Qualquer pessoa que já empreendeu, ou conhece alguém que decidiu tocar o próprio negócio, sabe que a quantidade de trabalho a ser feita é imensa. Isso vale para empresas de todos os tamanhos, de startups a grandes corporações; as atividades podem mudar, mas o peso só aumenta. Por isso, não é difícil ouvir histórias de jornadas diárias de 10, 12 ou até 15 horas.
Daí vem o termo que ouvimos com frequência nas redes sociais – workaholic: a pessoa viciada em trabalhar. É o que parece, de fora, e muitas vezes é o que cada profissional acredita sobre si também. Mas eu não acho que esse seja sempre o caso, e é melhor mesmo que não seja, porque é um caminho perigoso que pode levar a sérios problemas em outras áreas da vida.
Ainda que sempre exista mais trabalho a ser feito, será que tudo é tão urgente que não pode esperar? Há uma correria constante nos rodeando, hoje em dia mais do que nunca, com o modo como estamos sempre conectados.
Para muita gente, trabalhar mais e descansar menos é a matemática óbvia
Para quem tem diversas responsabilidades, é inevitável que elas se acumulem por todos os canais — no e-mail, no WhatsApp, na intranet, nas reuniões, durante o café, na hora de ir para casa e na hora de chegar ao escritório.
Nem sempre a própria pessoa empreendedora é a “culpada” por tentar resolver todas as questões ao mesmo tempo. Isso pode vir de uma pressão de terceiros, como investidores, por exemplo. É particularmente comum em startups, quando há uma expectativa irreal de que o negócio vá se transformar no próximo unicórnio em tempo recorde.
Assim, para tentar atender ao cenário previsto, decide-se que trabalhar mais e descansar menos é a matemática óbvia. Não é.
O burnout não escolhe vítimas e, quando a saúde começa a declinar, não há força de vontade que aguente. Além disso, uma rotina workaholic impacta a vida social, com a família, os momentos de lazer e os hobbies. Tudo isso pode facilmente se transformar em um monstro para a saúde mental. Depois, não adianta tentar manter o mesmo ritmo de trabalho: o corpo e a mente decidem por você.
É claro que, às vezes, as pessoas se encontram nessa situação sem que necessariamente existam pressões externas ou urgências de verdade. Quando se torna uma mentalidade engrenada, começa a rodar no automático: você vê um e-mail e sente que precisa responder, e depois outro, e outro, mesmo tendo total consciência de que eles podem esperar o dia seguinte.
Lutar contra essa mentalidade é importante, não apenas pelos motivos de saúde já citados, mas também porque liderar de forma estratégica envolve a definição correta de prioridades. E se tudo é prioritário, nada realmente é.
Empreender nunca será fácil, mas pode ser bem organizado e equilibrado. Se os recursos da empresa são limitados, e frequentemente são, é preciso tomar mais cuidado com as metas e compromissos assumidos. É melhor mirar mais baixo no começo do que errar o alvo completamente.
O planejamento, tanto das atividades quanto do estratégico, é fundamental para o sucesso. Ter clareza de onde se quer chegar, como chegar lá e o que precisa ser feito é crucial para organizar as tarefas do dia a dia sem sobrecarregar a equipe.
Conhecer bem o seu time, entendendo suas forças e lacunas, evita expectativas irreais e a sobrecarga de trabalho, resultando em melhores resultados de forma mais consistente, sem “soluços” de produtividade.
Sempre haverá aquele dia em que trabalhamos até mais tarde, cheio de reuniões e decisões, e não é um problema. Essa só não pode ser a regra, pelo menos se o objetivo é longevidade do negócio. Lembre-se: empreender é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. É possível, sim, se organizar para não se tornar um workaholic.
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*Andréa Migliori, CEO da Workhub, uma HRTech de soluções para portais corporativos, pioneira no segmento a incorporar inteligência artificial aos seus serviços.