Uma das cenas que marcarão a Copa da Ásia deste ano, disputada no Qatar, é a expulsão de campo do até agora artilheiro da competição entre seleções, o iraquiano Aymen Hussein.
No segundo tempo, ao fazer o gol da virada para seu país no estádio Khalifa, em Al Rayyan (Grande Doha), colocando-o em vantagem por 2 a 1 no jogo das oitavas de final contra a Jordânia, Hussein, 27, recebeu o cartão amarelo durante sua comemoração.
Como já tinha sido advertido com o mesmo cartão no primeiro tempo, ele na sequência levou o vermelho, sendo assim expulso da partida, ficando o Iraque com um a menos.
Por que o árbitro iraniano Alireza Faghani puniu o artilheiro, que tinha acabado de fazer o seu sexto gol nesta edição da Copa da Ásia?
A exibição dos cartões (o segundo amarelo e depois o vermelho) ao camisa 18 aconteceu tão logo ele, depois de celebrar com acenos para a torcida e abraços em colegas de time, sentou-se no gramado e fez um gesto de comer com a mão.
Com essa mímica, imitou a comemoração de Yazan Al-Namait, 24, que a executou, junto com quatro companheiros de equipe, depois de abrir o placar para a Jordânia na etapa inicial.
O ato coletivo saiu impune: Faghani nada fez, mantendo os cartões no bolso. O ato individual deu no que deu: a exclusão de um dos melhores atletas do Iraque da partida eliminatória.
Não chegou a conhecimento público a razão de o árbitro –que apitou Brasil 2 x 0 Sérvia na Copa do Mundo de 2022, no mesmo Qatar– ter agido dessa forma em relação a Hussein. A Confederação Asiática de Futebol (CAF) não disponibiliza a súmula dos jogos para consulta.
A regra 12 do futebol, que trata da comemoração de gol, diz o seguinte:
“Os jogadores podem comemorar quando um gol é marcado, mas a comemoração não deve ser exagerada; celebrações coreografadas não são incentivadas e não devem causar perda excessiva de tempo. Sair do campo de jogo para comemorar um gol não é uma infração passível de advertência, mas os jogadores devem retornar o mais rápido possível”.
E prossegue:
“Um jogador deve ser advertido por: subir em uma grade e/ou aproximar-se dos espectadores de maneira que cause problemas de segurança; gesticular ou agir de forma provocativa, irônica ou hostil; cobrir a cabeça ou o rosto com uma máscara ou item semelhante; tirar a camisa ou cobrir a cabeça com a camisa”.
Pensei o que Faghani, 45, podia ter como argumento para a advertência a Hussein e não aos jogadores da Jordânia.
Se alguém festejou exageradamente, recorrendo a coreografia e utilizando tempo em excesso, inclusive demorando-se para voltar ao campo mais que Hussein, foram os jordanianos.
Nenhum deles recebeu cartão amarelo. Por coerência, o goleador do Iraque também não deveria receber.
O único motivo, e ele é totalmente interpretativo, para que o Hussein fosse punido seria o árbitro concluir que a ação dele ao imitar o gesto dos rivais fosse uma provocação ou ironia.
Não pareceu. Meu entendimento é o de imitação, em tom lúdico, e a regra não estabelece nenhuma sanção para quem copia uma celebração, esta, a de se sentar no campo e “comer com as mãos”, que é uma prática comum, de cunho cultural, em vários países asiáticos.
Fiz contato com o Departamento de Mídia da CAF solicitando explicações a respeito da atuação de Faghani, porém não houve resposta. Em seu site, a confederação afirma “não comentar os desempenhos individuais da arbitragem”.
Com um jogador a mais a partir dos 32 minutos do segundo tempo, a Jordânia, que não detinha o favoritismo na partida, conseguiu pressionar o Iraque e virou para 3 a 2, com dois gols nos acréscimos.
Agora o país buscará, diante do Tadjiquistão, avançar pela primeira vez às semifinais da Copa da Ásia –atingiu as quartas de final duas vezes, em 2004 e em 2011.
O Iraque, que deixa a competição indignado, permanece com um título, obtido em 2007.
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