Autoridades da cidade de Zhuhai, no sul da China, removeram coroas de flores e velas deixadas por moradores em homenagem às vítimas de um atropelamento que deixou 35 mortos, em mais uma tentativa de abafar manifestações a respeito do incidente.
O mais mortal caso do tipo no país em uma década ocorreu na noite da última segunda-feira (11), quando um motorista jogou seu carro contra um grupo de pessoas que estava perto de um centro esportivo.
O regime demorou quase um dia para anunciar o número de mortos e feridos, que chegou a 43, e removeu publicações nas redes sociais que mencionavam o ocorrido e lamentavam a reação lenta das autoridades.
“Não haviam divulgado nenhuma informação —alguns colegas mencionaram e eu não acreditei no início, mas foi confirmado depois”, disse um homem de 50 anos que se identificou como Zheng e levou flores ao local. “Tive familiares que faleceram no passado, então entendo esse sentimento.”
Entregadores em motocicletas continuaram deixando flores no local nesta quarta (13), mas os buquês eram imediatamente removidos por seguranças, às vezes até antes que a pessoa pudesse colocá-los no chão.
“Muitas pessoas fizeram pedidos ontem e mandaram entregar as flores no estádio”, disse um florista de sobrenome Qiu. “Normalmente, saímos do trabalho às 22h, mas ontem foi um caso especial, então trabalhamos até quase 1h.”
O ataque ocorreu quando Zhuhai atraía a atenção de toda a China com a maior exposição de aviação do país. O evento, que a cada dois anos exibe as conquistas aeroespaciais civis e militares da nação, já foi ofuscado por um incidente do tipo em ao menos uma vez.
Em 2008, pelo menos quatro pessoas foram mortas e 20 ficaram feridas quando um homem dirigiu um caminhão em um pátio escolar lotado durante o show aéreo. Na ocasião, a polícia disse que o agressor queria se vingar após uma disputa no trânsito.
No incidente mais recente, as autoridades afirmam que o motorista estava irritado com um acordo de divórcio e não pode ser interrogado porque está em coma —ele tentou se suicidar depois do atropelamento, segundo a polícia.
A emissora estatal chinesa, a CCTV, não mencionou o ataque em seu boletim de notícias do meio-dia. Em vez disso, o programa mencionou a viagem do líder chinês, Xi Jinping, para a cúpula da Apec, no Peru, e dedicou parte de sua transmissão ao show aéreo.
A seção de atualidades do site do China Daily, outro veículo estatal, tampouco destacava o incidente. Já o site de mensagens Weibo censurou uma hashtag que mencionava o número de mortos.
Rose Luqiu, que pesquisa a censura chinesa na Universidade Batista de Hong Kong, disse que a postura de Pequim é condizente com outros incidentes do gênero. “Todos esses incidentes são censurados para tentar controlar a narrativa. A declaração da polícia será a única explicação oficial, e eles não permitirão que as pessoas desafiem ou discutam isso”, disse Luqiu.
Em setembro deste ano, o regime também tentou minimizar outro incidente. Naquele mês, um homem de 44 anos matou a facadas um menino japonês que estava a caminho da escola em Shenzhen, no sul da China. Foi o segundo ataque do tipo neste ano —em junho, um homem atacou um ônibus escolar japonês em Suzhou.
Embora não houvesse indicação de que cidadãos japoneses estivessem envolvidos no ataque de Zhuhai, a embaixada do Japão em Pequim divulgou na terça (12) um aviso pedindo a seus cidadãos que vivem na China que falem baixo e evitem sair à noite.