A partir deste ano, alunos do ensino fundamental da Califórnia serão obrigados a escrever com letra cursiva nas escolas. Com isso, mais de 2,6 milhões de californianos do 1º ao 7º ano, com idades entre 6 e 12 anos, receberão aulas de caligrafia.
A mudança é uma reviravolta para uma geração de crianças que aprendeu a escrever diretamente nas telas de tablets e computadores.
A lei, sancionada em outubro, foi iniciativa de Sharon Quirk-Silva, ex-professora do ensino fundamental e deputada estadual na Califórnia. Ela afirma que se sentiu inspirada a propor o projeto de lei após uma reunião com o ex-governador Jerry Brown, em 2016.
Educado sob orientação jesuítica, Brown ficou animado ao saber que a deputada, reeleita na época, era professora. “Você precisa retomar a escrita cursiva”, disse o ex-governador.
Segundo a deputada, a letra cursiva ainda constava nos padrões exigidos pela Califórnia nas salas de aula, porém a instrução era deficitária e inconsistente.
Especialistas afirmam que aprender letra cursiva melhora o desenvolvimento cognitivo e ajuda na compreensão da leitura e nas habilidades motoras dos alunos. Educadores também acreditam que ler documentos históricos e cartas de familiares de gerações passadas é benéfico para o processo de aprendizagem.
Na escola elementar Orangethorpe, em Fullerton, a 50 km de Los Angeles, a professora Pamela Keller disse que já ensinava letra cursiva aos alunos antes de a lei entrar em vigor no início deste mês.
Ela afirma que algumas crianças reclamam da dificuldade em escrever no papel, mas a professora diz preferir apresentar os benefícios da escrita para o aprendizado.
“Nós dizemos que isso vai deixá-los mais inteligentes, que os ajudará a fazer conexões cerebrais e a avançar para o próximo nível. Os alunos ficam entusiasmados porque querem aprender”, conta a professora.
No processo de aprendizagem, Keller também retoma frases clássicas como “coloque mais força no lápis”, ou “escreva com mais delicadeza” e lembra os alunos de que “a borracha é nossa melhor amiga”.
Alguns deles se divertem. Em visita recente à biblioteca da escola, um aluno ficou animado ao ver que a Constituição dos EUA, de 1787, foi escrita em letra cursiva.
“Eu adoro, porque sinto que escrever é mais sofisticado e é divertido aprender letras novas”, diz Sophie Guardia, 9.
Na sala da professora Nancy Karcher, a reação dos alunos do 3º ano gerou reações como “é divertido”, “é lindo” ou “agora posso entender a letra da minha mãe”. Outros já afirmam que vão utilizar a nova técnica para inscrever seus segredos em diários pessoais.
Retorno ao cursivo
À medida em que teclados e tablets se proliferaram, a letra cursiva desapareceu. Em 2010, os padrões educacionais dos EUA retiraram da lista de obrigatoriedades em sala de aula o processo de aprendizagem desse tipo de escrita.
Segundo Kathleen Wright, fundadora do Handwriting Collective, ONG que promove o ensino de caligrafia, os professores pararam de ensinar as crianças a formarem letras e as faculdades deixaram de preparar professores para o ensino da caligrafia.
Com a lei, a Califórnia se tornou o 22º estado americano a exigir caligrafia e o 14º a promulgar um projeto de lei de instrução cursiva. Neste ano, cinco estados discutem projetos de lei para a retomada da técnica em sala de aula.