Integrantes do governo Lula (PT) esperam uma reunião com membros da embaixada da Venezuela no Brasil nos próximos dias.
O encontro deve ocorrer após o presidente brasileiro mudar de postura diante do regime de Nicolás Maduro no país vizinho e criticar o impedimento da candidatura de Corina Yoris, opositora ao chavismo, nas eleições de julho na Venezuela.
Auxiliares de Lula no Palácio do Planalto têm mantido contato com representantes de Maduro e, como mostrou a Folha, chegaram a avisá-los que a mudança era iminente caso Yoris, contra quem não há nenhuma decisão judicial, fosse barrada da disputa —o nome da professora universitária foi indicado por María Corina Machado que, principal líder da oposição do país, está inabilitada a concorrer por 15 anos.
Na segunda (25), porém, último dia do prazo para os partidos inscreverem seus candidatos no pleito, a sigla de Yoris disse que seu nome simplesmente não era aceito pelo sistema. A legenda acabou inscrevendo um candidato provisório para não perder seu lugar no pleito, marcado para 28 de julho.
Nesta semana, integrantes da embaixada venezuelana mandaram recados a assessores do Planalto dizendo que gostariam de agendar uma conversa. Há a expectativa de que o embaixador Manuel Vadell formalize o pedido de reunião na próxima semana com o assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim.
Auxiliares de Lula dizem que o governo fará o possível para recebê-lo e que não há problemas na relação com Caracas.
Nesta quinta (28), o presidente chamou de grave o veto da Venezuela à candidatura de Yoris e afirmou que não havia justificativa política ou jurídica para se proibir um adversário de disputar eleições.
“Eu fiquei surpreso com a decisão [de bloquear Yoris]. É grave que a candidata não possa ter sido registrada. Ela não foi proibida pela Justiça”, declarou Lula. “Foi uma coisa que causou prejuízo a uma candidata.”
A declaração de Lula, feita em encontro com jornalistas, se deu dois dias depois de Itamaraty publicar um comunicado com teor semelhante. Com ela, o governo enviou um sinal de que o presidente concorda pessoalmente com as repreensões ao regime chavista, algo tratado como relevante por diplomatas brasileiros uma vez que a resposta venezuelana, agressiva, havia sugerido uma divisão de postura entre a chancelaria e o chefe do Executivo.
Em nota, o Itamaraty tinha afirmado acompanhar “com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral” no país, marcando uma inflexão na postura até então adotada por Lula em relação ao regime do ditador Nicolás Maduro, de preservar o aliado sul-americano.
“O Brasil reitera seu repúdio a quaisquer tipos de sanção que, além de ilegais, apenas contribuem para isolar a Venezuela e aumentar o sofrimento do seu povo”, dizia, por outro lado, o texto.
Ao menos outros sete países da América Latina (Argentina, Uruguai, Peru, Paraguai, Costa Rica, Equador e Guatemala) já haviam expressado “grave preocupação” com o impedimento da candidatura na segunda, em uma nota conjunta. O Brasil tinha decidido aguardar o fim do prazo eleitoral para se pronunciar.