As exportações de veículos pesados representam apenas 3,6% do comércio automobilístico global, mas suas emissões de CO2 aumentaram mais de 30% desde 2000, com caminhões contribuindo com 80% desse aumento. Este dado foi revelado em relatório publicado nesta quinta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, em Nairobi.
Entre os países lusófonos pesquisados, apenas o Brasil baniu a importação de veículos pesados usados, fazendo parte do seleto grupo de 18 nações que adotaram essa medida entre os 146 estudadas.
Brasil aboliu importação de veículos pesados
No ranking sobre regulação nacional, Cabo Verde e Guiné-Bissau estão no grupo avaliado como “bom”. Angola fica entre os 10 cuja regulação foi considerada “fraca”.
Já Moçambique e São Tomé e Príncipe estão entre os mais de 60 países que têm regulação “muito fraca”. No continente africano, Moçambique figura entre os 10 principais importadores de veículos pesados japoneses usados entre 2015 e 2020.
O chefe da Unidade de Mobilidade Sustentável do Pnuma, Rob De Jong, afirma que caminhões e ônibus contribuem para o crescimento econômico em praticamente todo o mundo, mas eles causam grandes impactos ambientais e de saúde.
Assim, ele aponta que são necessárias regulamentações ambiciosas para reduzi-las. A introdução de tecnologias de veículos mais limpas pode ser um importante motor da revolução global rumo a um transporte com baixas emissões ou mesmo com zero emissão de carbono.
Cooperação regional para o cumprimento de normas
O relatório cita a necessidade de uma responsabilidade compartilhada entre os países importadores e exportadores, cooperação regional para o cumprimento de normas, e o desenvolvimento de mais pesquisa.
Políticas nacionais específicas podem incluir uma proibição total de entrada de veículos pesados usados no país, limites de idade para o registro de veículos pesados, tarifas alfandegárias e de registro, e o estabelecimento de padrões de emissão.
Segundo o estudo, se houvesse uma adoção massiva a uma norma para a transição para combustíveis mais limpos, até 700 mil mortes prematuras poderiam ser evitadas até 2030. Atualmente, 97% de todos os novos caminhões e 73% dos ônibus na União Europeia são movidos a diesel.
Assim, as recomendações do relatório incluem impulsionar a adoção de tecnologias avançadas já existentes – incluindo ônibus e caminhões elétricos -, e a uma mobilização pública que ajude a pressionar pela aplicação de regulamentações mais rigorosas.
Aumento das atividades econômicas
De acordo com o estudo, o uso de veículos usados pesados deve continuar a crescer consideravelmente devido ao aumento das atividades econômicas e da necessidade de transportar pessoas e mercadorias.
Entre 2000 e 2015, por exemplo, segundo o relatório, as vendas globais de caminhões e ônibus duplicaram, confirmando a tendência.
Países em desenvolvimento recorrem à importação de veículos pesados usados para expandir suas frotas, porém, o relatório destaca a falta de regulamentação eficaz sobre sua qualidade, aumentando os impactos negativos, especialmente com modelos antigos, mais poluentes e menos seguros.
Sobre a exportação de veículos pesados usados, o estudo revela que nenhum país possui requisitos mínimos para sua exportação. Outro achado é que as normas em mais de metade dos países importadores são “fracas” ou “muito fracas” e sua aplicação é inadequada.
Relatório
Embora 25 países africanos tenham adotado normas de controle da poluição atmosférica, de mitigação das alterações climáticas e de melhoria da segurança rodoviária, apenas quatro implementaram essas normas integralmente. Em todo o mundo, apenas dois países incluíram veículos usados nos seus planos nacionais de ação climática.
O estudo, feito em parceria com a Climate and Clean Air Coalition, fornece pela primeira vez uma visão global sobre a escala e a regulamentação dos veículos pesados, sua contribuição para a poluição atmosférica, acidentes rodoviários, consumo de combustível fóssil e emissões climáticas.
Ele foi baseado em dados de exportação do Japão, da União Europeia e da República da Coreia, que representam juntos cerca de 60% do mercado total de exportação para 146 países predominantemente de baixa e média renda.
O relatório, no entanto, tem limitações, como algumas discrepâncias nas estatísticas comerciais, bem como ausência de dados públicos relevantes dos EUA, que não separam as exportações de veículos novos e usados, e da China, um exportador emergente.