Deu-me um pequeno nó na garganta a derrota da seleção feminina para a França, em Brisbane (Austrália), na segunda partida das equipes na Copa do Mundo da Oceania.
Não pelo resultado em si, pois não é uma aberração o Brasil, oitavo do ranking da Fifa, não ganhar das francesas (quintas na lista); aliás, é praxe não vencer, já que as de uniforme azul jamais caíram ante as bazucas em 12 confrontos.
O que incomodou foi o jeito. Mais de um.
Quando a zagueira e capitã Renard, de 1,87 m, colocou a França novamente em vantagem e definiu o 2 a 1, a equipe brasileira estava melhor.
Não parecia tão difícil naquele momento, diante de um rival de respeito mas que transparecia certo cansaço, segurar o empate, que seria ótimo pois manteria o Brasil à frente das europeias no Grupo F.
O modo como Renard marcou me deixou pasmo. Quando a gigante francesa –a mais alta brasileira em campo era a zagueira Lauren, com 1,78 m– cabeceou para as redes da goleira Lelê, ela estava livre de marcação. Escandalosamente livre.
Perdoem-me a técnica Pia Sundhage e as jogadoras, porém não é uma falha aceitável. Renard pode fazer gol de cabeça, até porque é um dos pontos fortes dela, desde que tenha o mérito de ganhar, na impulsão, de uma ou mais brasileiras.
Sem marcação alguma –quando Andressa Alves decidiu ir atrás da rival já era tarde–, a carrancuda Renard fez aquele gol que, como diziam os locutores de antigamente, “até a minha avó faria”.
Como declarou Lelê, esse gol teve um sabor “revoltante”, porque “não dá para errar nesse ponto”, lembrando que o time estava preparado para conter essa jogada.
É inconcebível haver um “apagão” assim da seleção, ainda mais em uma Copa do Mundo.
Renard deveria ter marcação dupla em todo lance de bola parada no ataque francês. É questão de sobrevivência para a defesa.
Depois do jogo, a sueca Pia reconheceu, sem mencionar nomes, que a defesa falhou. Frisou, entretanto, que esse erro não foi o mais grave, e sim a falta do “jogo bonito brasileiro”.
Só que ela está errada. Muito errada. E olhe que não há ninguém mais fã de futebol arte (com chapéus, canetas, dribles da vaca etc.), seja do Brasil ou não, do que eu.
O problema é que, diante das francesas, na maior parte da partida, principalmente na metade inicial, as brasileiras mal conseguiam ficar com a posse da bola.
O primeiro tempo foi de amargar para a equipe nacional. A França pressionou o tempo todo a saída de bola, de forma competente, o que ocasionou seguidos erros de passe do Brasil.
As zagueiras e meio-campistas, cercadas por duas ou três atletas de azul, não tinham tempo para pensar. Como, então, jogar bonito, “com mais alegria”, conforme pregou Pia, nessa circunstância?
Sem chance de felicidade assim. O desafio imediato era árduo: evitar perder mais bolas, a fim de impedir que as francesas começassem a investida já próximas da meta de Lelê.
Ficou muito evidente que essa seleção brasileira, quando pressionada ao iniciar o ataque a partir da defesa, não tem condição técnica para fazê-lo. Ou, se tem, faltou treinar mais. Pois, tentativa após tentativa, não deu certo. Era desesperador.
Qual minha sugestão ao se deparar com essa situação? Tenho duas.
A primeira é o chutão, em baixa no esporte e odiado por muita gente (como Guardiola e Fernando Diniz).
Despachar a redonda para a frente e as atacantes que se virem para, na disputa com as defensoras, levar vantagem na corrida ou dominar a bola e tentar criar algo ou cavar uma falta. Às vezes funciona.
A segunda é passar o problema para o adversário.
Dar um chutão (olha ele aqui de novo) para o mais longe possível (até para a goleira) e fazer, o Brasil, a marcação por pressão. Dificultar o começo de jogada das oponentes, forçá-las a um erro não forçado. Às vezes funciona.
As duas alternativas são factíveis e fáceis de serem viabilizadas com algum treino.
O que não dá é para sofrer um tempo inteiro –na segunda etapa foi menos pior, pois a pressão francesa perdeu intensidade– pela falta de capacidade de trocar passes rápidos e precisos na defesa.
O Brasil, mesmo com esse revés, depende só de si para se classificar para as oitavas de final.
Para isso, terá, a fim de não ter de contar com uma improvável derrota da França para o frágil Panamá, de derrotar a Jamaica na quarta-feira (2).
A seleção de Pia entrará como favorita e, felizmente, não terá de encarar marcação por pressão. Espera-se que a Jamaica se feche na defesa e contra-ataque.
O Panamá jogou assim contra as brasileiras e levou de 4 a 0. As jamaicanas, no entanto, tiveram sucesso ao segurar a França (0 a 0).
Que Pia ache soluções para vazar a empolgada Jamaica, que neste sábado passou pelas panamenhas (1 a 0). Com gols, boa vantagem no placar e a vaga assegurada, aí dá para querer jogar bonito.