Quase 80% dos eleitores da cidade de São Paulo dizem acreditar que as eleições na Venezuela do último dia 28 podem ter sido fraudadas, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Datafolha com 1.092 pessoas entre os dias 6 e 7 e divulgada nesta segunda-feira (11).
O instituto fez a pergunta aos habitantes junto com outras sobre a intenção de voto para prefeito na capital. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
O ditador Nicolás Maduro foi declarado vencedor do pleito pelo órgão eleitoral venezuelano, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), horas depois do fechamento das urnas. Segundo o conselho, que é controlado pelo chavismo, o líder teria obtido 52% dos votos, contra 43% da oposição.
Mas o resultado é contestado pelos adversários do regime e organizações independentes e não foi reconhecido por grande parte da comunidade internacional —incluindo o Brasil que, como outros países, pede a divulgação das atas eleitorais que comprovariam a vitória do regime.
Parte do rito eleitoral venezuelano, esses documentos permitem cruzar o total de votos computados e a quantidade de votos que cada candidato recebeu em uma determinada mesa.
A líder da coalizão antichavista, María Corina Machado, e o representante do grupo nas urnas, o ex-diplomata Edmundo González, afirmam ter conseguido coletar mais de 80% dessas atas. Os papéis, que foram disponibilizados na internet, dão vitória a González, que teria obtido 67,2% dos votos contra 30% de Maduro.
Uma checagem das atas realizada pelo projeto independente MOE (Missão de Observação Eleitoral), da Colômbia, constatou que há “sérios indícios” da integridade das cópias virtuais divulgadas pela oposição. A MOE analisou o código QR de uma amostra das atas e observou que todas as informações dos documentos físicos correspondiam às do código, tornando uma fraude muito improvável.
O Datafolha fez aos entrevistados a seguinte pergunta: “Na sua opinião, as eleições [na Venezuela] ocorreram de forma normal ou pode ter ocorrido fraude?”. Além dos 79% que viram possível fraude, apenas 8% disseram que o pleito ocorreu de forma normal, e 13% não souberam responder.
Na divisão por escolaridade, a parcela da população com ensino superior que vê eventual fraude é de 85%, contra 74% daquela que tem somente o fundamental completo.
Entre os recortes relacionados a orientação partidária, os eleitores que se declaram bolsonaristas são os que mais acreditam em potencial fraude —89% responderam nesse sentido.
O instituto também mediu o quanto o eleitor da cidade de São Paulo se sente informado sobre o que acontece no país vizinho. Dos entrevistados, 24% disseram que se sentem bem informados, 31% mais ou menos informados e 12% mal informados. Por fim, 33% disseram não ter tomado conhecimento dos resultados da eleição venezuelana.
O Brasil não reconheceu nem a vitória de Maduro nem a de González, que na segunda-feira (5) assinou uma carta como presidente eleito da Venezuela.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a dizer que não via “nada de grave, nada de anormal” no resultado das eleições no país vizinho.
O Itamaraty segue, porém, insistindo na divulgação detalhada dos resultados por parte do regime, trabalhando junto com outras grandes economias da região, como Colômbia e México, por uma solução negociada para o impasse entre Maduro e a oposição.
Na sexta (9), o ditador descartou qualquer negociação com María Corina. “O único que tem que negociar neste país com [María Corina] Machado é o procurador-geral. Que ela se entregue à Justiça, encare os fatos e responda pelos crimes que cometeu. De verdade, esta é a única negociação que cabe aqui”, disse o líder chavista à imprensa em frente ao Supremo Tribunal da Venezuela.
Neste domingo (11), a líder da oposição, por sua vez, convocou novas manifestações para o próximo sábado, 17 de agosto.
“Neste sábado, vamos sair às ruas da Venezuela e do mundo, onde houver um venezuelano lá estaremos juntos […] Vamos gritar para que o mundo apoie a nossa vitória e reconheça a verdade e a soberania popular”, disse María Corina em vídeo divulgado nas redes sociais.
“Lembre-se, vencemos, a Venezuela venceu […] Nos vemos no dia 17”, acrescentou González.
O resultado anunciado pelo CNE gerou protestos que deixaram 24 mortos, segundo organizações de direitos humanos, e mais de 2.200 detidos, de acordo com o próprio Maduro, que os chamou de “terroristas” e anunciou a criação de duas prisões de segurança máxima para eles.