Os Estados Unidos e a França, ao lado de aliados como a Arábia Saudita e a União Europeia, divulgaram no fim desta noite de quarta (24) um manifesto pedindo cessar-fogo de 21 dias entre Israel e o Hezbollah.
O texto pede o início imediato de negociações, incluindo no pacote o apoio a uma solução também com cessar-fogo para a guerra entre israelenses e o Hamas, iniciada há quase um ano com o mega-ataque terrorista do grupo palestino baseado na Faixa de Gaza.
Nos últimos dias, diversos países se engajaram em negociações durante a Assembleia-Geral da ONU devido ao temor de que, nas palavras do secretário-geral da entidade, António Guterres, o Líbano se torne uma nova Gaza. Ele, contudo, é visto como parcial pró-Palestina em Israel.
Já os EUA, do crepuscular governo de Joe Biden, são o principal fiador de Tel Aviv. A presença de porta-aviões e outros ativos militares de Washington no Oriente Médio é motivo centrarl para dissuadir uma escalada ainda maior por parte do Irã, apoiador do Hamas que tem no Hezbollah seu maior preposto.
Apesar disso, em fim de mandato e sem saber quem será seu sucessor, Biden é o proverbial pato manco. Analistas israelenses dizem que o premiê Binyamin Netanyahu torce pela eleição do republicano Donald Trump em novembro, e que qualquer decisão mais abrangente poderá ter de esperar.
O presidente francês, Emmanuel Macron, entra com o peso de ser a antiga potência colonial no Líbano, mas sua influência sobre o Hezbollah é nula. Ele serve para dar alguma densidade à posição lateral do governo oficial em Beirute, mas as cartas do grupo fundamentalista são jogadas em acordo com Teerã.
Desde a semana passada, Israel decidiu não mais tolerar o atrito iniciado em 8 de outubro de 2023, quando os libaneses começaram a disparar projeteis em apoio ao Hamas. Os atritos acontecem sempre, mas estavam em nível controlado desde a última guerra aberta com Israel, em 2006.
De lá para cá, aumentou a intensidade e a variedade de ataques ao Líbano, incluindo áreas longe da zona tampão que deveria ter sido estabelecida a partir da retirada israelense do país, acordada com a ONU em 2000.
Ao menos 644 pesssoas morreram, inclusive um garoto brasileiro de 15 anos. O governo diz que 500 mil pessoas foram desalojadas do sul do país.
Em Israel, houve o registro de feridos numa reação inicial do Hezbollah, que na quarta lançou inclusive um míssil de longa distância contra Tel Aviv, sem sucesso em atingir a sede do serviço secreto, o Mossad.
Tel Aviv já desenha a próxima etapa militar da crise, uma invasão do sul libanês. Isso foi adiantado pela Folha na terça (24) e confirmado pelo chefe do Estado-Maior do país, Herzl Haveli, que pediu a soldados para se preparar.
No norte do país, a reportagem viu o maior hospital da fronteira estocar mantimentos para apoiar o trabalho em caso de uma guerra terrestre. O objetivo declarado do governo israelense é a volta para casa em segurança de 60 mil moradores das faixas fronteiriças.
Ainda não houve reação oficial de Israel, até porque a proposta foi divulgada no fim da madrugada local. Ela foi calma, do ponto de vista israelense, sem nenhum registro de alerta de ataque aéreo. Ainda não há relatos se a “reação muito forte” prometida por Haveli devido à tentativa de alvejar Tel Aviv ocorreu.