O secretário-geral da ONU, António Guterres, emitiu um alerta urgente durante a cúpula da Liga Árabe no Bahrein, dizendo que qualquer ataque em larga escala à cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, é inaceitável.
Guterres enfatizou a necessidade da libertação dos reféns e rejeitou a ideia de “punição coletiva” aos palestinos. Ele destacou que mais violência agravaria a crise humanitária na região, enquanto equipes de ajuda humanitária clamam por uma passagem segura para reabastecer estoques críticos.
Papel da Unrwa
O chefe da ONU reiterou seu firme apoio à agência de refugiados palestinos, Unrwa, enfatizando sua necessidade de financiamento. Guterres destacou a Unrwa como crucial para os refugiados palestinos em Gaza e em toda a região.
Enquanto isso, o Programa Mundial de Alimentos, PMA, emitiu um novo alerta sobre a iminente fome em Gaza. A agência sublinhou que os estoques de alimentos e combustível estão quase esgotados.
Segundo o PMA, desde 6 de maio, a entidade está sem acesso para receber ajuda da passagem de Kerem Shalom. A agência da ONU destacou que qualquer nova escalada das hostilidades em Gaza poderia levar as operações de ajuda “a uma paralisação completa” e levar a uma catástrofe humanitária.
Embora o PMA tenha fornecido alimentos nutricionais especiais para grávidas e lactantes e para crianças com menos de cinco anos em toda a Faixa de Gaza, a agência da ONU disse que, desde 11 de maio, as distribuições foram suspensas em Rafah e só estão em andamento em Khan Younis e Deir El Balah, com capacidade limitada.
Cruzando barreiras
No norte de Gaza, o PMA alertou sobre o alarmante aumento das taxas de desnutrição aguda entre crianças com menos de dois anos. De 15% em janeiro, essas taxas dobraram para 30% em março.
Os trabalhadores humanitários destacam que a desnutrição aguda é especialmente perigosa, aumentando drasticamente o risco de mortalidade infantil, deixando as crianças afetadas até 12 vezes mais propensas a morrer do que aquelas bem nutridas.
De acordo com a Unrwa, na quarta-feira, cerca de 600 mil pessoas, um quarto da população de Gaza, foram deslocadas à força de Rafah durante a última semana. Isso ocorreu em meio à atividade militar contínua de Israel e às ordens de evacuação emitidas.
Outras 100 mil pessoas foram deslocadas do norte para cumprir as ordens de evacuação dos militares israelenses. Há relatos de pesados tiroteios na área.
Ordens de evacuação em escala
De acordo com o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, 285 km2, ou aproximadamente 78% da Faixa de Gaza, estão agora sujeitos a ordens de evacuação pelos militares israelenses.
Em sua última atualização, o Ocha relatou a continuidade dos bombardeios aéreos, terrestres e marítimos em grande parte da Faixa de Gaza, resultando em mais vítimas civis, deslocamento e destruição de casas e outras infraestruturas civis.
O escritório da ONU confirmou relatos de incursões terrestres e combates pesados em Jabalia, no norte de Gaza, bem como em Deir al Balah, no centro de Gaza, e no leste de Rafah, no sul.
Segundo o Ocha, desde 15 de maio a passagem de Rafah está fechada. A passagem de Kerem Shalom está operacional, mas as condições logísticas e de segurança prevalecentes estão dificultando a entrega de ajuda humanitária em grande escala.
África do Sul versus Israel
Sobre a situação, o principal tribunal da ONU se preparou para ouvir uma nova solicitação da África do Sul para emitir mais restrições à ação militar israelense no enclave. Em um esforço para interromper a operação militar na cidade mais ao sul do enclave e em seus arredores, o país entrou com um novo pedido no tribunal superior da ONU, que deverá ser ouvido na quinta-feira.
Em sua última solicitação apresentada em 10 de maio, a África do Sul afirma que são necessárias medidas provisórias urgentes para garantir a sobrevivência dos palestinos em Gaza.
O texto ainda aponta que a “situação provocada pelo ataque israelense a Rafah e o risco extremo que ele representa para os suprimentos humanitários e serviços básicos em Gaza, para a sobrevivência do sistema médico palestino e para a própria sobrevivência dos palestinos em Gaza como um grupo, não é apenas uma escalada da situação prevalecente, mas dá origem a novos fatos que estão causando danos irreparáveis aos direitos do povo palestino em Gaza.”
Rafah, o último refúgio
A petição da África do Sul ainda afirma que Rafah é “o último refúgio” para os habitantes de Gaza. O texto ainda ressalta que a cidade é o “último centro viável” para abrigo e serviços básicos, incluindo atendimento médico.
De acordo com a solicitação do país, a tomada da travessia de Rafah pelos militares israelenses e o breve fechamento e os problemas contínuos de acesso à travessia de Kerem Shalom, nas proximidades, bloquearam os principais pontos de entrada de ajuda humanitária vital para Gaza.
A Corte Internacional de Justiça já havia emitido ordens especiais para Israel no final de janeiro, conhecidas como “medidas provisórias”, para evitar danos aos habitantes de Gaza, após a alegação da África do Sul de que Israel estava violando suas obrigações como signatário da Convenção de Genocídio.
Não houve nenhum pedido explícito para a interrupção imediata da operação militar em grande escala de Israel na Faixa de Gaza. Israel negou veementemente as alegações e deve responder à última solicitação da África do Sul na sexta-feira.