O coordenador humanitário da ONU, Martin Griffiths, esteve na conferência humanitária em Paris, França, sobre Gaza nesta quinta-feira. Ele renovou o apelo por uma pausa nos combates e expressou preocupação com a segurança dos civis que fugiram para o sul da região.
Em mensagem de vídeo apresentada no evento, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou novamente que os civis em Gaza devem receber ajuda humanitária e condenou os “atos de terror do Hamas” em Israel.
Solidariedade internacional
Ele lembra que ainda que alguma ajuda esteja começando a chegar a Gaza, ela é apenas “uma gota no oceano”. Para Guterres, é necessário um “cessar-fogo humanitário imediato” e a proteção de hospitais, instalações da ONU, abrigos e escolas.
Ao reforçar seu apelo por doações, ele afirmou que a solidariedade pode ajudar os “civis de Gaza a verem, finalmente, e no mínimo, um vislumbre de esperança” e “um sinal de que o mundo vê sua situação difícil e se importa o suficiente para ajudar”.
O chefe da Agência da ONU para Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, Philippe Lazzarini, enfatizou a situação das crianças no território, que ele viu na semana passada “implorando por um pedaço de pão e um gole de água”.
Segundo Lazzarini, o deslocamento em massa levou a uma grave superlotação nos abrigos e bairros inteiros foram transformados em escombros com os ataques de Israel em retaliação aos atos do Hamas em 7 de outubro.
Proteção a civis
Na capital francesa, Griffiths descreveu o encontro com as famílias de algumas das 240 pessoas mantidas como reféns pelo Hamas em Gaza desde que o grupo realizou seu massacre no sul de Israel há mais de um mês.
Depois de conversar com as famílias, o chefe humanitário da ONU disse que a situação era “insuportável” e que permitir que ela continuasse seria absurdo.
Ele enfatizou a necessidade urgente de um cessar-fogo humanitário, “silenciando as armas” para dar descanso aos habitantes de Gaza e permitir a retomada de serviços fundamentais.
Griffiths também pediu a proteção dos civis “onde quer que estejam” e reiterou a preocupação com o deslocamento de milhares de pessoas do norte para o sul do enclave para as “chamadas zonas seguras”.
No entanto, ele ressalta que ainda nesses locais, a segurança não é garantida. Para o chefe humanitário, a ONU não pode fazer parte dessa proposta.
Ajuda vital
De acordo com o Escritório da ONU para Assistência Humanitária, Ocha, outras 50 mil pessoas teriam deixado o norte de Gaza para o sul na quarta-feira por meio de um “corredor” aberto pelos militares israelenses.
Na conferência de Paris, os representantes das Nações Unidas pediram respeito à lei humanitária internacional no conflito, que já registrou um número de vítimas civis considerado “inconcebível”.
Eles pediram o acesso desimpedido de centenas de caminhões de ajuda para levar alimentos, água, suprimentos médicos e combustível aos habitantes de Gaza situação de desespero.
Para Lazzarini, limitar severamente os alimentos, a água e os medicamentos é uma “punição coletiva”, o que é viola a lei internacional.
Eles também defenderam a abertura de outras passagens de fronteira para a ajuda, incluindo Kerem Shalom, na fronteira com Israel, já que o volume de assistência que chega do Egito pela passagem de Rafah continua insuficiente.
Para prestar serviços humanitários diante do aumento das necessidades, no início desta semana, a ONU e seus parceiros lançaram um apelo de financiamento de US$ 1,2 bilhão.
O valor permitiria com que as operações humanitárias apoiassem 2,2 milhões de pessoas na Faixa de Gaza e 500 mil na Cisjordânia. Ajudar a mobilizar esse financiamento está entre os objetivos da conferência de Paris.
Unrwa como “último vislumbre de esperança”
Lazzarini fez um apelo aos doadores para que aumentem o apoio aos habitantes de Gaza, enfatizando que a agência da ONU é o “último vislumbre de esperança” para os civis no enclave. As equipes continuam a distribuir alimentos e água e a atender as pessoas em abrigos e hospitais, apesar dos riscos.
Ele ressaltou que a agência da ONU, que já teve 99 funcionários mortos em Gaza, não conseguirá pagar os salários de seus funcionários até o final do ano.
Temores de contágio regional
Falando do Oriente Médio, Griffiths disse que os avisos de uma nova escalada não podem ser ignorados. Ele citou os recentes surtos de violência no Líbano e no Iêmen e expressou preocupação com o aumento da retórica antissemita e antimuçulmana.
O chefe de assistência humanitária da ONU enfatizou o papel crucial dos esforços diplomáticos multilaterais para proteger os civis, garantir o acesso à ajuda e permitir a libertação dos reféns.
Ele disse que a comunidade internacional precisava se unir em torno de valores comuns e contra a “escolha da guerra”, caso contrário, “esse incêndio poderia consumir a região”.