Embora haja um aumento das preocupações mundiais sobre um eventual derretimento das calotas polares devido ao aquecimento global, pouco se fala sobre a presença de grandes massas de lava, detectadas por estudos geofísicos sob algumas geleiras da Antártida Ocidental.
Para melhorar a compreensão até então limitada sobre aquela área do planeta, um grupo de pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, analisou dados da superfície do gelo em relação ao nível do mar, fotos aéreas e bancos de dados de vulcões, para realizar o primeiro inventário do vulcanismo nos 2,5 milhões de quilômetros quadrados do chamado Sistema de Rift da Antártida Ocidental.
Publicado na revista Geological Society, o estudo revelou 138 vulcões na vasta região de falhas geológicas e atividade tectônica, dos quais 91 ainda não identificados anteriormente. Concentrados principalmente em um eixo central superior a 3 mil quilômetros, será que alguns desses vulcões poderiam entrar em erupção no continente mais meridional da Terra?
Qual o risco de uma erupção vulcânica na Antártida?
O vulcão da Ilha da Decepção entrou em erupção em 1970.Fonte: Getty Images
Embora todos esses vulcões sejam provas vivas, e quentes, da existência de rochas derretidas existentes no interior do nosso planeta, a probabilidade de uma erupção vulcânica de grande magnitude na Antártida é considerada baixa. Apesar de serem considerados geologicamente jovens, os vulcões da região ainda não foram definidos como vulcanicamente ativos ou não, segundo o estudo.
No momento, existem apenas dois vulcões sabidamente ativos: o Monte Erebus, com 3.794 metros acima do nível do mar, na ilha Ross; e o vulcão da Ilha Decepção, uma caldeira vulcânica em forma de ferradura, localizado nas ilhas Shetland do Sul, a qual é a única cratera vulcânica ativa do mundo que permite a navegação próxima.
Porém, dependendo da magnitude da erupção, localização do vulcão e condições climáticas, uma eventual erupção vulcânica na Antártida poderia ter algumas consequências graves como o derretimento do gelo com aumento do nível do mar, tsunamis, nuvens de cinzas sobre áreas próximas, como a América do Sul e impactos na fauna marinha.
O Erebus e a Ilha Decepção poderiam causar uma erupção violenta?
O Erebus tem erupções contínuas, mas com explosões moderadas.Fonte: Getty Images
Na verdade, o Monte Erebus já está em erupção contínua, desde 1972, explica o pesquisador do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade de Columbia, Conor Bacon, ao Live Science. No entanto, essas erupções, chamadas estrombolianas, não representam um risco imediato para pessoas ou para o meio ambiente por serem explosões moderadas de curto prazo.
Isso quer dizer que o Erebus “emite nuvens de gás e vapor”, chegando mesmo a vomitar algumas “bombas” de rocha ocasionalmente, diz o Observatório da Terra, da NASA. Embora essas emissões contenham lava e cinzas, é em pequena quantidade. A lava principal do vulcão flui para dentro da cratera ou para um lago de lava permanente, que não ameaça as áreas eventualmente habitadas.
Já o vulcão da ilha Decepção é uma caldeira de cerca de 10 quilômetros em forma de ferradura, esculpida no gelo por sucessivas erupções, que ocorrem desde 1970. Atualmente, atividade se resume a fumarolas, fontes termais e emissões difusas de gases. A ilha é um destino turístico regular, e abriga muitas estações de pesquisa, como a Estação Comandante Ferraz, do Brasil.
Como monitorar todos os vulcões da Antártida?
Localização dos vulcões (círculos vermelhos) do Sistema de Rift da Antártica Ocidental.Fonte: Maximillian van Wyk de Vries et al.
Apesar de serem monitorados constantemente por cientistas, os dois vulcões da Antártida são uma incógnita, pois é praticamente impossível prever com 100% de exatidão quando um deles poderá entrar em erupção. Sem contar que existem outros 126 vulcões sem nenhum tipo de acompanhamento.
Mesmo o Erebus e a ilha Decepção “possuem apenas um pequeno número de instrumentos de monitoramento permanente”, afirma Bacon. As redes permanentes são compostas de sismógrafos para detectar atividades sísmicas ligadas a eventos vulcânicos. A instalação de redes extensas, com equipamentos mais sofisticados, ainda depende de muitos desafios logísticos, diz o pesquisador.
O maior deles, destaca Bacon é que, além da dificuldade para transportar os equipamentos para os locais de monitoramento na Antártida, as instalações permanentes precisam ser extremamente resistentes para resistir às condições adversas de temperatura, e instalar fontes de energia confiável capazes de sobreviver “às longas noites polares”.
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