Nas animadas ruas de Foz do Iguaçu, Brasil, onde pessoas de mais de 95 nacionalidades convergem na tríplice fronteira do Brasil, Paraguai e Argentina, Joaquín Rodriguez, de oito anos, está em uma jornada notável.
A família Rodriguez, que emigrou da Venezuela em 2019 para escapar da agitação política e econômica, escolheu Foz do Iguaçu depois de viver por três anos no Peru. No início de 2023, eles fizeram uma viagem de ônibus para o Brasil para reconstruir suas vidas.
Uma iniciativa de inclusão social
“Quando chegamos, corremos para o playground porque fazia muito tempo que não íamos a um”, lembra Joaquín. O playground, assim como a escola municipal, são fundamentais para ajudar Joaquín a se estabelecer. Ele fez amigos e começou a se sentir em casa, enquanto na escola ele pôde participar de um projeto de inclusão social.
Em 2024, junto com outros 12 colegas de classe migrantes, Joaquín participou de uma iniciativa da ONU-Habitat financiada pela Conta de Desenvolvimento das Nações Unidas para promover a inclusão social de migrantes e refugiados.
A iniciativa, também implementada em outras cidades fronteiriças na Argentina, no Paraguai e no Líbano, envolve comunidades de migrantes na formação de espaços públicos para criar locais acolhedores para o intercâmbio cultural que reflitam as necessidades de uma sociedade diversificada.
No início, Joaquín não percebeu a importância de sua voz para moldar sua cidade e seu bairro. “Joaquín disse que se sentiu valorizado como imigrante pela primeira vez”, explica Bruna Zorzan, coordenadora de projetos da escola.
Ela adicionou que as crianças percebem que a comunidade reconhece sua importância e acredita que elas merecem ser ouvidas, “não apenas porque são crianças e imigrantes, mas porque são pessoas que devem ser respeitadas”.
Transformando sonhos em planos
As crianças imaginaram um espaço para todos: uma quadra esportiva multiuso, uma área aberta para atividades artísticas e culturais, um playground inclusivo e uma horta comunitária.
Usando a experiência da ONU-Habitat, suas ideias foram transformadas em planos arquitetônicos e apresentadas ao governo local.
“Achei muito legal fazer parte desse projeto porque nunca tinha feito nada sobre imigrantes em outro país”, diz Joaquín. “Fizemos um modelo e um mapa e escolhemos o que queríamos. Será ótimo para todos – todas as crianças imigrantes poderão brincar lá, porque é para todos.”
Aprovados por toda a comunidade, os planos arquitetônicos inspirados pelos alunos foram apresentados às autoridades do governo local, e um relatório final abrangente ressaltou o papel fundamental dos espaços públicos na promoção do desenvolvimento social, econômico e cultural sustentável em meio ao fluxo populacional.
Uma coleção das principais lições aprendidas está programada para ser lançada até o final do ano, permitindo que os governos participantes do projeto reflitam sobre suas experiências e, com sorte, reproduzam elementos bem-sucedidos em outros locais.
Alcance ampliado
A experiência do Brasil já estimulou mudanças transformadoras mais amplas, inspirando a colaboração entre fronteiras. Diálogos espontâneos entre departamentos de planejamento urbano brasileiros, argentinos e paraguaios foram iniciados após a divulgação do relatório final, com o objetivo de harmonizar os esforços de desenvolvimento urbano inclusivo nas cidades fronteiriças.
A ONU-Habitat revelou que continuará a facilitar essas iniciativas, defendendo espaços públicos coesos e inclusivos que transcendam as fronteiras, promovendo a integração e o entendimento regional.
À medida que as crises e os deslocamentos crescem cada vez mais nas regiões, tornando-se mais um fenômeno urbano, capacitar e preparar as cidades anfitriãs é essencial para estabilizar e acolher as populações deslocadas.
A história de Joaquín e de sua comunidade nos lembra que espaços urbanos inclusivos bem planejados e bem gerenciados estimulam a identidade, o pertencimento, a segurança, a oportunidade econômica e a coesão social em diversas comunidades.
*Com a reportagem da ONU-Habitat