Um fenômeno meteorológico comum na Terra, e descoberto também em Vênus há dez anos, a chamada “glória” foi detectado pela primeira vez em um planeta fora do nosso sistema solar. Parecido com um arco-íris, embora menor e com cores mais sutis, o efeito ocorre quando a luz incide sobre nuvens compostas por gotículas perfeitamente esféricas.
Esse detalhe chamou mais ainda a atenção dos observadores, uma vez que o mundo em questão, além de ser um exoplaneta, exibe condições infernais, com temperaturas diurnas superiores a 2,4 mil graus Celsius. Portanto, se essas gotículas são de chuva, trata-se de uma precipitação de ferro derretido sobre o planeta.
Não é por acaso que nenhuma glória extrassolar tenha sido vista antes, pois o fenômeno requer condições muito específicas, diz Olivier Demangeon, astrônomo do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço de Portugal, e primeiro autor do estudo. Além das partículas, “a estrela próxima do planeta precisa brilhar diretamente para ele, com o observador — aqui [a sonda] Quéops — exatamente no ponto orientação correta”.
Como a glória foi observada no exoplaneta WASP-76b?
Vistas simuladas da glória em Vênus e na Terra.Fonte: ESA
Pode-se dizer que WASP-76b é o “queridinho” dos cientistas planetários. Isso porque, além de orbitar uma estrela branco-amarelada parecida com o Sol, ele está a “apenas” 640 anos-luz da Terra. Mas as coincidências param por aí, uma vez que o exoplaneta é gigantesco (1,85 vez o tamanho de Júpiter) e descreve uma órbita em torno de sua estrela de apenas 1,8 dia.
Isso faz com que a temperatura de milhares de graus Celsius de sua superfície consiga vaporizar literalmente o ferro, que acaba formando nuvens metálicas em volta do planeta.
Foi em uma de milhares de observações que a sonda CHaracterising ExOPlanet Satellite (Cheops), da ESA, flagrou um excesso de brilho no terminador oriental do planeta, identificado como um efeito glória.
Qual a importância da primeira glória em um exoplaneta?
Impressão artística do lado noturno do WASP-76b, “frio” o bastante para produzir chuva (de ferro).Fonte: ESA
Como o efeito glória de WASP-76b vem sendo analisado ao longo de 23 observações realizadas em três anos, é possível afirmar, com um certo grau de certeza, que essas gotículas esféricas estão presentes nas nuvens do exoplaneta, ou sendo constantemente reabastecidas. Isso significa temperaturas atmosféricas estáveis a longo prazo.
Se esse efeito de halo for mesmo uma grande glória, os cientistas terão uma trilha importante para detectar o mesmo fenômeno em outros planetas distantes. Isso inclui o reflexo de estrelas brilhando em oceanos e lagos líquidos, como ocorre aqui na Terra, como possíveis sinais de habitabilidade.
Conforme o artigo, publicado recentemente na revista Astronomy & Astrophysics, futuras observações estão sendo agendadas para refinar as descobertas atuais. Segundo a ESA, “acompanhamentos do instrumento NIRSPEC a bordo do Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA/CSA poderiam fazer exatamente o trabalho”.
Gostou do conteúdo? Então, fique por dentro das últimas descobertas astronômicas como essa aqui no TecMundo e aproveite para conhecer também o exoplaneta com chuva de areia.