Em junho de 2017 —quando lidava com o fim de um casamento de mais de 20 anos e com alguns dos investimentos mais desastrosos de sua carreira— Bill Ackman, um bilionário investidor em fundos de risco, entrou no então Twitter (hoje X).
Em suas poucas postagens naquele ano e no seguinte, Ackman, hoje 57, compartilhou uma foto de si mesmo posando na fila da rede de fast-food Chipotle, um de seus maiores investimentos; links para documentos sobre outro investimento, ADP; e um comunicado à imprensa anunciando os vencedores dos prêmios de sua fundação.
Ele ofereceu aos seus primeiros seguidores na rede um pouco do drama que fazia parte de seu estilo de investimento e que mais tarde se tornaria uma marca registrada de suas publicações frenéticas.
Apenas alguns meses depois, Ackman teve seu primeiro encontro com uma professora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Neri Oxman. Ele ficou instantaneamente encantado e perguntou a ela se ela queria ter filhos, segundo ele disse no ano passado à plateia de um jantar de uma premiação.
Em 2018, em sua reunião anual de investidores de seu fundo Pershing Square, ele disse aos investidores que estava certo de que o desempenho de sua empresa, que vinha sofrendo, iria melhorar porque estava apaixonado por Oxman. Eles se casaram no ano seguinte.
Mas foi talvez o X, o outro novo relacionamento em sua vida, que o ajudou a superar sua crise profissional.
Ackman creditou o uso da plataforma por ajudá-lo a enxergar além durante a pandemia. Sua aposta de US$ 27 milhões (cerca de R$ 134 milhões) contra o mercado se transformou em US$ 2,7 bilhões (R$ 13 bilhões) em questão de semanas no início de março de 2020. A Forbes calcula seu patrimônio líquido em US$ 44,3 bilhões (R$ 21 bilhões).
Nos anos seguintes, o uso do X por Ackman o levou a um patamar de fama muito além do mundo dos investimentos. Ele tem mais de 1,2 milhão de seguidores na plataforma. Só alguns outros titãs das finanças têm mais de 100 mil seguidores. Seu antigo inimigo, o gestor de fundos Carl Icahn, tem 464,4 mil seguidores.
Graças ao X, seus fãs agora são uma mistura improvável: desde fanáticos de direita que lutam contra qualquer impulso por diversidade até liberais preocupados com o antissemitismo.
No ano passado, ele usou sua conta para travar uma agressiva campanha pública, semelhante às que ele usou contra CEOs de grandes empresas, para pressionar a reitora da Universidade Harvard, Claudine Gay, quanto às queixas de antissemitismo na instituição e às acusações de plágio contra ela.
Ele transformou isso em uma luta contra esforços de diversidade, equidade e inclusão, enquanto questionava se Gay foi contratada por ser negra, uma fala que gerou acusações de racismo.
Ben Eidelson, professor da Faculdade de Direito de Harvard, o chamou de “intruso” e disse em dezembro ao The New York Times que “não podemos funcionar como uma universidade se tivermos de responder perante ricos aleatórios e as multidões que eles mobilizam no Twitter”.
Agora, ele está indo atrás de repórteres e executivos do Business Insider e da empresa por trás do veículo, Axel Springer, depois que eles publicaram artigos dizendo que Oxman havia cometido plágio.
E no início de fevereiro, Ackman anunciou um plano que o ajudaria a capitalizar sua base de seguidores: ele afirmou que buscaria levantar US$ 10 bilhões (cerca de R$ 49 bilhões) ou mais em uma oferta pública inicial de investidores de varejo dos EUA para investir em empresas públicas —em outras palavras, de pessoas comuns que podem conhecê-lo pelo Twitter e desejam comprar a marca Ackman.
O fundo seria fechado, o que significa que os investidores só poderiam retirar ativos se outra pessoa colocasse dinheiro novo. Em um documento regulatório, a Pershing Square —cujos clientes de fundos de risco foram principalmente grandes instituições— disse que o “perfil de marca conhecida e amplo seguimento de varejo” de Ackman impulsionaria o interesse dos investidores e sugeriu que ele poderia se tornar o maior fundo fechado do mundo.
Ackman comparou suas ambições para seu fundo fechado ao que Warren Buffett havia realizado com a Berkshire Hathaway.
De forma mais ampla, porém, pode ser que o que Ackman queira fazer agora seja exatamente o que vem fazendo há anos: dizer às pessoas por que ele está certo, apesar dos gigantescos erros que já cometeu em seus negócios.
“Eu seria um homem muito feliz na vida se tivesse certeza de qualquer coisa como ele tem sobre tudo”, disse Icahn sobre Ackman em uma entrevista.
CONSERTANDO O QUE QUEBROU
Ackman busca exercer influência sobre tudo, desde a vida pessoal alheia até corporações e eventos mundiais. “Gosto de consertar coisas que estão quebradas”, já disse.
Na Pershing Square, seu fundo de investimento, costuma se envolver de perto na vida das várias dezenas de funcionários. Ele pode ser generoso, pagando pessoalmente contas médicas e ajudando os funcionários a pagar dívidas.
Mas, de acordo com pessoas na organização que pediram para não serem identificadas com medo de perderem seus empregos, Ackman às vezes exagera.
Ele frequentemente critica a aparência dos homens, incentivando-os a perder peso e contatar sua nutricionista. Ackman disse que fez isso apenas com seus amigos próximos que também trabalham com ele. Ele incentiva seus funcionários a se exercitarem na academia da empresa.
VITÓRIAS E PERDAS
Controle também é um tema profissional para Ackman. Ele se tornou bilionário seguindo o modelo de investidor ativista pioneiro nos anos 1980 por Icahn, Nelson Peltz e outros, no qual os investidores adquirem participações em empresas e exigem mudanças.
No final de 1992, aos 26 anos, Ackman e um colega de classe fundaram seu primeiro fundo de risco, o Gotham Partners, logo após saírem da Escola de Negócios de Harvard.
Ele levantou um total de US$ 3,1 milhões (R$ 15 milhões) de Marty Peretz, proprietário do The New Republic que havia sido seu professor e mentor na faculdade; ligou para mais de cem membros da lista Forbes 400 (quatro investiram, ele disse); e de seu próprio pai.
O Gotham Partners rapidamente chamou a atenção da mídia, principalmente por uma oferta malsucedida com parceiros para comprar o Rockefeller Center. Mas um investimento alimentaria sua confiança inabalável em suas convicções.
Em 2002, Ackman começou a dizer às agências de classificação de crédito, reguladores governamentais, investidores e a quem quisesse ouvir que a MBIA, a maior seguradora de títulos do mundo, havia subestimado suas perdas potenciais e não havia feito reservas de forma adequada. Por isso, a empresa não merecia sua classificação de crédito impecável, segundo Ackman.
Ele publicamente criticou a empresa enquanto apostava que as ações cairiam. Levou quase seis anos (durante os quais ele havia fechado a Gotham Partners e começado a Pershing Square), mas no final de 2007, ficou claro que Ackman havia prevalecido.
A MBIA fechou acordos em acusações de fraude civil com reguladores e pagou multas vultosas. Ackman gerou mais de US$ 1,1 bilhão (R$ 5,4 bilhões) em lucros com sua aposta de venda a descoberto.
Ele entrou em um período de lucros estelares, alguns dos maiores em Wall Street, durante a crise financeira de 2008. E começou a viver mais como um bilionário.
À medida que aumentava sua face pública, Ackman se tornou ainda mais vocal na imprensa sobre seus investimentos e seus planos de mudar empresas. Várias apostas, no entanto, a partir de 2011, se tornaram desastres.
OBCECADO COM HARVARD
Pouco depois dos ataques do Hamas em Israel, em outubro do ano passado, Ackman se tornou um crítico da resposta da reitora de Harvard, Claudine Gay, às reclamações de antissemitismo no campus.
Ele rapidamente começou a atacá-la, dizendo que ela havia sido contratada por causa de sua raça e gênero; a partir daí, ele usou a ocasião para se juntar a uma cruzada maior contra os esforços de diversidade na universidade e em locais de trabalho.
Após uma série de postagens críticas a Claudine e ligações, mensagens de texto e cartas para ela e membros do conselho diretivo de Harvard, ele começou a pedir sua demissão em dezembro, depois que ela testemunhou no Congresso americano e pareceu evitar perguntas sobre se os alunos deveriam ser disciplinados se pedissem o genocídio dos judeus.
Ackman então amplificou reportagens que pareciam mostrar que Claudine não havia citado adequadamente outros pesquisadores em sua produção acadêmica, acrescentando plágio à lista de acusações que fez contra a reitora.
Ele chamou a resposta da universidade às acusações de “um escândalo e uma mancha na reputação de Harvard que vai muito além da reitora [Claudine] Gay”, em uma série de extensas publicações sobre o assunto.
No dia 2 de janeiro, Claudine renunciou. Em sua carta à comunidade de Harvard, ela disse que era “aterrorizante ser submetida a ataques pessoais e ameaças alimentadas por animosidade racial”.
Ackman disse que seus pedidos para a demissão dela não foram motivados por racismo. Ele apontou que também pediu, embora com menos intensidade, a renúncia dos presidentes do MIT e da Universidade da Pensilvânia, que também testemunharam no Congresso, e são ambas mulheres brancas.
Ele continua crítico das iniciativas de diversidade nas universidades, e afirmou no X que “racismo contra pessoas brancas” foi “considerado um racismo aceitável”.
“Desde 7 de outubro, sim, sinto que tenho estado em uma guerra”, disse Ackman em uma entrevista em fevereiro.