Equador: Noboa reconhece ‘conflito armado’ contra cartéis – 09/01/2024 – Mundo – EERBONUS
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Equador: Noboa reconhece ‘conflito armado’ contra cartéis – 09/01/2024 – Mundo

O presidente do Equador, Daniel Noboa, assinou novo decreto nesta terça-feira (9) em que reconhece estado de “conflito armado interno” no país, lista e identifica 22 organizações criminosas como terroristas e ordena às Forças Amadas executar operações “para neutralizar” os grupos nomeados.

Entre essas facções está a Choneros, cujo líder, Fito, fugiu da prisão no domingo (7) e levou Noboa a decretar estado de exceção por 60 dias nesta segunda (8)— o novo decreto revisa este ao adicionar a lista de grupos e classificá-los como terroristas.

A fuga e o novo decreto desembocaram na noite desta segunda e madrugada de terça, quando o país viveu uma “noite de terror“, conforme descrição da imprensa local. Quatro policiais foram sequestrados e carros-bomba e outros explosivos foram detonados em atos aparentemente coordenados em que não houve vítimas.

Os sequestros ocorreram após Noboa, que enfrenta a primeira crise desde que assumiu a Presidência em novembro, decretar um estado de exceção de 60 dias em todo o país. A medida inclui um toque de recolher de seis horas entre 23h e 5h.

Na tarde desta terça, o caos na segurança do país continuou, com criminosos encapuzados invadindo a emissora TC, na cidade portuária de Guayaquil. Eles renderam apresentador e funcionários com armas e granadas em mãos durante transmissão ao vivo, que em seguida saiu do ar.

No vídeo é possível ver o bando gritando contra a polícia, e profissionais da emissora deitados, além de sons que parecem ser de tiros.

Um dos funcionários que estava no local durante o ataque enviou a um repórter da agência de notícias AFP uma mensagem em que dizia: “Entraram aqui para nos matar”. A ameaça ao vivo durou cerca de 30 minutos, até que ocorreu a entrada das forças de segurança no local.

Alguns dos presentes, que ligavam incessantemente para os números de emergência da polícia, relataram que havia ao menos dez homens encapuzados na gravação do telejornal El Noticiero.

Outros homens armados invadiram a Universidade de Guayaquil nesta terça-feira, segundo imagens nas redes sociais e relatos na imprensa local —vídeos mostram estudantes correndo assustados pelo campus e outros alunos e professores se refugiando em salas de aula. O Ministério da Educação suspendeu as aulas em todo o país até o próximo dia 12.

A Assembleia Nacional anunciou resoluções adotadas em conjunto pelas bancadas de diferentes colorações políticas em apoio ao Executivo e às medidas de segurança anunciadas por Noboa. Entre elas, o Legislativo afirmou que adotaria indultos e anistias a policiais e militares em casos que forem julgados necessários para o combate ao narcotráfico.

O ex-presidente esquerdista Rafael Correa, que governou o país de 2007 a 2017 e apoiou no pleito do ano passado a candidata derrotada por Noboa, declarou “total e irrestrito respaldo” ao presidente, pediu que ele “não ceda” e que discutiriam “erros e discrepância política no dia seguinte à vitória”.

“O país vive um verdadeiro pesadelo, algo impensável há pouco tempo e fruto da destruição sistemática do Estado de direito, dos erros e do ódio acumulados nesses últimos sete anos. Hoje é momento de união nacional. O crime organizado declarou guerra ao Estado, e o Estado deve prevalecer”, disse Correa, que vive fora do país sob risco de ser preso ao retornar devido a uma condenação por corrupção.

Ao declarar o estado de exceção na segunda-feira, Noboa afirmou que a medida permitiria que as Forças Armadas interviessem no sistema prisional equatoriano. “Não negociaremos com terroristas nem descansaremos enquanto não devolvermos a paz aos equatorianos”, afirmou em vídeo publicado nas redes sociais.

Além de fugas como a do líder da Choneros, as penitenciárias equatorianos vivem atualmente em estado de conflito constante, com motins e confrontos que resultam em dezenas de mortes e sequestros de agentes de segurança.

No decreto desta segunda, anterior ao reconhecimento do conflito armado interno, as Forças Armadas já haviam sido acionadas para se somar às ações da polícia nacional. A novidade foi o reconhecimento do estado de “conflito armado interno”, a listagem das fações reconhecidas como terroristas e a deliberação para que o Exército execute operações militares contra os grupos declarados.

O presidente anunciou na semana passada que construirá duas prisões de segurança máxima —semelhantes às que o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, mandou construir em sua guerra contra as gangues— nas províncias de Pastaza (leste) e Santa Elena (sudoeste) para isolar os prisioneiros mais perigosos.

Noboa tomou posse em novembro como presidente do Equador com um discurso punitivista que envolveria a criação de “navios-presídio” e prometendo reduzir a violência em um país assombrado por seguidas crises de segurança, entremeadas com crise econômica persistente, que se espalharam dos presídios para as ruas e chegou a seu ápice com o assassinato a tiros do presidenciável Fernando Villavicencio após evento de campanha em Quito, em agosto.

O crescimento da violência foi vertiginoso. Em 2022, a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes foi de 25,9, índice que, cinco anos antes, em 2017, havia atingido o menor patamar em anos, com 5,8.

Espremido entre Peru e Colômbia, os maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador funciona como entreposto de exportação para a droga por via marítima e viu facções internas se associarem ao crime transnacional enquanto dominaram os presídios locais.

Nos últimos anos, o cultivo e a demanda pela cocaína atingiu níveis recordes no mundo, segundo as Nações Unidas, o que impactou também a distribuição e abriu novas rotas para o narcotráfico. Em um ano, 210 toneladas de drogas foram apreendidas no Equador, também um recorde.

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