Organizações das Nações Unidas afirmaram nesta terça-feira (5) que os níveis de desnutrição infantil no norte da Faixa de Gaza estão “particularmente extremos” e cerca de três vezes mais altos do que no sul do território palestino invadido por Israel.
Richard Peeperkorn, representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Gaza e a Cisjordânia, diz que 1 em cada 6 crianças menores de dois anos de idade estava gravemente desnutrida no norte de Gaza. “Isso foi em janeiro. Então, a situação provavelmente é pior hoje”, afirma Peeperkorn, referindo-se à época em que os dados foram registrados.
O porta-voz do Unicef (fundo da ONU para crianças), James Elder, diz que as taxas de desnutrição para crianças menores de cinco anos no local, onde o acesso à ajuda humanitária tem sido limitado desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, são três vezes maiores do que as de Rafah, no sul.
Segundo Elder, isso mostra que “quando esse fluxo de ajuda pode entrar, faz diferença para salvar vidas”.
Pelo menos 15 crianças morreram nos últimos dias de desnutrição e desidratação no hospital Kamal Adwan, no norte de Gaza, informou o Ministério da Saúde em Gaza, controlado pelo Hamas, no domingo (3).
Nesta segunda-feira (4), o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, relatou em publicação no X visitas a este hospital e ao Al-Awda, no norte do território palestino. De acordo com ele, as equipes puderam observar “níveis severos de desnutrição, crianças morrendo de fome, insuficiência crítica de combustível, comida e suprimentos médicos e edifícios hospitalares destruídos”.
Os apelos para que Israel faça mais para enfrentar a crise humanitária na Faixa de Gaza têm se intensificado desde o episódio em que tropas israelenses atiraram em civis palestinos que aguardavam em fila por ajuda em região próxima da Cidade de Gaza, no último dia 29 —o Hamas falou em 112 mortes, enquanto Tel Aviv admitiu apenas 10 delas.
Além da fome, há um risco crescente de doenças infecciosas, com 9 em cada 10 crianças menores de cinco anos —cerca de 220 mil— adoecendo nas últimas semanas, de acordo com Elder, do Unicef.
“Isso se transforma na crise que tanto tememos: doenças infecciosas, falta de alimentos e de água limpa e bombardeios contínuos. Incrivelmente, ainda se discute uma ofensiva em Rafah, que é uma cidade de crianças”, afirmou Elder a jornalistas em Genebra, referindo-se ao objetivo declarado de Israel de invadir a cidade na fronteira com o Egito para destruir batalhões do Hamas que Tel Aviv diz estarem escondidos na área. “Cerca de 750 mil crianças vivem em Rafah”, disse.
Israel intensificou seus bombardeios a Rafah em fevereiro, onde cerca de 1,5 milhão de pessoas se aglomeram, a maioria delas fugidas de suas casas ao norte para escapar da invasão terrestre de Israel, que dizimou o território palestino.
O escritório da ONU Unidas para assuntos humanitários afirmou que um quarto da população, 576 mil pessoas, está a um passo da fome, quase cinco meses após o início do início do ataque de Israel em Gaza.