O Congresso do Peru aprovou nesta quarta-feira (3) um voto de confiança ao novo gabinete ministerial da presidente do Peru, Dina Boluarte, reformulado pela terceira vez em 16 meses em meio a uma investigação de enriquecimento ilícito envolvendo a chefe do Executivo.
A Constituição do país vizinho estipula que novas cúpulas se submetam ao escrutínio do Legislativo em um prazo de 30 dias após sua nomeação —neste caso, foram seis novos nomes indicados na última segunda-feira (1º), após uma debandada de ministros.
“A questão da confiança do senhor Gustavo Adrianzén, presidente do Conselho de Ministros, foi aprovada”, anunciou o presidente do Congresso, Alejandro Soto, citando o primeiro-ministro peruano. A votação foi de 70 parlamentares a favor, 36 contra e 17 abstenções.
As pastas cujos titulares renunciaram foram os Ministérios do Interior, da Mulher, da Educação, da Produção, do Desenvolvimento Agrário e do Comércio Exterior e Turismo. Boluarte, que conta com 18 ministros, empossou os novos aliados logo em seguida.
A aprovação nesta quarta dá sobrevida ao frágil governo de Boluarte, que não supera os 10% de aprovação. A crise política, porém, também alcança o Congresso, que tem rejeição de 85%, segundo uma pesquisa nacional do Instituto Ipsos divulgada no mês passado.
Adrianzén, recém-nomeado premiê, disse antes da votação que a gestão seria limpa e o governo, transparente. Sua ida ao Legislativo para solicitar um voto de confiança já estava marcada antes mesmo da troca no gabinete no começo da semana.
“Solicito ao honroso Congresso da República que conceda o voto de confiança ao gabinete ministerial que presido para empreender as grandes tarefas que o povo peruano espera”, afirmou o político ao concluir seu discurso de 105 minutos.
Diante da ausência de uma bancada própria, Boluarte se aliou a grupos parlamentares que vão desde o centro até a ultradireita para alcançar mais da metade dos 130 membros do Congresso.
Mesmo assim, o governo chegou à votação enfraquecido com o que vem sendo chamado de Rolexgate. O escândalo começou após reportagem do veículo peruano La Encerrona revelar uma suposta coleção de relógios de luxo da marca Rolex que Boluarte não teria registrado em suas declarações de bens.
Na madrugada do último sábado (30), autoridades arrombaram a casa da presidente. Segundo um documento da polícia, cerca de 40 agentes e promotores atuaram para “apreender relógios Rolex”. A presidente afirma ser vítima de um “ataque sistemático” e que não renunciará à liderança do país. A expectativa é que Boluarte deponha na próxima sexta-feira (5).
Ela também é investigada pelos supostos crimes de “genocídio, homicídio qualificado e lesões graves” pela morte de mais de 50 civis durante os protestos que seguiram a sua posse, em dezembro de 2022 e janeiro de 2023.
A procuradoria pode investigá-la por, no máximo, oito meses a partir do momento em que começou a fazê-lo, em março. Além disso, ela só poderá ser acusada formalmente quando concluir seu mandato, em julho de 2026.
O escândalo pode resultar em um pedido de impeachment pelo Congresso sob a justificativa de “incapacidade moral” —argumento recorrente no contexto de instabilidade política que se agravou no Peru nos últimos anos.
O partido Peru Livre, sigla de esquerda com a qual Boluarte rompeu ao assumir a Presidência após o autogolpe frustrado e prisão do então presidente, Pedro Castillo em 2022, já começou os trâmites para o pedido de impeachment.
Para que o processo seja iniciado, no entanto, é necessário o apoio de ao menos 50 congressistas, e o pedido, por enquanto, tem cerca de 30 manifestações favoráveis. Os partidos de direita que controlam o Parlamento unicameral e são o principal apoio da presidente teriam que se aliar aos partidos de esquerda minoritários, algo difícil de ocorrer.