Após o acidente envolvendo a lagoa de evapoinfiltração na Lagoa da Conceição, em 2021, a Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) precisou entregar diversas contrapartidas à comunidade atingida.
Uma delas, em parceria com a Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) e a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) é o custeio de 20 pesquisas, ao custo de R$ 3,2 milhões, a maioria focada em análises de contaminação da lagoa.
Os estudos, iniciados em agosto do ano passado, estão na metade e terminam em agosto do ano que vem. No último sábado (21), as análises preliminares foram apresentadas à comunidade da Lagoa da Conceição e o panorama é positivo, embora, exija cuidados.
Os resultados devem refletir em novas ações futuras por parte da Casan, focadas diretamente na conservação da Lagoa da Conceição, por exemplo, trabalhos visando o tratamento do corpo hídrico, novas políticas operacionais de esgoto ou água, além da própria continuidade das pesquisas, caso necessário.
Coordenador de pesquisa, desenvolvimento e inovação na Casan, Felipe Góes enfatizou que, atualmente, a companhia considera que o tripé inovação, pesquisa e desenvolvimento é o pilar da preparação da empresa para os desafios atuais e futuros.
“Fazer um apanhado de projetos, com a Lagoa da Conceição como foco, de várias óticas diferentes, com base nas atividades de ocupação humana naquele local, despejo indevido de esgoto, por edificações que não estão ligadas corretamente, poluentes que outrora vão para a lagoa é algo central para a gente conservar o meio ambiente e oferecer um serviço cada vez melhor”, ressaltou Góes.
Conforme o coordenador, como a Lagoa da Conceição é uma área extremamente preservada e valiosa, todo cuidado é pouco. “Não há nada preocupante, além desse fato em si, de que todo cuidado é pouco com esse bem tão grande que é a lagoa. Os resultados apresentados até agora na pesquisa sobre contaminantes, por exemplo, não mostram nenhum resultado que esteja diferente do esperado”, afirmou.
Como reflexo de um processo histórico de ocupação desordenada, anterior ao incidente na lagoa de evapoinfiltração, a Lagoa da Conceição sofre o fenômeno de eutrofização, oriundo da chegada de carga orgânica ao corpo lacustre.
Isso ocorre, segundo Góes, por um despejo indevido de esgoto dos imóveis que deveriam estar ligados à rede coletora ou ter tratamento próprio, contudo, estão ligados à rede de drenagem e, consequentemente, o esgoto para no mar, neste caso, numa laguna ligada ao mar.
“Como em qualquer lugar com ocupação humana de caráter desordenado, temos casas com esgoto ligado diretamente à lagoa. Boa parte das pesquisas tratam de contaminantes encontrados na água, então é importante ficar de olho nisso”, frisou Góes.
Representando a pró-reitoria de pesquisa e inovação da UFSC, o professor Willian Gerson Matias falou sobre a importância desse trabalho para a pró-reitoria. “Temos grande satisfação em participar dessa cooperação em busca de respostas científicas ligadas à qualidade da água e aos ecossistemas desse ambiente tão importante que é a Lagoa da Conceição”.
O professor Paulo Belli, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, também ressaltou a importância da cooperação e da divulgação dos estudos. “Temos um grande desafio que é fazer com que a pesquisa e a tecnologia se comuniquem com a população, e com as diversas instituições. Por isso, eventos como esse são tão importantes para compartilhar conhecimentos para recuperação da Lagoa da Conceição”.
Sistema construído nos anos 1980
Um dos maiores desafios para o sistema de esgotamento da Lagoa da Conceição é o fator tempo, visto que é um dos mais antigos de Florianópolis.
“O início da construção foi na década de 1980, então tem 40 anos aproximadamente. Evidentemente, um sistema tão antigo, ainda mais num lugar que é patrimônio para quem é daqui e para a Casan, é algo a ser tratado de maneira muito séria”, declarou o coordenador de pesquisa da companhia.
O evento do último sábado foi uma oportunidade para que os pesquisadores de seis diferentes centros da UFSC entrassem em contato com seus pares e com a comunidade.
A participação dos moradores foi efetiva. Muitos foram verificar os resultados colhidos até o momento, inclusive representantes da Amolagoa (Associação de Moradores da Lagoa da Conceição), que entenderam os detalhes das pesquisas sobre contaminantes, uso de aplicativos, aceitação de tecnologias emergentes.
Como as pesquisas focadas na lagoa terão continuidade, devendo chegar ao ápice em agosto de 2024, após a conclusão, a ideia da Casan, que acompanha a pesquisa de perto, é converter os resultados obtidos em ações. O objetivo é manter a lagoa cada vez mais conservada.
No mês que vem, inclusive, será realizado outro evento, desta vez na Casan, para que os pesquisadores se comuniquem entre si e com os profissionais da estatal.