Os Estados Unidos irão retirar limites ao uso de armas americanas pela Ucrânia se a Coreia do Norte entrar no conflito de Kiev com a Rússia, disse o Pentágono nesta segunda-feira (28). A Otan, aliança militar ocidental liderada por Washington, afirma que tropas norte-coreanas foram enviadas para a região russa de Kursk, invadida pelos ucranianos.
Até o momento, a política dos EUA tem sido de vetar o emprego de armamentos doados a Kiev para ações ofensivas e longo alcance em território russo. Antes, o veto se estendia a qualquer ação, mesmo defensiva, dentro do território da Rússia, mas o governo Biden passou a autorizar tal uso em maio.
O envio de Pyongyang eleva as tensões e preocupações ocidentais de que a guerra, que já passa de dois anos e meio, possa se expandir para além da Ucrânia —mesmo com a atenção global voltada à ampliação do conflito no Oriente Médio.
“A cooperação militar crescente entre a Rússia e a Coreia do Norte é uma ameaça tanto para a segurança do Indo-Pacífico quanto para a Euro-Atlântica”, disse o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, após conversas com uma delegação sul-coreana sobre o assunto.
O envio de unidades norte-coreanas é um sinal de “desespero crescente” por parte do Kremlin, disse Rutte. “Mais de 600 mil soldados russos foram mortos ou feridos na guerra de Putin e ele é incapaz de sustentar seu ataque à Ucrânia sem apoio estrangeiro”, afirmou.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que o envio era “muito perigoso”. O Pentágono estimou em 10 mil os soldados norte-coreanos enviados para o leste da Rússia para treinamento, um aumento em relação à estimativa inicial de 3.000 tropas. De acordo como o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, serão 12 mil os soldados de Pyongyang usados pela Rússia.
“Uma parte desses soldados já se aproximou da Ucrânia, e estamos cada vez mais preocupados que a Rússia pretenda usá-los em combate ou para apoiar operações contra forças ucranianas na região de Kursk”, disse a porta-voz do Pentágono, Sabrina Singh.
A inteligência militar ucraniana disse na quinta-feira (24) que as primeiras unidades norte-coreanas foram registradas na região fronteiriça, onde tropas ucranianas têm operado desde que realizaram uma incursão, local, em agosto —pequena territorialmente, mas humilhante para o Kremlin.
O Pentágono se recusou a confirmar se forças norte-coreanas já estavam em Kursk. “É provável que estejam se movendo nessa direção. Mas ainda não tenho mais detalhes”, disse Singh.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sibiha, afirmou que Kiev alertava aliados há semanas sobre o assunto e acusou-os de não darem uma resposta forte à informação. “A conclusão: ouçam a Ucrânia. A solução: levantem as restrições aos nossos ataques de longo alcance contra a Rússia agora”, disse ele no X.
O Kremlin inicialmente descartou os relatos sobre o envio de tropas norte-coreanas classificando-os de “notícias falsas”. Mas o presidente Vladimir Putin, na quinta-feira, não negou que tropas de Pyongyang estavam na Rússia e disse que era um assunto de Moscou a forma como irá implementar o acordo militar assinado recentemente com a ditadura de Kim Jong-un.
Um funcionário do ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte não confirmou os relatos sobre tropas de seu país na Rússia, mas disse que se Pyongyang tivesse tomado tal ação, acreditava que estaria em conformidade com as normas internacionais.
O chefe de gabinete do presidente ucraniano, Andrii Iermak, disse que apenas sanções não são uma resposta suficiente para o envolvimento norte-coreano na guerra. Ele acrescentou que Kiev precisa de “armas e um plano claro para impedir o envolvimento expandido da Coreia do Norte”.