Como esperado, Joe Biden venceu a primária democrata da Carolina do Sul. O pleito, o primeiro oficial do calendário democrata, foi realizado neste sábado (3).
Para a campanha do presidente, mais que o resultado, o que importava na votação era o nível de participação popular —especialmente do eleitorado negro, que corresponde a um quarto da população do estado. Isso porque, na prática, a primária funcionará como um laboratório para medir o apoio desse grupo ao democrata em preparação para a eleição geral, em novembro.
Com 93,3% das urnas contabilizadas, Biden havia recebido 116.266 votos, ou 96,4% de um total de 120.643, à frente de seus dois concorrentes, o deputado Dean Phillips e a autora de livros de auto-ajuda Marianne Williamson.
Mas o comparecimento frustrou as expectativas. Integrantes do partido Democrata entrevistados pela Reuters esperavam um total de 100 mil a 200 mil votos.
“Carolina do Sul, conseguimos mais uma vez, 2020 e agora, 2024 de novo. Agora, vamos vencer tudo”, disse o presidente, em vídeo de agradecimento publicado nas redes sociais após a vitória. “O povo da Carolina do Sul se pronunciou de novo, e eu não tenho dúvidas de que ele nos colocou no caminho para ganhar a Presidência de novo —e tornar Donald Trump um perdedor de novo”, publicou ainda a campanha de Biden em nota divulgada após a projeção de vitória.
Em 2020, a Carolina do Sul ressuscitou a candidatura de Biden à nomeação pelo seu partido, após duas derrotas consecutivas. Em retribuição ao impulso recebido, o presidente pressionou os democratas a alterarem o calendário e começarem a corrida pelo estado, passando-o à frente dos tradicionais (e majoritariamente brancos) Iowa e New Hampshire.
O gesto foi acompanhado por visitas de Biden e da vice-presidente, Kamala Harris, ao estado; uma forte campanha publicitária; e apelos explícitos à população negra, segmento no qual a insatisfação com o presidente vem crescendo.
No entanto, neste sábado, o presidente não esteve na Carolina do Sul, como é praxe entre os candidatos nas primárias. Em vez disso, ele visitou em Delaware os túmulos de seu filho Beau, cujo aniversário seria neste sábado, da sua primeira mulher e filha. Depois viajou a Los Angeles.
Por não ser uma primária realmente competitiva —os concorrentes de Biden, Dean Phillips e Marianne Williamson, praticamente não têm chance—, espera-se que a participação seja menor neste ano do que o observado em 2020, quando havia de fato uma disputa mobilizando eleitores.
Assim, a chave neste sábado é quão mais baixa essa participação vai ser. Se muito menor, trata-se de um alarme para a campanha de Biden, reforçando o temor de um enfraquecimento do presidente entre o eleitorado negro.
“Qualquer descolamento da base de Biden pode afetá-lo porque a eleição vai ser muito acirrada“, disse à Folha o cientista político Todd Shaw, professor da Universidade da Carolina do Sul e ex-presidente da Conferência Nacional de Cientistas Políticos Negros.
Embora haja pouca esperança de que o presidente vença em novembro na Carolina do Sul —a última vez em que o estado elegeu um presidente democrata foi em 1976—, o engajamento da população negra é um termômetro para o seu desempenho em estados de fato disputados, como Geórgia (onde 33% da população é negra), Carolina do Norte (22%) e Michigan (14%).
Se o resultado deste sábado for ruim, “é melhor para eles receberem essa notícia agora do que na Super Terça”, completou Shaw, em referência ao dia em que 15 estados e um território realizam suas primárias, em 5 de março.
O alarme na campanha democrata foi disparado por pesquisas de opinião que mostravam um aumento da rejeição a Biden entre a população negra. Em julho de 2022, por exemplo, 57% dos entrevistados com esse perfil faziam uma boa avaliação do presidente e 42%, uma ruim. Já em janeiro deste ano, a visão positiva havia caído para 48%, ligeiramente abaixo da negativa, então em 49%, segundo dados do instituto americano de pesquisas Pew Research Center.
A preocupação não é com a migração desse eleitorado para Trump, mas sim com a possibilidade de sua abstenção nas eleições gerais. Pesquisa realizada pela Siena College em parceria com o New York Times nos seis estados cruciais para o resultado do pleito mostrou que, enquanto 58% dos eleitores brancos afirmam ser quase certo que votarão no pleito presidencial, esse percentual cai para 44% entre os eleitores negros.
Preocupa ainda a campanha do presidente a possibilidade de democratas deixarem de votar nas primárias da sigla neste sábado para apoiarem, no final do mês, Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul, na corrida republicana contra Trump.
No estado, as primárias são abertas, ou seja, membros do Partido Democrata podem participar da votação republicana e vice-versa. Ao mesmo tempo, só é possível votar no evento de uma das legendas. Por isso, quem participar neste sábado não poderá comparecer ao pleito republicano, marcado para o dia 24 deste mês.
Veja o calendário das primárias democratas
New Hampshire realizou uma primária extraoficial, à revelia do partido, em janeiro. Os delegados não foram contabilizados.