Em 2015, Barack Obama concedeu entrevistas a três estrelas do YouTube, uma das quais era conhecida por comer cereais numa banheira. Foi um momento que abriu a janela para uma nova fase da comunicação, posterior à mídia tradicional como a conhecemos —ao mesmo tempo, fez esse futuro parecer absurdo.
Um ano depois, Donald Trump venceu as eleições para a Casa Branca, e houve uma corrida para encontrar as fontes de sua vitória nos cantos mais sombrios da internet, em fábricas de desinformação e fazendas de trolls. Foi mais uma abertura para o que viria a ser a mídia —mas desta vez parecia um futuro distópico, reino de propaganda e manipulação.
Em 2024, o futuro da mídia não é obscuro: para a geração mais jovem de consumidores de notícias, ele basicamente chegou. Mas não é incorporado por youtubers que comem cereal, operações de desinformação financiadas pela Rússia ou mesmo a censura progressista imposta pelo Vale do Silício que muitos conservadores temiam há quatro anos.
Em vez disso, é incorporado pelo podcaster de sexo e relacionamentos e pelos comediantes que conseguiram entrevistas importantes com Kamala Harris e Trump —com a apresentadora do podcast “Call Her Daddy”, Alex Cooper, fazendo perguntas à democrata sobre aborto e empréstimos estudantis, enquanto os comediantes Andrew Schulz e Akaash Singh conversavam com o republicano sobre sua estratégia de apelidos em seu programa, “Flagrant”.
Como conservador com interesse no declínio moral, eu estava familiarizado com “Call Her Daddy”, mas confesso que nunca tinha ouvido falar de “Flagrant” antes que trechos da entrevista com Trump começassem a aparecer em meu feed nas redes sociais. O que é comum nesta campanha: os candidatos e seus companheiros de chapa têm consistentemente concedido entrevistas a programas e personalidades que mal estavam no meu radar.
Há um impulso para interpretar esses recém-chegados da mídia como reinvenções da estrutura midiática anterior. Mas isso parece em grande parte errado.
Sim, a estrutura emergente tem espaço para algumas grandes estrelas. Mas quase todo mundo é muito mais de nicho, parte de um caleidoscópio de pequenas luzes que são regularmente giradas pelos algoritmos personalizados das redes sociais, de modo que as pequenas luzes muitas vezes aparecem como os pontos de uma única cena, postagem ou trecho viral.
Dentro deste caleidoscópio, algumas audiências tenderão mais para a direita ou para a esquerda, às vezes para um extremo paranoico. Mas grande parte do conteúdo é despolitizado, especialmente em relação a um jornal diário ou a um telejornal no passado. Então, quando você faz divulgação nesses espaços, você não está pregando para um público como da Fox News, mais conservador, ou o MSNBC, parte da NBCUniversal e mais progressista. .
Nem uma aparição em “Call Her Daddy” é equivalente a Richard Nixon aparecendo no programa de comédia “Laugh-In” ou Bill Clinton tocando saxofone no talk show “The Arsenio Hall Show”.
Naquela época, a ideia era usar mídia não política para mudar percepções estabelecidas por jornais ou noticiários. Mas para as audiências mais jovens que Trump e Kamala querem alcançar, pode não haver uma percepção de política além da que os permeia por meio de seus feeds do TikTok e do YouTube.
Este futuro é, como sempre, distribuído de forma desigual. Ainda há uma grande parcela de americanos mais velhos que experimentam a política por meio de um jornal diário, “60 Minutes” ou “Face the Nation”. Há uma parcela de americanos, os partidários comprometidos e os ávidos por informações, que sempre serão uma audiência para operações de mídia nacionais.
Mas à medida que o primeiro grupo envelhece ainda mais, a estrutura mais antiga se tornará cada vez mais um nicho por si só, uma pequena constelação no panorama maior e mais estranho.
Algumas empresas proeminentes irão perdurar, uma versão muito diminuída da mídia tradicional, mas grande parte da indústria será uma vasta terra incógnita de estrelas do YouTube, podcasters e comunidades de mídia social, por meio das quais ondas algorítmicas varrem misteriosamente para frente e para trás.
Este é um futuro sombrio? Não em todos os aspectos. A terra incógnita provavelmente será menos vulnerável ao pensamento de grupo estabelecido do que a ordem que está substituindo, e suspeito que será menos vulnerável à malícia manipuladora do que muitos liberais esperam atualmente: a propriedade do Twitter (transformado em X) ou do Google importará nas margens, mas no final, mesmo Elon Musk está preso competindo com inúmeros criadores de conteúdos rivais.
Por outro lado, o novo mundo será extremamente online, com tudo o que isso implica —mais autodidatas, monomaníacos e vigaristas, mais antissemitismo e racismo, mais rumores selvagens e menos concordância sobre características básicas da realidade, alguns refúgios de alta cultura, mas uma predominância geral de baixa cultura.
E a nova paisagem quase certamente será mais misteriosa, menos legível, tornando mais difícil para colunistas de jornais generalizar e para campanhas criarem estratégias.
Um debate de 90 minutos importa mais do que os vídeos virais que ele produz? Um grande discurso mais do que uma aparição de nicho que atinge um ponto doce? O que o público realmente sabe? Que ideias os alcançam?
E, finalmente, uma pergunta que faremos cada vez mais: quem são essas pessoas e por que estão entrevistando nossos candidatos presidenciais?
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