O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, voltará à Casa Branca com uma série de vitórias para chamar de suas. Será reconduzido ao cargo em janeiro com o melhor desempenho do Partido Republicano nas urnas em 20 anos e com maiorias no Legislativo, nos governos estaduais e na Suprema Corte.
Além disso, será lembrado como o principal responsável por uma guinada expressiva à direita no país. Mesmo após um governo conturbado, o ex-presidente conseguiu avançar sobre cidades e eleitorados antes considerados monopólios do Partido Democrata —do atual presidente, Joe Biden, e de sua vice agora derrotada, Kamala Harris.
Para começar, ele angariou o apoio da maioria da população (50,7% dos votos populares), marca que nenhum candidato de seu grupo político conseguiu atingir depois de George W. Bush, em 2004. E ainda teve uma vitória mais folgada que a do antecessor, de três pontos percentuais.
Trump chegou lá conquistando cinco dos estados-pêndulo que já concluíram a apuração (Geórgia, Michigan, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin) e está bem à frente nos dois que ainda não terminaram a contagem (Arizona e Nevada). Há pelo menos três eleições um candidato não obtém uma vitória assim, em todos os estados-chave.
Além dessas áreas, ele progrediu em grandes cidades onde democratas costumavam ganhar por mais de 50 pontos percentuais de vantagem, caso de Chicago, Los Angeles, Nova York e a vizinha Jersey City, no estado de Nova Jersey.
Outro reduto adversário que Trump conseguiu virar foi o sul do Texas, conquistando 12 dos 14 condados ao longo da fronteira com o México e fazendo avanços significativos até mesmo em El Paso, a maior cidade dessa região. Em 2016, ele havia vencido em apenas cinco.
Seu apoio na região é o exemplo mais marcante do deslocamento de parte dos eleitores hispânicos (que são 15% do total e só crescem) e da classe trabalhadora ao republicano. Trump teve o maior apoio de seu partido entre o eleitorado latino desde 1976, início da série histórica das pesquisas de boca de urna.
Isso após uma campanha marcada por ataques a imigrantes, acusados pelo republicano de “envenenar o sangue da nação” e frequentemente associados, a despeito das evidências, à criminalidade. Há uma certa diferenciação cultural no país por parte dos que se consideram americanos latinos em relação aos estrangeiros que acabam de chegar, o que foi explorado pela campanha Trump.
Quando considerados apenas homens latinos, o ex-presidente conseguiu virar o jogo. Depois de perder o grupo por uma margem de 23 pontos na disputa de 2020, ele agora venceu com uma folgada diferença de 12 pontos percentuais.
Com um discurso predominantemente masculino, Trump também reduziu a desvantagem entre homens negros, o que lhe deu uma média de cinco pontos percentuais a mais entre negros em geral, se comparado a oito anos atrás. Nesse período ele quase triplicou seus votos no bairro do Bronx, em Nova York, de 38 mil para 92 mil.
Nessas eleições, o Partido Republicano ainda conseguiu recuperar o controle do Senado, pelo menos pelos próximos dois anos, depois de perder sua maioria em 2020. Seu partido, que já ocupava 38 cadeiras que não estavam em disputa, elegeu até o momento 15 senadores. Tem, assim, 53 assentos, acima dos 51 considerados maioria na Casa.
Já na Câmara, ainda não se sabe quem terá o controle, com a apuração a passos lentos em 25 distritos, a maioria nos estados da Califórnia e Arizona. Mas, até a noite desta sexta (8), os republicanos haviam conseguido 212 cadeiras, contra 199 dos democratas, estando a seis vagas de formar maioria.
Os resultados estaduais também formam um cenário favorável à legenda, que manteve 27 dos 50 governadores. Entre os 11 estados que estavam em disputa, os republicanos ganharam em 8, contrariando pesquisas que indicavam a possibilidade de virada em New Hampshire e Indiana. O mapa, portanto, continuou igual.
Além do Legislativo e dos governadores, ao vencer, Trump garantiu a chance de assegurar o predomínio das indicações do seu partido na Suprema Corte por décadas. Após provocar uma guinada à direita no Tribunal, com três nomeações em seu primeiro mandato (2017-2021), agora há ao menos duas potenciais indicações em jogo.
Essa maioria conservadora foi o que permitiu, por exemplo, que a Suprema Corte revertesse a decisão histórica de Roe vs. Wade, que garantia o direito ao aborto em âmbito nacional. O tema era uma das principais armas da campanha de Kamala contra Trump, que desviou do assunto ao dizer que deixaria as decisões a cargo de cada estado.