Na semana que passou, o Ministério Público da Espanha pediu dois anos e seis meses de prisão para Luis Rubiales, ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).
Meses atrás, o cartola renunciou ao cargo em decorrência da repercussão causada pelo beijo que deu na boca da meia Jennifer “Jenni” Hermoso, sem consentimento da camisa 10, durante a cerimônia de premiação da Copa do Mundo de 2023.
A Espanha ganhou pela primeira vez o Mundial, disputado na Austrália e na Nova Zelândia, ao superar a Inglaterra na decisão.
Ao tratar do assunto, o diário catalão AS esmiuçou o relatório produzido pela Promotoria, e impressiona o número de tentativas feitas por Rubiales e aliados para tentar coagir Jenni a mudar sua versão e declarar que o beijo fora consensual.
A atleta de 33 anos, que joga pelo mexicano Tigres, passou por um período de forte pressão, com assédio constante e ameaças.
Segundo o Ministério Público, após a entrega das medalhas na Copa, Rubiales pediu, por meio da diretora de futebol feminino da RFEF, que Jenni deixasse o vestiário para falar com ele. Nessa conversa, “instou a jogadora a fazer uma declaração pública sobre a aceitação do beijo recebido”.
No avião que levava a delegação de volta à Espanha, Rubiales novamente interpelou a meio-campista “para que ela concordasse em fazer uma declaração conjunta durante a escala [no Qatar], afirmando que o beijo havia sido consensual, ao que a jogadora recusou mais uma vez, expressando seu cansaço e desconforto devido à pressão exercida por ele”.
A estratégia seguinte do então presidente da RFEF foi recorrer a familiares de Jenni que estavam no voo. O encarregado da tarefa foi o treinador da seleção, Jorge Vilda, que ao longo da preparação para o Mundial teve atritos com várias atletas da Fúria.
O técnico estabeleceu contato com Rafael, irmão de Jenni, de acordo com a Promotoria, com “o propósito único” de que ele “convencesse a irmã a realizar a manifestação pública pretendida” por Rubiales. “Dada a relutância, [Vilda] disse que, se sua irmã não aceitasse gravar um vídeo, haveria consequências negativas, tanto em nível pessoal como profissional”.
A comemoração do título da Espanha ocorreu na ilha de Ibiza, badalada estância turística no mar Mediterrâneo. Lá, nova investida. “[Rubén] Rivera, chefe do marketing da RFEF, insistiu, repetida e persistentemente” para que Jenni revisse sua posição. Ela deu nova negativa e pediu que “a deixassem em paz”.
Rivera, entretanto, não desistiu do assédio e decidiu envolver uma amiga da jogadora que a acompanhava na viagem. Ele abordou Ana Ecube e solicitou-lhe que convencesse Jenni a conversar com Albert Luque, diretor da seleção que tinha um relacionamento amigável com a camisa 10. Tentativa infrutífera, pois a atleta não quis se encontrar com Luque.
Encarregado da vez de persuadir Jenni a gravar o vídeo desejado por Rubiales, ele insistiu por um app de mensagens, sem êxito. Partiu então para uma oferta de emprego pós-aposentadoria, mediante a imediata mudança de versão.
“Diante da contundente recusa”, diz a Promotoria, “Luque enviou mensagens de WhatsApp para a amiga de Jennifer, aludindo ao fato de a jogadora, devido à idade, ter dois anos de carreira e que, se ela ajudasse, certamente poderia obter um cargo na federação”.
Ainda de acordo com o relatório, o diretor, antes de fazer a proposta, classificou Jenni, na conversa com Ecube, de “pessoa má”, desejando que ela acabasse “muito sozinha na vida”.
Como é sabido, Jenni Hermoso rechaçou todas as tentativas de coerção e abriu processo contra Rubiales.
Devido à participação nas investidas que pressionaram a atleta, Vilda (que deixou o cargo de treinador da Espanha depois da Copa do Mundo), Rivera e Luque também correm risco de serem presos.
A Promotoria pede à Justiça um ano e meio de cadeia para cada um –os três, além de Rubiales, poderão apresentar suas defesas durante a disputa judicial.
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