O Conselho de Segurança adiou novamente a votação em uma resolução pedindo a “suspensão da violência” em Gaza. Nesta terça-feira, o órgão debateu a situação no enclave e havia a expectativa da adoção de um novo texto expressando “profunda preocupação com a situação humanitária” e seu “grave impacto” sobre os civis.
O documento, redigido pelos Emirados Árabes Unidos, solicitava ainda “acesso humanitário completo, rápido, seguro e sem restrições”. O Enviado Especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, destacou que o conflito atual causou “um dos anos mais mortíferos na história” da região.
Sistema humanitário ‘à beira do colapso’
Ele também chamou a atenção para a grave situação humanitária em toda a Faixa de Gaza, destacando que a entrega de ajuda humanitária no local continua enfrentando desafios “quase insuperáveis”. Wennesland adicionou que em meio ao deslocamento em uma escala inimaginável e a continuação da violência, o sistema de resposta humanitária está à beira do colapso.
Ele expressou também “profunda preocupação” com as tensões crescentes na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, observando o uso de força entre palestinos e forças de segurança israelenses, sobretudo em operações israelenses, resultaram em níveis extremamente altos de vítimas e prisões.
“Reitero que as forças de segurança devem exercer o máximo de contenção e usar força letal apenas quando estritamente necessário para proteger vidas”, enfatizou. Ele expressou alarme com os ataques realizados por colonos israelenses contra palestinos e por palestinos contra israelenses na Cisjordânia ocupada e em Israel.
“Todos os atores de violência devem ser responsabilizados e levados rapidamente à justiça”, disse ele. Wennesland disse estar chocado com as inúmeras instâncias de autoridades glorificando a violência e incentivando o assassinato de civis.
O major general Patrick Gauchat, chefe da Organização de Supervisão de Tréguas das Nações Unidas, afirmou que, desde 8 de outubro, ocorreram muitas violações do cessar-fogo ao longo da Linha Azul entre Israel e o Líbano, assim como nos Montes Golã entre Israel e a Síria.
Segundo ele, no entanto, tanto Israel quanto o Líbano indicaram sua disposição em melhorar a segurança. O governo israelense e as autoridades sírias também mencionaram a forte vontade de manter o armistício em vigor.
Efeito desproporcional
Em novembro, um texto foi adotado pedindo pausas e corredores humanitários. A implementação da trégua nos ataques possibilitou a liberação de reféns, além da entrada e distribuição de ajuda humanitária.
A reunião desta terça-feira, inicialmente agendada para segunda-feira, foi adiada com a intenção de dar aos membros do Conselho mais tempo para negociar e encontrar consenso.
Algumas das mudanças após discussões iniciais incluem a solicitação de “medidas urgentes para suspender a violência”, uma mudança crucial de palavra em relação ao rascunho anterior, que pedia uma “cessação da violência”.
O documento reforça a “forte preocupação do Conselho com o efeito desproporcional” que o conflito está causando às mulheres e crianças e enfatiza a obrigação de “respeitar e proteger o pessoal humanitário e médico”.
O novo texto toma nota da reabertura do cruzamento de Karem Abu Salem ou Kerem Shalom de Israel para acelerar a entrega de ajuda, enfatizando a necessidade de “expandir a entrega e distribuição” de auxílio.
Monitoramento da ONU
A resolução exige que todas as partes cumpram suas obrigações sob o direito internacional e exige a “entrega sem obstáculos” de ajuda aos civis palestinos “em grande escala” e por toda Gaza.
Além de solicitar que um mecanismo de monitoramento da ONU para entregas seja implantado de forma rápida, o texto exige a “libertação imediata e incondicional de todos os reféns” e “condena firmemente” todas as violações do direito internacional humanitário, incluindo ataques indiscriminados contra civis “e todos os atos de terrorismo”.
O documento ainda observa que as instalações da ONU são protegidas pelo direito humanitário e “rejeita o deslocamento forçado da população civil”. Exige que os combatentes garantam a segurança de todo o pessoal das Nações Unidas.
Reitera o “compromisso inabalável do Conselho com a visão da solução de dois Estados”, destacando a importância de unificar a Cisjordânia e Gaza sob a Autoridade Palestina.
Assembleia Geral
A reunião vem logo após uma resolução adotada com a maioria de 153 Estados-Membros a favor e 10 contra, com 23 abstenções na Assembleia Geral, que se reuniu na última terça-feira em uma sessão especial de emergência. O texto pede um “cessar-fogo humanitário imediato”, a libertação imediata e incondicional de todos os reféns, bem como “garantir acesso humanitário”.
A resolução da Assembleia Geral foi redigida de forma semelhante a um projeto de resolução que foi vetado pelos Estados Unidos no Conselho de Segurança em 8 de dezembro.
Os pontos em comum incluem um cessar-fogo humanitário imediato; exigindo que todas as partes cumpram suas obrigações sob o direito internacional, especialmente em relação à proteção de civis; e a exigência da libertação imediata e incondicional de todos os reféns, bem como garantir acesso humanitário.
A atual escalada, iniciada em 7 de outubro após ataques do Hamas em Israel, já deixou mais de 19 mil mortos no enclave.