Quando o Brasil assumiu a presidência do G20, em dezembro passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convidou oito países e algumas organizações internacionais para participarem das reuniões do Grupo dos Vinte. Cada convite mirou uma estratégia do governo, que decidiu priorizar a transição energética e as relações com a África.
Lula pôs na lista Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Nigéria, Noruega, Portugal e Singapura, além da Espanha, que é convidada permanente. Também foram chamadas entidades como BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional), ONU, Unesco, OMS (Organização Mundial de Saúde), OMC (Organização Mundial do Comércio) e OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Todos esses países e instituições vão participar das reuniões do grupo, sejam elas ministeriais ou técnicas, que acontecerão ao longo do ano em cidades brasileiras. Isso inclui o principal encontro do G20, que é a cúpula de chefes de Estado, a ser realizada no Rio, em novembro.
Pela questão energética, Lula escolheu os Emirados Árabes Unidos e a Noruega. O primeiro é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e uma potência do Oriente Médio. O segundo é um parceiro estratégico para o Brasil. O país nórdico é o maior produtor de petróleo e gás natural da Europa Ocidental e, ao mesmo tempo, atua como um dos principais incentivadores da transição energética e sustentável. Inclusive, nesse segundo ponto, o Brasil tem interesse em fortalecer as parcerias da Petrobras com a Noruega.
Os noruegueses são, também, os principais doadores do Fundo Amazônia. Gerido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), capta doações para preservação e monitoramento da floresta amazônica.
Ao escolher três países africanos —Angola, Egito e Nigéria—, Lula reitera sua defesa de trazer uma maior participação do continente para o G20. O presidente deu esse mesmo recado ao participar da Cúpula da UA (União Africana), na semana passada, na Etiópia.
Este ano marca a estreia da UA como membro permanente do grupo. Além dela, só a África do Sul participa do fórum entre os representantes africanos.
A questão geográfica pesou para a escolha de Singapura. Se acordo com diplomatas ouvidos pela Folha, Lula não quis concentrar os convidados em apenas uma região ou continente. Por isso, decidiu chamar o país asiático, uma das principais economias do continente e um centro importante de tecnologia na região.
Singapura também é um relevante parceiro comercial, com superávit de US$ 7,4 bilhões para o Brasil em 2022. Além disso, o país asiático fechou recentemente um acordo com o Mercosul.
Por fim, Portugal foi indicado pelas suas relações históricas e culturais com o Brasil. O convite também busca fortalecer os vínculos entre países lusófonos. Neste mesmo sentido, também foi convidada a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).
Em relação às entidades, como ONU, FMI e Banco Mundial, o interesse maior de Lula é trazer os organismos internacionais para dentro do debate da reforma da governança global —um dos pilares da presidência do Brasil no G20.
O presidente defende que mais países emergentes tenham participação nas decisões desses órgãos, principalmente para melhorar as discussões sobre as dívidas de países em desenvolvimento.
“Não é possível que as instituições de Bretton Woods, Banco Mundial, FMI, e tantas outras instituições financeiras continuem funcionando como se nada estivesse acontecendo no mundo, como se estivesse tudo resolvido”, afirmou Lula, quando assumiu a presidência do G20. “A insustentável dívida externa dos países mais pobres precisa ser equacionada. A Organização Mundial do Comércio tem de ser revitalizada”.
Com relação à ONU, um dos pontos criticados por Lula é o Conselho de Segurança, que tem apenas cinco membros permanentes com poder de veto (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido). O presidente defende que o número de cadeiras no órgão aumente. Ele afirma ainda que as Nações Unidas não têm sido capazes de conter os conflitos internacionais e cita como exemplo as guerras em Gaza e na Ucrânia.
Mercosul fora das discussões econômicas
Durante a cúpula do Mercosul, também em dezembro, Lula anunciou que convidaria os países do bloco a participarem das reuniões do G20. A inclusão de Uruguai, Paraguai e Bolívia, no entanto, se restringiu apenas à reunião dos chanceleres —a Argentina, também integrante do Mercosul, já é membro do G20.
As três nações sul-americanas não vão participar das demais reuniões do G20 a não ser que recebam um novo convite. Não estarão, portanto, no encontro com os ministros de Finanças e presidentes dos Bancos Centrais do fórum, que ocorre na semana que vem, em São Paulo.
Segundo integrantes do Itamaraty, trazer o Mercosul para dentro das discussões políticas, que permeiam as reuniões com os chefes da diplomacia, fortalece o continente como um todo. Contudo, os três países da região teriam pouco a agregar nos debates econômicos. Por isso, foram deixados de lado.
Não há um limite formal para o número de convidados ao G20, embora se espere bom senso do anfitrião. A ideia é levar países e organismos internacionais que façam sentido ao que será debatido durante a cúpula e as demais reuniões do grupo.
A presidência brasileira vai até novembro, quando passará o comando para a África do Sul.