O subsecretário-geral da ONU de Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, reiterou profundas preocupações com o povo de Gaza nesta segunda-feira, em meio a relatos de intensos combates entre as forças israelenses e grupos armados palestinos na Cidade de Gaza e Jabalia, no norte, e em Khan Younis, no sul.
Falando em Doha no lançamento da Visão Global Humanitária, Griffiths disse que a situação está “piorando” na região.
É necessária ‘diplomacia criativa’
De acordo com a última atualização do Escritório de Assuntos Humanitários, Ocha, milhares de pessoas “com necessidade urgente por comida, água, abrigo, saúde e proteção”, que recentemente fugiram para Rafah, no sul, esperaram durante horas ao redor dos centros de distribuição de ajuda.
Griffiths agradeceu ao Catar pela sua “diplomacia criativa” como parte dos esforços para “trazer momentos de paz” a Gaza.
Ele sublinhou que “os rumores sobre a intensificação da operação militar no sul de Gaza e as ameaças aos países vizinhos” tornam esses esforços “ainda mais importantes”.
O Ocha reiterou que a capacidade da ONU de fornecer ajuda foi “significativamente prejudicada nos últimos dias”, devido à escassez de caminhões em Gaza e aos cortes de telecomunicações.
Operações de ajuda comprometidas
Além disso, os trabalhadores humanitários foram impedidos pelos combates de chegar à passagem de Rafah, através da qual um uma pequena quantidade de itens de ajuda humanitária está chegando do Egito.
Segundo o Ocha, durante o fim de semana, 150 mil litros de combustível por dia entraram em média.
Este valor é superior à média diária anterior de 67 mil litros, mas ainda representa “o mínimo necessário para evitar o colapso de serviços críticos”, incluindo hospitais e ambulâncias, água e saneamento, bem como abrigos para os deslocados.
No domingo também chegaram cerca de 45 toneladas de gás de cozinha do Egito, “a primeira entrega desse tipo desde o reinício dos combates”, após o cessar-fogo de sete dias terminado em 1 de dezembro.
Segundo a coordenadora Humanitária da ONU para o Território Palestino Ocupado, Lynn Hastings, parece não haver fim à vista para a violência desencadeadas pelos ataques mortais do Hamas em Israel. Segundo ela “os assassinatos, a violência sexual e os sequestros perpetrados pelo Hamas e outros grupos armados palestinos em 7 de outubro traumatizaram uma nação inteira”.
Lynn Hastings afirmou também que “Israel tem a obrigação, como potência ocupante, de garantir que padrões suficientes de higiene e saúde pública, bem como o fornecimento de alimentos e cuidados médicos estejam disponíveis para a população sob ocupação”.
Os ataques à saúde continuam
De acordo com o Ocha, várias instalações e pessoal de saúde foram atacados em toda a Faixa de Gaza durante o fim de semana, especialmente em Jabalia, no norte, onde dois funcionários médicos foram supostamente mortos enquanto estavam de serviço no Hospital Al Awda. O local foi sitiado durante confrontos entre forças israelenses e grupos armados palestinos.
No sábado, um comboio liderado pela Organização Mundial da Saúde, OMS, e pela Sociedade do Crescente Vermelho Palestino entregou suprimentos médicos ao hospital Al Ahli na cidade de Gaza e evacuou 19 pacientes gravemente feridos.
O Ocha disse que o comboio foi “atrasado pelas forças israelenses em um posto de controle em Wadi Gaza” para “exames extensos” e que um dos pacientes evacuados morreu durante a viagem para o sul, enquanto um paramédico foi detido por quatro horas, “durante as quais foi interrogado e supostamente espancado e intimidado”.
O acesso humanitário ao norte da Faixa, onde centenas de milhares de civis ainda estão abrigados, permanece “severamente limitado”, informou a agência.
Não há saúde sem paz
Em Khan Younis, no sul de Gaza, uma ambulância foi supostamente atacada por forças israelenses no sábado, perto do Hospital Europeu e dois paramédicos ficaram feridos.
No domingo, a área ao redor do hospital foi repetidamente bombardeada pelo terceiro dia consecutivo, segundo o Ocha, privando dezenas de feridos do acesso ao tratamento.
Citando as autoridades sanitárias de Gaza, o Ocha afirmou que desde 7 de outubro, pelo menos 286 profissionais de saúde foram mortos e 57 ambulâncias foram atingidas e danificadas.
Reunido numa sessão especial no domingo, o Conselho Executivo da OMS adotou uma resolução sobre o acesso da ajuda a Gaza e o respeito pelo direito humanitário internacional,
Para o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, o texto funciona como um “ponto de partida” e uma “plataforma sobre a qual construir”. Ele reiterou que “sem paz não há saúde”.
Detidos ‘despidos e espancados’
O Ocha também destacou que, durante o fim de semana, no norte do enclave, as forças israelenses “detiveram centenas de homens e meninos que estavam em espaços públicos e escolas servindo como abrigos para pessoas deslocadas internamente, bem como em casas particulares”.
De acordo com o escritório “alegadamente, os detidos foram despidos, ficando apenas com roupas íntimas, algemados e obrigados a sentar-se de joelhos em áreas abertas, sujeitos a espancamentos, assédio, mau tempo e negação de necessidades básicas”.
A agência acrescentou que, de acordo com os militares israelenses, os suspeitos de ligações com o Hamas foram transferidos para Israel para interrogatório, enquanto outros foram libertados.