menor de republicanos com esse perfil participou do caucus neste ano. Haley veio em segundo, apenas oito pontos percentuais atrás.
Já em New Hampshire, um estado mais moderado e que permite a participação de independentes nas primárias, Haley teve mais da metade dos votos desse segmento, ficando 19 pontos à frente do empresário. A vitória da ex-governadora da Carolina do Sul foi ainda maior entre moderados (72%). Em 2016, Trump havia vencido em ambos os grupos.
“Do ponto de vista das primárias, é bom para Trump se sair melhor com conservadores, porque isso significa que ele tem o partido unido atrás dele, e as próximas disputas serão ainda mais dominadas por conservadores do que New Hampshire”, diz o analista político Kyle Kondik, editor da Sabato’s Crystal Ball, site de referência sobre eleições mantido pela Universidade da Virgínia.
“Ao mesmo tempo, os resultados sinalizam uma fraqueza. Se Trump fosse mais fraco com republicanos tradicionais, isso poderia na verdade torná-lo mais atraente na eleição geral”, completa.
Ciente disso, a campanha do empresário vem buscando se vender para os dois públicos. Um exemplo disso é uma promessa que vem repetindo em diversos comícios, de vingança contra inimigos de dentro e de fora de sua base.
Quando questionado sobre o assunto em uma entrevista à Fox News, porém, ele negou que queira ir atrás de adversários. “Nós vamos fazer esse país tão bem-sucedido de novo que não terei tempo para vingança”, afirmou.
Ainda assim, logo após o resultado de New Hampshire e a recusa de Haley de desistir da corrida, Trump fez um discurso em que ameaçou seus doadores de campanha e a própria candidata, insinuando que ela poderia ser investigada.
“Trump está basicamente tentando dar a entender que será o mais perigoso o possível, e não está refutando as afirmações dos democratas de que é um aspirante a ditador. Essa não me parece a melhor forma de fazer uma campanha [para conquistar independentes]”, diz Kondik.
Ele faz a ressalva, porém, que outro traço característico do eleitor independente é que, em geral, ele presta menos atenção na política. Um engajamento maior será visto apenas perto da eleição, em novembro.
Uma fatia desse eleitorado deve acabar votando em um candidato independente, como Robert F. Kennedy Jr. ou Cornel West.
Isso preocupa mais os democratas do que os republicanos –é Biden quem mais perde votos quando outros nomes são incluídos nas pesquisas. Mas, segundo Kondik, candidatos independentes têm historicamente um resultado pior nas urnas do que as pesquisas de intenção de voto indicam.
Com isso, a maior fonte de tensão dos democratas tem sido o próprio Biden. Pesquisa da Gallup divulgada na última semana mostra que apenas 39,8% dos americanos aprovam o presidente. Somente Jimmy Carter teve um percentual pior a essa altura do mandato, e ele perdeu a reeleição, em 1980, para Ronald Reagan.
Entre independentes, a aprovação de Biden está em 35%, muito abaixo dos 50% que ele tinha logo depois de tomar posse.
Kondik destaca os sete estados em que esse eleitorado será chave —e que, portanto, definirão a eleição. Os primeiros são Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. O trio forma o que o especialista chama de “norte industrial”, e elegeram Trump em 2016 e Biden em 2020 com margens apertadas. Os quatro restantes são aqueles do “cinturão do sol”: Carolina do Norte, Geórgia, Arizona e Nevada.
“Trump venceu em 6 desses 7 em 2016, todos exceto Nevada. Em 2020, Biden ganhou em todos, exceto a Carolina do Norte. Eles são os únicos estados do país em que a decisão se deu por menos de três pontos percentuais, e eles vão decidir a eleição novamente”, diz.