Criminosos atacaram o banco central do Haiti, na capital, Porto Príncipe, na segunda-feira (18). Um funcionário da instituição falou sobre o ataque nesta terça-feira (19) à AFP e disse que alguns do assaltantes morreram quando a ofensiva foi repelida por forças de segurança.
O Banco da República do Haiti (BRH) é uma das poucas instituições que não fugiram do centro da cidade, onde várias gangues operam livremente e controlam grande parte do território.
“Nossos agentes de segurança, juntamente com a polícia e o Exército, repeliram o ataque. De três a quatro bandidos foram mortos”, declarou esse funcionário, sob anonimato. Um dos guardas do BRH teria sido baleado.
A instituição afirmou na terça em seu perfil no X que estava “profundamente agradecida” a seus agentes de segurança e à Polícia Nacional “por sua vigilância e compromisso constante com a proteção” da comunidade.
Porto Príncipe, atingida diariamente pela violência das gangues, sofre ainda cortes de energia em várias áreas da cidade, conforme relatado na segunda pela empresa pública de fornecimento de eletricidade. A empresa explicou em comunicado que esses cortes de serviço foram devido a roubos de material em quatro de suas subestações na capital.
O Haiti está imerso em novo episódio de sua profunda crise política e de segurança desde o início do mês, quando uma aliança de gangues atacou locais estratégicos de Porto Príncipe em uma guerra aberta contra o primeiro-ministro, Ariel Henry, exigindo sua renúncia.
Henry havia assumido o cargo em 2021 após o assassinato do então presidente, Jovenel Moïse, e era desde então muito questionado dentro e fora do país.
Foi após sair do Haiti para ir ao Quênia, nação prevista para liderar missão multinacional de segurança aprovada pelas Nações Unidas, que Henry não pôde retornar, em meio à onda de violência e pedidos por sua renúncia, —anunciada, então, no último dia 11.
Henry será substituído por um conselho de transição composto por sete integrantes, distribuídos entre as principais forças políticas e a sociedade civil. Desacordos, atrasos e o clima geral de insegurança persistente e crescente têm dificultado a definição do grupo e deixado o país, na prática, sem direção.
Nesta terça, a imprensa haitiana noticiou ainda o sequestro de Lucien Jura, jornalista porta-voz da presidência do Partido Haitiano Tèt Kale (PHTK), legenda do ex-presidente assassinado, durante o governo de Moïse e do também ex-presidente Michel Martelly. Homens armados teriam levado Jura nesta segunda em Pétionville, área rica próxima da capital.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, “reitera seu apelo a todas as partes no Haiti para deixarem de lado suas diferenças e agirem imediatamente na implementação dos pactos de governança de transição acordados na semana passada”, disse nesta terça-feira seu porta-voz, Farhan Haq.
Nesta segunda, 14 cadáveres foram encontrados em Pétionville, uma área em que ficam várias embaixadas, inclusive a brasileira. Desde as primeiras horas do dia, homens armados aterrorizaram Laboule e Thomassin, dois bairros do subúrbio, onde atacaram um banco, um posto de gasolina e várias residências.
A titular do Comando Sul dos Estados Unidos, general Laura Richardson, não descartou, nesta terça, o envio de forças do país ao Haiti como parte de “uma solução internacional” para fazer frente à espiral de violência no país caribenho.
“Acredito que uma solução internacional, que também inclua a perspectiva do Haiti, é muito importante. Por isso não acredito que uma solução exclusiva dos Estados Unidos seja o caminho que devemos seguir”, afirmou a general durante evento em Washington.
Em meio à violência, o governo americano decidiu organizar um voo para retirar 30 de seus cidadãos do Haiti. O avião partiu de uma das maiores cidades do país, Cap-Haitien, já que o aeroporto da capital permanece fechado em razão dos ataques das gangues.
Esta foi a segunda ação dos EUA para retirar cidadãos americanos do país caribenho em uma semana. No último dia 10, as Forças Armadas americanas disseram ter feito uma operação para retirar funcionários não essenciais da embaixada em Porto Príncipe e reforçaram a segurança do local.
Aos ser questionada se as forças americanas poderiam ser parte da solução internacional, Richardson respondeu disse não descartar essa possibilidade. “Estamos preparados se isso nos for solicitado por nossos Departamentos de Estado e de Defesa”, afirmou.