O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, avançou em seus planos hostis em relação à Coreia do Sul nesta segunda-feira (15) ao pedir a alteração da Constituição para garantir que o país vizinho seja visto como o “principal inimigo” da nação que comanda. Não está claro quando essas mudanças acontecerão.
O líder, no poder desde 2011, alertou ainda que seu país não pretende evitar uma guerra caso a tensão entre as duas Coreias chegue a esse ponto, informou a agência estatal KCNA nesta terça-feira (16).
Em um discurso à Assembleia Popular Suprema, o Legislativo de fachada do país, Kim disse ter chegado à conclusão de que unificar a nação com o Sul não é mais possível. No seu ponto de vista, Seul busca o colapso do regime e a unificação por absorção.
Portanto, seguiu o líder, a Constituição deve ser emendada para incluir a intenção de “ocupar, subjugar e recuperar completamente” a Coreia do Sul em caso de guerra, para definir que os territórios devem permanecer separados e para eliminar o uso do termo “compatriotas” para se referir aos habitantes do país vizinho.
A educação, por sua vez, deve ser adaptada para mostrar aos norte-coreanos que a Coreia do Sul é, invariavelmente, o “inimigo principal”. “Não queremos guerra, mas não temos intenção de evitá-la”, disse Kim, segundo a KCNA.
O ditador também pediu o corte de toda a comunicação intercoreana e a destruição de um monumento pela reunificação na capital, Pyongyang. Três organizações que lidam com a unificação e o turismo intercoreano também seriam fechadas, acrescentou a mídia estatal. “Os dois Estados, tecnicamente em guerra, agora estão em confronto agudo na península coreana” diz a decisão que aboliu os órgãos, segundo a imprensa estatal.
Em uma reunião em seu gabinete, o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, disse que Pyongyang estava sendo “antinacional” ao classificar seu país como hostil.
Segundo Lim Eul-chul, professor de estudos da Coreia do Norte na Universidade Kyungnam, da Coreia do Sul, a retórica em relação à Coreia do Sul e aos Estados Unidos no discurso de Kim tem como objetivo ajudar a manter a unidade interna do país e alcançar objetivos econômicos e militares enquanto Washington está distraído com outras crises, como a guerra na Faixa de Gaza, no Oriente Médio.
Por outro lado, Won Gon Park, da Universidade Ewha Womans de Seul, argumenta que Kim parece se sentir ameaçado pela implementação de recursos estratégicos dos EUA na Península Coreana e pelos esforços militares com o Japão. “A linguagem cada vez mais agressiva parece mostrar que ele sente que perdeu a vantagem na relação intercoreana”, disse Park à agência de notícias Reuters.
Coreia do Norte está mudando a forma como lida com a Coreia do Sul por meio de mudanças na política e nas organizações governamentais que tratam o país vizinho efetivamente como um Estado separado e inimigo.
As mudanças ocorrem no momento em que as tensões se agravam na Península Coreana com o aumento das atividades militares na região e um esforço de Pyongyang para romper uma política de décadas na relação com o Sul.
Desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953), os dois países tratam um ao outro de maneira diferenciada —as relações entre ambos dependem de agências e ministérios especiais que fazem as vezes dos ministérios das Relações Exteriores, por exemplo. Além disso, as nações adotam políticas para uma futura reunificação pacífica, geralmente visando um único Estado com dois sistemas.
Há cerca de três semanas, porém, Kim já havia declarado em uma reunião que a reunificação pacífica era impossível e que o regime faria uma “mudança decisiva” na política em relação ao “inimigo”. Ele também ordenou que o Exército estivesse preparado para pacificar e ocupar o Sul em caso de crise.