“Para nós não importa idade, não importa clube, não importa qualquer outra situação que não seja o momento de cada atleta, a condição em que esteja e a entrega que possa apresentar.”
No começo da entrevista na sede da CBF, no Rio, em que respondeu a questionamentos de jornalistas acerca da convocação da seleção brasileira para dois amistosos e a Copa América, Dorival Júnior assim justificou a formação da lista.
Só que isso, “momento” e “condição” atuais, não são verdades completas. Em relação à ampla maioria, sim, porém percebe-se a presença de nomes que, de acordo com esses critérios, não deveriam aparecer –não agora.
Cito três: os zagueiros Éder Militão (Real Madrid) e Beraldo (Paris Saint-Germain) e o atacante Gabriel Martinelli (Arsenal).
Considero, frise-se, esses jogadores muito bons, e Militão, 26, tem a vantagem de atuar, caso necessário, na lateral direita, com eficiência.
O beque do Real Madrid, entretanto, está longe de estar em um momento bom depois de uma longa recuperação de lesão no joelho que o deixou meses afastado do futebol.
Ainda fora de sua melhor condição física e técnica, o ex-são-paulino está voltando aos poucos ao supertime comandado por Carlo Ancelotti, finalista da Champions League.
Mais um ex-são-paulino, Beraldo, 20, é outro que, apesar de ter atuado em alguns jogos como titular do PSG, serve mais como opção de banco –o técnico Luis Enrique prefere Marquinhos e Lucas Hernández.
O ponta-esquerda Martinelli, 22, fora do Brasil desde 2019 (defendia o Ituano-SP), perdeu essa posição no Arsenal, que luta pelo título do Campeonato Inglês contra o Manchester City, para o belga Trossard na equipe dirigida por Mikel Arteta.
Assim como Militão, Beraldo e Martinelli estão distantes do melhor momento. Há outros em suas posições mais merecedores, hoje, de estar na seleção.
Na zaga, Bremer (Juventus, da Itália) e Fabrício Bruno (Flamengo), por exemplo. Este último, inclusive, jogou bem nos amistosos de março diante de Inglaterra (vitória) e Espanha (empate).
No ataque, até porque Dorival chamou outros pontas pela esquerda (Vinicius Junior e Savinho), por que não levar, em vez de Martinelli, um centroavante como Pedro (Flamengo), já que não há um homem de área na lista?
Ou então Paulinho, do Atlético-MG, que depois de perder rendimento está bem novamente? Ou Junior Santos, do Botafogo, que tem brilhado na Libertadores?
Meu entendimento é que Dorival não considera somente o momento do atleta para levá-lo para a seleção. Há outros fatores envolvidos, e OK considerá-los.
Em relação a Militão, além de ter experiência de Copa do Mundo (Qatar-2022), o treinador acredita que, como ainda faltam algumas semanas para os amistosos contra México e EUA, e mais de um mês para o início da Copa América, o jogador poderá estar em ótima forma.
Em relação a Beraldo, trata-se claramente de uma questão de crédito. O jogador esteve sob comando de Dorival no São Paulo, ajudou muito na conquista da Copa do Brasil de 2023. O técnico confia plenamente no futebol dele.
Em relação a Martinelli… A mim, falta explicação contundente, gostaria de ter uma do Dorival. O histórico de ter participado de uma Copa ajuda? Possível. Estar no futebol inglês, o mais badalado da atualidade, ajuda? Provável.
Mas, no Qatar, o papel dele foi irrelevante. E, na Inglaterra, uma temporada de altos e baixos, bem inferior à anterior, não contribui para propagandeá-lo.
Nesse caso, longe da boa fase e sem um currículo sólido/convincente, fica difícil justificar. Resta concluir que, relendo a frase do início deste texto, Martinelli seja um jogador de “entrega” excepcional.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.