O governo Lula (PT) agendou durante a presidência brasileira do G20 uma série de reuniões técnicas e ministeriais do bloco nas bases eleitorais de integrantes do primeiro escalão da Esplanada dos Ministérios.
Uma análise feita pela Folha do cronograma de eventos do fórum que reúne as principais economias do mundo aponta que, neste ano, dez ministros vão participar de reuniões sobre os temas ligados a suas pastas em seus próprios estados.
Estão na lista os ministros Celso Sabino (Turismo), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura), Camilo Santana (Educação), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Nísia Trindade (Saúde), Margareth Menezes (Cultura), Juscelino Filho (Comunicações), Fernando Haddad (Fazenda) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social).
As reuniões do G20 devem levar para os estados dezenas de representantes de países estrangeiros. Isso abre espaço para que ministros de Lula explorem os encontros politicamente em seus redutos —destacando sua atuação para hospedar o evento internacional ou convidando lideranças locais para acompanhar o encontro, por exemplo.
O Brasil assumiu em dezembro do ano passado a presidência rotativa do G20. O principal evento do fórum será a cúpula de chefes de Estado, em novembro, no Rio de Janeiro. Antes disso, haverá mais de 100 reuniões técnicas e de alto nível realizadas em 15 cidades do país.
O grupo de trabalho da área da Educação, por exemplo, terá várias reuniões de nível técnico em diferentes localidades. A última delas, em outubro, será seguida de um encontro de ministros dos países do bloco. A cidade escolhida para o evento foi Fortaleza (CE), estado que foi governado por oito anos pelo atual ministro, Camilo Santana.
O anúncio de que a capital cearense receberá a reunião de ministros da Educação do G20 foi feito pelo próprio Camilo em suas redes sociais, após participar de evento análogo na Índia em junho do ano passado.
Procurado, o Ministério da Educação não respondeu se a realização do evento em Fortaleza foi um pedido de Camilo e tampouco se ele considera que isso beneficiará seu estado e lhe trará benefícios políticos.
Assim como outros ministérios, a pasta apenas repassou a mesma nota que foi encaminhada à Folha pela organização do G20, na qual o governo afirma que o critério de escolha dos locais foi “distribuir os eventos pelo território nacional”. O texto ainda acrescenta que a Índia, última presidente do bloco antes do Brasil, realizou mais de 200 reuniões em cerca de 60 cidades.
“O critério de escolha dos locais foi distribuir os eventos pelo território nacional —não ficando apenas nas cidades que costumam receber esses eventos— de forma a promover a imagem do Brasil, dar visibilidade aos temas em discussão e engajar a sociedade como um todo nos debates relacionados aos três eixos da agenda brasileira no G20: combate à fome, pobreza e desigualdade; desenvolvimento sustentável; e reforma da governança global”, diz o texto.
Além de Camilo, outros membros do alto escalão do governo Lula serão anfitriões de reuniões internacionais em suas bases. Eventos da área da Cultura serão realizados em Salvador, cidade da ministra Margareth Menezes. Em outubro, nos dias 15 e 16, a capital baiana vai ser palco do encontro de nível técnico do grupo de trabalho do setor. Depois, no dia 18, será a vez da reunião de ministros da área.
O Ministério da Cultura afirmou que a escolha das cidades que sediarão os encontros do G20 da área foi definida “em comum acordo” com os dirigentes da pasta, para contemplar cidades de três diferentes regiões do país. “A ministra não tem carreira política e tampouco disputa qualquer cargo eletivo, não havendo, portanto, qualquer intenção de ganho político nesta ação”, diz a nota.
O ministério ainda acrescentou que Salvador vai sediar eventos de outras áreas do G20 e que a cidade apresenta um forte componente cultural. “Vale mencionar também que Salvador foi a primeira capital do país, que reúne um arcabouço cultural fortíssimo, com o centro histórico sendo tombado como patrimônio, além de ser um reduto turístico e gastronômico.”
A presidência brasileira do G20 também levará para Belém (PA) a reunião de ministros de Turismo. O Pará é o estado do atual chefe da pasta, Celso Sabino (União Brasil), que substituiu Daniela Carneiro (União Brasil-RJ) em julho do ano passado.
Procurado, o Ministério do Turismo afirmou em nota que a escolha de Belém para sediar esses eventos tem relação com o fato de que um dos temas prioritários das reuniões de ministros da área é a “sustentabilidade e a prática do turismo sustentável”. “Sendo assim, a escolha de Belém como sede é natural, tendo em vista que a capital será palco, em 2025, da COP30, mais importante evento internacional sobre mudanças climáticas”, diz o texto.
Já o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, declarou em entrevista recente seu pedido a Lula para que a capital de seu estado, Cuiabá (MT), fosse a sede de reuniões da área. “Se Mato Grosso fosse um país, seria o terceiro maior produtor de soja do mundo. Conversei com o presidente Lula e ele nos autorizou a fazer o encontro em Cuiabá com os ministros da Agricultura do G20, para debater os avanços da agropecuária mundial”, destacou Fávaro em entrevista à Rádio Vila Real.
O ministério justificou a escolha afirmando que a cidade tem um “papel vital na dinâmica econômica do Brasil” e que o Mato Grosso é epicentro da produção agropecuária. “A entrada da cidade reflete o compromisso do governo brasileiro em ampliar o alcance dos debates e é uma oportunidade de o Brasil mostrar a força de sua agropecuária”, afirmou em nota.
A cidade de São Luís (MA) foi contemplada com um único evento do G20 no Brasil: uma reunião técnica do grupo de trabalho sobre economia digital, sob os cuidados do Ministério das Comunicações. A pasta é comandada por Juscelino Filho (União Brasil), que é do Maranhão.
Procurado, o Ministério das Comunicações não respondeu se a opção por São Luís foi um pedido feito pelo próprio Juscelino Filho ou mesmo se ele vai participar do encontro.
Uma das prioridades do Brasil na presidência do G20 é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será discutida em uma grande reunião ministerial no Rio de Janeiro, sob a responsabilidade dos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social). O presidente Lula planeja participar dessa agenda.
Antes desse encontro, haverá uma reunião da frente de trabalho em Teresina, capital do Piauí. O estado foi governado por dois mandatos por Wellington Dias. Questionada se o ministro estaria presente em Teresina, a pasta informou que ele vai participar da reunião “onde couber”.
O ministério ainda justificou a realização do evento no Piauí afirmando que o estado se destaca como a região que mais evoluiu no combate à fome e à redução da pobreza e da miséria nos últimos 20 anos. “Com base nessa experiência de sucesso, será possível a construção de uma aliança que consiga reduzir enormemente a fome e a pobreza no mundo”, informou o ministério, em nota.
Os eventos que reúnem ministros de Finanças e Bancos Centrais também vão acontecer na cidade de São Paulo, base eleitoral de Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda e ex-prefeito (2013-2016). A capital paulista, no entanto, é o principal centro financeiro do país e, por sua capacidade logística, costuma receber esse tipo de conferência.