Após mais de 13 horas de discussão acalorada sobre a chamada Lei Ônibus, o pacote de medidas ultraliberais de Javier Milei, na Câmara de Deputados da Argentina, até o presidente Lula (PT) surgiu no debate nos momentos finais desta segunda-feira (29).
Falando contra a medida que o governo tem grandes chances de aprovar, um deputado opositor mencionou o petista para se colocar contra a redução do tamanho do Estado argentino.
“Parafraseando Luiz Inácio Lula da Silva, o Estado é como uma mãe, tem de se ocupar de todos os seus filhos, ajudando quem mais precisa.”
A frase, similar a um discurso recente de Lula, foi dita pelo legislador Eduardo Félix Valdés, do União pela Pátria, a aliança peronista de oposição ao governo de Javier Milei. Ele também já foi embaixador argentino no Vaticano por breve período, de 2014 a 2015.
O petista fez a declaração mencionada em vídeo nas redes sociais na ocasião do Dia das Mães, em maio, quando disse: “Para governar um Estado e um país, tem de governar com coração de mãe”.
A Câmara argentina iniciou ao meio-dia de segunda um longo debate sobre a Lei Ônibus, prioridade do governo neste início de mandato. O pacotão ultraliberal abre as portas para privatizações, para concentrar poderes nas mãos do Executivo e para uma reforma trabalhista.
A expectativa governista é aprovar a matéria após conseguir amplo apoio da chamada “oposição dialoguista”, de direita e centro-direita, com quem negociou nas últimas semanas. O ponto de confronto é justamente o União pela Pátria do deputado Valdés.
Mais de uma centena de deputados falaram durante a análise. O governismo retirou algumas de suas falas para tentar dar celeridade ao debate, mas a oposição fez justamente o contrário, para retardá-lo.
Em fevereiro passado, a Lei Ônibus original, com seus mais de 600 artigos, fracassou ao ser desidratada pela Câmara. O governo a retirou do debate e reformulou, apresentando uma versão enxuta, mas ainda assim com mais de 230 artigos.
Lula e Milei defendem visões opostas de Estado. Eles trocaram farpas antes da eleição do argentino, mas depois tentaram colocar panos quentes na relação. O último ato foi a visita da chanceler de Milei, Diana Mondino, a Brasília e São Paulo neste mês. Os dois ainda não se encontraram pessoalmente, e não há perspectivas para isso.
Na mesma fala durante o debate, Félix Valdés lembrou outro líder latino-americano que recentemente saiu em defesa da presença do Estado para mitigar as desigualdades, este de centro-direita.
Ele se referiu a Luis Lacalle Pou, líder do Uruguai, que em evento recente do qual também participou Milei disse que “é preciso um Estado forte para que os indivíduos possam usufruir de liberdade”.