O Fundo de População da ONU, Unfpa, alerta que as condições para os trabalhadores de saúde em Gaza são “catastróficas”. Sem a entrada massiva de ajuda humanitária e a continuação dos bombardeios, a situação para as 50 mil gestantes na região é ainda mais preocupante.
Segundo o Unfpa, a situação nas instalações hospitalares que seguem abertas é caótica. De uma população de 2,2 milhões, mais de 1,4 milhão está deslocada e muitos buscam abrigo nos hospitais.
Partos sem luz e sem anestesia
A estimativa é que neste mês aconteça cerca de 5,5 mil partos. A diretora executiva do Unfpa, Natalia Kanem, afirma que com cerca de 180 mulheres dando à luz diariamente, é imperativo que os pacientes tenham acesso à comida, água e medicamentos.
Ela reforça que as cesarianas e o tratamento de recém-nascidos dependem de combustível para serem efetuados.
De acordo com o Unfpa, dezenas de mulheres precisam de serviços obstétricos urgentes diariamente, que podem ser determinantes para garantir a saúde dos recém-nascidos.
Proteção dos trabalhadores humanitários
Em entrevista à ONU News, a diretora regional para os Estados Árabes do Unfpa, Laila Baker, ressaltou que diversos partos de emergência foram feitos sem anestesia e com a luz apenas de um celular.
Ela afirma que é de extrema importância que a proteção de todo o pessoal humanitário. A representante acrescenta que todas as vidas devem ser preservadas.
Para Baker, “não existe tal coisa como uma pausa humanitária”. A representante do Unfpa avalia que a “pausa” implica que após a entrada de ajuda, os ataques vão continuar a pressionar o povo de Gaza. “Isso não pode continuar. Deve parar imediatamente”, destacou.
Laila Baker adiciona que nenhuma quantidade de ajuda humanitária, de maneira responsável, seria entregue na escala necessária.
Ela destaca que não é responsabilidade das entidades substituir o setor público e privado que provê para a população civil.
Depoimentos
O Unfpa falou com mulheres grávidas que atualmente estão se abrigando no hospital Al Shifa, o maior centro de saúde em Gaza, juntamente com dezenas de milhares de civis deslocados.
Elas relataram as experiências que enfrentaram, incluindo serem obrigadas a fugir de suas casas estando grávidas, perder um filho em um ataque aéreo, precisar de uma cesariana de emergência e ter um aborto devido à violência contínua.
A história de Reham Rashad Bakr é uma delas. Grávida de dois meses, ela teve hemorragias e precisava de tratamento e alimentação adequada. No entanto, com a situação atual, ela sequer tem acesso a pão e água.
Já Alaa Al Bayaa estava há dias sem comer quando o médico que a examinou disse que seu feto estava sem batimentos cardíacos e deveria ser removido do útero.
A violência em Gaza tem sido especial dura para mulheres e crianças, que são 70% dos mortos e feridos. Segundo o Unfpa, mais de um terço dos hospitais em Gaza e quase dois terços das clínicas de atenção primária foram fechados devido a danos causados pelos conflitos ou falta de combustível.
Apenas uma das 23 padarias apoiadas pelo Programa Mundial de Alimentos ainda está em funcionamento na região.