Com relatos de ataques aéreos israelenses contínuos durante a noite no sul e centro de Gaza, e mais mísseis lançados de volta a Israel a partir do enclave, equipes da ONU afirmam que não é possível entregar ajuda para civis além das áreas centrais e mais ao norte nos últimos três dias.
No mais recente alerta sobre a situação humanitária das 1,9 milhão de pessoas deslocadas na Faixa, o escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, apontou “atrasos e recusas” e o conflito ativo pela falta de distribuição além de Wadi Gaza.
Medicamentos
Nesta quinta-feira, o Ocha explicou que os bloqueios impediram que a entrega de medicamentos que ajudariam mais 100 mil pessoas por 30 dias, além de oito caminhões de alimentos para aqueles que enfrentam insegurança alimentar catastrófica.
Segundo a ONU, a região de Wadi Gaza está isolada do sul por mais de um mês. O Ocha reiterou os apelos por acesso seguro, sustentável e sem impedimentos às áreas do norte do enclave.
O escritório adiciona que a situação de segurança, acesso, transporte e resolução permanece extremamente desafiadora, especialmente para hospitais nos governos do norte, indicando que muitos dos mesmos obstáculos físicos e administrativos que seguem dificultado o fluxo de comboios de ajuda.
Transferências de civis
O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, se pronunciou na quinta-feira sobre negociações entre autoridades do governo israelense e países terceiros para transferir civis de Gaza.
Ele expressou preocupação com as declarações e lembrou que 85% das pessoas em Gaza já estão deslocadas internamente. Além de terem o direito de retornar às suas casas, Turk ressaltou que o direito internacional proíbe a transferência forçada de pessoas protegidas dentro ou deportação de território ocupado.
Hospital atingido novamente
No sul de Gaza, a região onde fica o hospital Al-Amal, que foi bombardeada na terça-feira, deixando cinco mortos, foi novamente atingida diversas vezes na quarta-feira.
Segundo o Ocha, os números de vítimas não foram confirmados nos novos ataques na área do hospital administrado pela Sociedade do Crescente Vermelho Palestino.
A Organização Mundial da Saúde, OMS, confirmou que 13 caminhões “transportando suprimentos médicos cruciais para cirurgias e anestesia” chegaram a Gaza desde segunda-feira via cruzamento de Rafah, com o Egito.
O auxílio estava destinado ao Complexo Médico Nasser e a três outros hospitais no sul de Gaza – Al Aqsa, Al Awda e Hospital Europeu de Gaza – o suficiente para cerca de 142 mil pacientes.
Destacando a situação médica em toda Gaza, a OMS relatou que apenas 13 dos 36 hospitais de Gaza ainda estão parcialmente funcionais; nove no sul e quatro no norte.
Segundo a Ocha, um total de 105 caminhões carregados com alimentos, medicamentos e outros suprimentos entraram na Faixa de Gaza via cruzamentos de Rafah e Kerem Shalom na quarta-feira.
Famílias deslocadas continuam necessitando de suprimentos básicos, relatando “falta de itens essenciais, incluindo roupas infantis, fraldas, absorventes higiênicos nos mercados locais”.
Em toda Gaza, quase 1,4 milhão de pessoas estão abrigadas em 155 instalações administradas pela agência da ONU para palestinos, Unrwa, enquanto Rafah, no extremo sul, continua sendo o principal refúgio dos deslocados de Gaza, com cerca de 1 milhão de pessoas aglomeradas.
Saúde em Gaza
Na tentativa de conter a transmissão acelerada de doenças causadas por danos à infraestrutura de água e saneamento, a Unrwa anunciou na quarta-feira que trabalhará com o Unicef, OMS e outros parceiros para fornecer mais de 960 mil doses de vacinas para a Faixa de Gaza.
Serão administrados imunizantes para sarampo, pneumonia e poliomielite, complementando uma campanha anterior de imunização por parceiros humanitários no final de dezembro, envolvendo a entrega de mais de 600 mil doses de vacinas para Gaza.
Para ajudar a combater o risco de fome que “aumenta diariamente” entre a população de 2,2 milhões de Gaza, “que necessita urgentemente de assistência alimentar diária”, o Programa Mundial de Alimentos, PMA, disse que continua sendo imperativo interromper a deterioração da saúde, nutrição e fome, restaurando serviços públicos básicos.