O final de setembro é sempre o período mais movimentado do ano na sede da ONU com a presença dos líderes mundiais no debate de alto nível na Assembleia Geral em Nova Iorque.
Em 2024, a missão é diferente do habitual. O secretário-geral, António Guterres, convocou a Cúpula do Futuro, que reunirá representantes globais, incluindo membros da sociedade civil e defensores da juventude.
Estão programados painéis de discussão, intervenções importantes e eventos paralelos, organizados em torno de cinco questões principais, além de temas transversais como direitos humanos, crise climática e igualdade de gênero.
1. Financiamento para o Desenvolvimento
“A arquitetura financeira internacional, criada em 1945 após a Segunda Guerra Mundial, está passando por um teste de estresse de proporções históricas – e tem fracassado”, afirmou o secretário-geral, António Guterres.
As reformas necessárias no sistema ganham urgência com a aproximação do prazo para se atingir a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o plano elaborado pela ONU para construir um futuro melhor.
O principal documento da Cúpula, chamado Pacto para o Futuro, representa, para Guterres, um compromisso das nações de utilizar todas as ferramentas globais disponíveis para enfrentar os problemas antes que eles se tornem insustentáveis para a humanidade.
O líder da ONU ressalta o compromisso em adotar “ações ousadas” para implementar a agenda, com ênfase particular em acabar com a fome e a pobreza, reduzir as desigualdades e aumentar a ambição para lidar com as mudanças climáticas.
2. Paz e Segurança Internacional
A ONU descreve a situação global atual como ‘excepcionalmente perigosa’, com o risco de grandes potências se envolverem em conflitos no nível mais alto desde a Guerra Fria. A ameaça de uma guerra nuclear é a maior em décadas, enquanto a crise climática está intensificando a migração e agravando tensões internacionais.
Também há novas ameaças que poderão ser enfrentadas à medida que novas tecnologias são “transformadas em armas para causar o máximo de danos, em um mundo altamente interconectado”.
Esse ambiente levou a organização a criar a Nova Agenda para a Paz, o primeiro plano global sobre o tema em décadas e lançado em 2023. A série de soluções propostas englobam desde a manutenção e consolidação da paz até ao desarmamento e às reformas no Conselho de Segurança.
As recomendações da Nova Agenda para a Paz fazem parte do Pacto para o Futuro, que deverá ser adotado na Cúpula do Futuro.
3. Ciência, Tecnologia, Inovação e Cooperação Digital
Os Estados-membros da ONU também adotarão o Pacto Digital Global, que visa reforçar a confiança na internet, garantir mais opções sobre uso dos dados e abordar a responsabilização por conteúdo discriminatório e enganoso.
O pacto contém advertências sobre as consequências do uso da inteligência artificial para fins maliciosos gerando divisões dentro e entre as nações, aumentar a insegurança, violar os direitos humanos e agravar a desigualdade.
O documento lista compromissos e ações como a “exclusão digital” no mundo com 2,6 bilhões de pessoas sem acesso à internet, o que limita as oportunidades de aproveitar as oportunidades oferecidas pelas ferramentas online.
O pacto enfatiza que todas as escolas e hospitais devem estar online, com base na Iniciativa Giga, apoiada pela ONU, e no treinamento de habilidades de alfabetização digital.
Até 2030 prevê-se criar um Painel Científico Internacional sobre IA e promover um Diálogo Global Anual sobre Governança sobre a questão para criar padrões globais que beneficiem a todos.
4. Jovens e Gerações Futuras
O terceiro documento a ser adotado na Cúpula será a Declaração sobre Gerações Futuras. As propostas incluem compromissos para acabar com a desigualdade, promover educação de qualidade para todos e garantir planejamento de longo prazo.
A novidade é a indicação de um enviado especial para Gerações Futuras, cuja tarefa seria defender um melhor pensamento de longo prazo em todo o Sistema das Nações Unidas ONU e compartilhar contatações da Rede Laboratório da ONU sobre o Futuro, o braço de pesquisa da organização.
Jovens encerrarão a cúpula com um Dia de Ação na Assembleia Geral, na sexta-feira, 20 de setembro. O evento contará com ativistas, celebridades, apresentações musicais e diálogos com o secretário-geral António Guterres e Felipe Paullier, o primeiro secretário-geral assistente para Assuntos da Juventude.
Na segunda-feira, 23 de setembro, será realizada uma sessão de diálogo interativo no Conselho de Tutela sobre como aprimorar o sistema global para as gerações atuais e futuras.
5. Governança Global
Quando as Nações Unidas foram criadas, há quase 80 anos, o mundo saía de um conflito global, e líderes decidiram criar instituições para evitar que algo semelhante acontecesse novamente. Embora esse objetivo continue relevante, há um consenso entre os Estados-membros de que as ferramentas estabelecidas naquela época precisam de uma grande reforma para atender aos desafios atuais.
Na Cúpula do Futuro, os líderes mundiais debaterão como promover essas mudanças e abordar a reforma do Conselho de Segurança, uma questão que tem gerado debates acalorados ao longo dos anos.
Estarão também em foco assuntos sobre o espaço sideral. Apelos feitos nos últimos anos defendem estruturas de governança mais fortes sobre essas atividades, à medida que aumenta o uso do espaço pelo setor privado e novas nações exploradoras.
As ações tratadas incluem o desenvolvimento de grandes iniciativas intergovernamentais para estabelecer uma presença humana de longo prazo na lua, programas seguros para impulsionar voos espaciais humanos para Marte e diferentes conceitos para extrair recursos da lua e do cinturão de asteroides. Esta dinâmica gera a necessidade de novas formas de governança para garantir que o rápido crescimento ocorra de forma segura e sustentável.