Quase 21 anos atrás, no dia 30 de junho de 2002, em Yokohama, no Japão, Brasil e Alemanha entravam em campo para decidir a Copa do Mundo.
Os brasileiros, sob o comando de Luiz Felipe Scolari, tinham um trio de zagueiros: Lúcio, Edmílson e Roque Júnior. Treinados por Rudi Völler, os alemães também atuaram com três beques: Linke, Ramelow e Metzelder.
Essa foi a única vez neste século que a final de uma competição de primeiríssima linha e badalada em todo o planeta (Copa do Mundo, Copa América e Eurocopa, no caso de seleções, e Champions League e Libertadores, no caso de clubes), contou com os dois rivais jogando dessa forma.
A segunda vez ocorrerá neste sábado (10), no confronto em Istambul (Turquia) entre o inglês Manchester City, favorito ao título da Champions, e a italiana Inter de Milão.
O sistema com três zagueiros (um 3-2-4-1 no caso do Man City de Pep Guardiola e um 3-5-2 no da Inter de Simone Inzaghi) não é o predileto dos treinadores da atualidade. A preferência é por uma linha de quatro defensores: dois laterais e dois zagueiros.
Como a tática com três zagueiros é pouco usada, foram poucas as equipes que tiveram êxito nas duas últimas décadas ao implementá-la.
Lembro-me do São Paulo de 2005 a 2008, campeão da Libertadores, do Mundial e três vezes do Brasileiro, e da Juventus de meados dos anos 2010, dominante na Itália e finalista da Champions de 2016/17, famosa com o trio Bonucci, Barzagli e Chiellini.
O Chile, sob a batuta de Jorge Sampaoli, hoje treinador do Flamengo, conquistou a Copa América de 2015, diante da Argentina de Messi, com três atrás (Silva, Diáz e Medel).
O Chelsea, em 2021, surpreendeu o Man City na decisão da Champions atuando com o trio defensivo Azpilicueta, Thiago Silva (depois Christensen) e Rüdiger.
Na Copa do Mundo do Qatar, somente 4 das 32 seleções atuavam com um trio na zaga. A Holanda é a que chegou mais longe: quartas de final. O Japão avançou até as oitavas, e Tunísia e Costa Rica pararam na fase de grupos.
O esquema com três zagueiros, que muitos veem como defensivo, na maior parte das vezes é o contrário.
Nessa formação, o mais comum é os treinadores escalarem dois laterais com a função primordial de atacar –na prática, tornam-se alas.
Assim, em vez de ter quatro atrás (dois laterais marcadores mais dois zagueiros), a equipe joga com três. É um sistema bastante apropriado quando o oponente atua com dois atacantes, pois cada zagueiro cuida de um e ainda há um na sobra, para dar cobertura.
Para a decisão da Champions, Guardiola deve escalar, para cuidar da marcação de Lautaro Martínez e Dzeko (ou Lukaku), a trinca Walker (lateral de origem), Rúben Dias e Akanji.
O treinador espanhol usa ainda dois volantes (Stones, zagueiro de origem, e Rodri), quatro meias ofensivos (De Bruyne e Gundogan mais centralizados e Bernardo Silva e Grealish bem abertos) e o centroavante Haaland.
Esse sendo o Man City, Inzaghi não teria necessidade de recorrer a três zagueiros (Darmian, Acerbi e Bastoni), pois há só um homem avançado no rival (Haaland).
Dois beques, teoricamente, dão conta. Usando três, o treinador perde gente na marcação mais à frente ante o criativo time inglês.
A Inter tem cinco no meio-campo, porém só um deles com pegada mais forte, o volante Barella. Os laterais-alas Dumfries e Dimarco e os meias Mkhitaryan e Çalhanoglu têm características predominantemente ofensivas.
O mais prudente seria iniciar a final com um volante a mais, considerando-se que deve ser um jogo do ataque do Man City contra a defesa da Inter, que tudo indica terá bem pouca posse de bola.
Como é quase certo de que não abrirá mão do seu trio de zagueiros (que estão entrosados), é possível que Inzaghi deixe Çalhanoglu no banco –ruim porque o turco é ótimo na bola parada, que pode ser decisiva– e comece com Brazovic, que une o estilo brucutu a bom passe e fôlego de sobra.
Dois volantes (Jorginho e Kanté) e três zagueiros funcionaram para o Chelsea campeão europeu ante o Man City dois anos atrás.
Nada garante que funcionará agora, até porque o time de Guardiola está afiadíssimo, mas me parece o correto a ser feito se a Inter quiser ter alguma chance de obter seu quarto título da Champions, evitando o primeiro do adversário.
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