Milhares de palestinos que ainda estão no norte de Gaza enfrentam maiores dificuldades depois de terem sido isolados por operações militares israelenses, de acordo com profissionais humanitários da ONU.
Além disso, um comboio de ajuda médica enviado pelas Nações Unidas e parceiros foi alvejado na Cidade de Gaza.
Comboio médico sob ataque
Segundo o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, não existem padarias funcionando no norte devido à falta de combustível, água e farinha e não há distribuição de alimentos ou água engarrafada há uma semana.
Já a Organização Mundial da Saúde, OMS, informou que devido à falta de suprimentos médicos, os hospitais do norte agora realizam cirurgias sem anestesia.
Nesta terça-feira, um comboio de cinco caminhões da OMS e da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, escoltados por dois veículos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Cicv, foi atacado quando estava a caminho dos hospitais Shifa e Al Quds para entregar suprimentos médicos vitais.
Dois caminhões foram danificados e um motorista ficou ferido, mas o comboio finalmente chegou ao hospital de Shifa e fez a entrega, disse o Ocha.
Entretanto, os bombardeios israelenses continuaram em toda a Faixa de Gaza, enquanto os grupos armados palestinos seguem lançando projéteis contra Israel.
Evacuação do norte
Relatos indicam que as tropas israelenses estão dentro da cidade de Gaza em perseguição aos combatentes do Hamas responsáveis pelos ataques mortais de 7 de outubro no sul de Israel.
De acordo com o Ocha, os militares israelenses reiteraram ordens de evacuação aos residentes do norte na terça-feira, pelo quarto dia consecutivo, e abriram um “corredor” ao longo de uma via de tráfego, dando aos residentes uma janela de quatro horas para se deslocarem para o sul.
Monitores da ONU estimam que até 15 mil pessoas podem ter utilizado esta rota. O Ocha sublinhou que “a maioria, incluindo crianças, idosos e pessoas com deficiência, chegou a pé com pertences mínimos”.
Segundo informações do Ocha, na terça-feira, o exército israelense também renovou as ordens de evacuação do hospital Rantisi na cidade de Gaza, a única instalação pediátrica no norte, “alegando que grupos armados estavam utilizando as instalações e arredores”.
De acordo com as autoridades de saúde de Gaza, tal evacuação colocaria em perigo a vida de dezenas de crianças que estão em suporte vital, em diálise renal ou que dependem de respiradores.
Alerta sobre crimes de guerra
Segundo relatos, cerca de um terço de todos os edifícios no norte de Gaza foram destruídos ou danificados. O relator especial da ONU sobre Direito à Habitação Adequada*, Balakrishnan Rajagopal, alertou nesta quarta-feira que o bombardeio sistemático ou generalizado de habitações, objetos e infraestruturas civis é estritamente proibido pelo direito humanitário internacional.
Ele afirmou que realizar ataques “com o conhecimento de que irão destruir e danificar sistematicamente habitações e infraestruturas civis, tornando uma cidade inteira, como a cidade de Gaza, inabitável para civis é um crime de guerra”.
Escassez crônica de água e pão
No sul de Gaza, encontrar alimentos e água continua sendo um desafio. Ao todo, 11 padarias foram atingidas e destruídas desde 7 de outubro e “a única fábrica em funcionamento em Gaza” está paralisada devido à falta de eletricidade e combustível.
O Ocha disse que o pão é fornecido às padarias “de forma intermitente” e as pessoas fazem longas filas em frente aos estabelecimentos que ainda funcionam, onde correm o risco de serem atingidas por ataques aéreos.
A água que chega do Egito em garrafas e galões “satisfaz apenas 4% das necessidades de água dos residentes por dia”, com base numa atribuição de três litros por pessoa por dia para todos os fins, incluindo cozinha e higiene.
Ajuda representa ‘uma gota no oceano’
Na terça-feira, 81 caminhões transportando alimentos, medicamentos, suprimentos de saúde, água engarrafada e produtos de higiene entraram em Gaza a partir do Egito, através da passagem de Rafah. No total, 650 caminhões de ajuda entraram em Gaza desde que as entregas foram retomadas em 21 de outubro.
O Ocha lembrou que antes do início do confronto, uma média de 500 caminhões entravam em Gaza todos os dias. A OMS classificou a quantidade de ajuda que conseguiu fornecer até agora como “uma gota no oceano” em comparação com as enormes necessidades.
A ONU tem apelado repetidamente por mais acesso para entrada de ajuda em Gaza.
Na quinta-feira, o chefe de ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths, representará o secretário-geral, António Guterres, em uma conferência internacional sobre ajuda humanitária aos civis de Gaza. O evento é organizado pelo presidente francês Emmanuel Macron, em Paris.
* Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.