Apresentando um universo futurista no qual a humanidade dominou a exploração espacial, Duna se diferencia de outras obras de ficção científica de forma sutil, mas impactante. Enquanto a obra traz tecnologias que ainda não alcançamos, o mundo de Frank Herbert não lida com muitos computadores, tampouco explora elementos de inteligência artificial (IA).
Embora isso possa ser explicado pela idade avançada do primeiro livro, lançado em 1965 — época na qual o PC pessoal era somente um sonho futuro —, Herbert fez questão de explicar a ausência desse tipo de tecnologia. “Robôs pensantes” e IAs avançadas chegaram a fazer parte do universo da saga, mas foram exterminados há milhares de anos durante o Jihad Butleriano.
A grande guerra contra máquinas pensantes
Enquanto os livros da saga não se aprofundam na história dos Butlerianos, eles deixam claro que eles foram responsáveis pelo Jihad, que também ficou conhecido como A Grande Revolta. Na descrição de Herbert, o universo teve máquinas inteligentes durante um longo tempo, até que esse povo iniciou uma grande revolta voltada a banir e eliminar tudo o que não fosse o pensamento humano.
O universo de Duna abandonou as IA há milhares de anosFonte: Divulgação/Warner Bros
Quando a história de Paul Atreiders começa, já se passaram 10 mil anos desde o Jihad Butleriano. Durante esse tempo, a humanidade valorizou mais seus dons físicos e psicológicos, e alguns povos se especializaram no desenvolvimento de “computadores humanos” capazes de fazer cálculos complexos. Máquinas ainda existem, mas são limitadas e feitas para serem “burras”.
Duna convida a debates sobre a inteligência artificial
Embora o conflito entre humanidade e as máquinas/inteligência artificial seja uma das bases que moldou o universo de Duna, esse é um tema pouco explorado nos filmes de Denis Villeneuve. Enquanto os livros não fazem desse seu tema principal, esse conflito ainda é parte integral da formação do protagonista Paul.
Em seu primeiro encontro com a Reveranda Madre das Bene Gesserit, ela afirma que “um dia os homens entregaram a própria razão às máquinas, esperando que isso os libertasse. Mas só se deixaram escravizar por outros homens com máquinas”. Embora tenham quase 60 anos, essas palavras ressoam entre quem acompanha o mundo da tecnologia atual.
Mesmo sem IAs, os povos de Duna conseguiram dominar a viagem espacialFonte: Divulgação/Warner Bros
Nos últimos anos, a inteligência artificial, principalmente a generativa, ganhou atenção com suas promessas de aumentar a produtividade humana e substituir até mesmo seu trabalho criativo. Enquanto alguns apontam isso como uma chance de acabar com trabalhos burocráticos e repetitivos, a “substituição por máquinas” também é vista como uma ameaça.
Embora teoricamente ela poderia livrar a humanidade do trabalho cotidiano, permitindo que ela se desenvolvesse de diversas formas, há quem veja a implementação atual da tecnologia como uma maneira de causar miséria. Na mão de grandes corporações e poucos endinheirados, ela pode aumentar a concentração de riquezas e poder.
Nos livros, a maior ameaça surge no momento em que a tecnologia se torna tão avançada que é capaz de criar “falsos humanos”: máquinas tão sofisticadas que é impossível distinguir seu comportamento de pessoas reais. Enquanto ainda não chegamos nesse ponto, muitas empresas da área parecem ter esse como seu objetivo.
Enquanto os livros e filmes de Duna apontam o banimento e destruição das IAs como um caminho viável (mas com consequências duras), na vida real esse ainda é um debate que segue em aberto e sem solução. No entanto, vale a pena conferir a obra para ver como o tema é importante e gera debates há muito mais tempo do que muitos imaginam.