As equipes de ajuda da ONU e as organizações parceiras continuam profundamente comprometidas com a entrega de suprimentos em Gaza, apesar dos crescentes perigos para os trabalhadores humanitários.
A declaração é do subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, em entrevista à ONU News. Poucos dias antes de deixar o cargo, ele afirmou que os alertas de que a ajuda humanitária poderia ser interrompida na Faixa de Gaza não foi um “ultimato”.
Condições cada vez mais difíceis para ajuda humanitária
Ele explicou que a ONU continua, como tem feito há meses, a negociar com as autoridades israelenses e outras partes, incluindo os Estados Unidos, para garantir que a ajuda seja entregue de forma segura e protegida.
O subsecretário-geral enfatizou que a organização não está “fugindo de Gaza” e permanece particularmente preocupada com a situação de segurança, que limita cada vez mais as operações humanitárias.
A análise do subsecretário-geral veio após a publicação da avaliação da insegurança alimentar em Gaza, que destacou o “alto risco” de fome em toda a área devido à continuação do conflito e à restrição de entrada de suprimentos humanitários.
Griffiths afirmou que a ajuda pode fazer a diferença e ressaltou a necessidade de liberar todas as passagens de fronteira. Além disso, ele destacou que os trabalhadores humanitários precisam de segurança e proteção.
Questões políticas
Para Griffiths, o problema desta crise é política. Ele disse que os esforços devem seguir para uma solução negociada e avaliou que “um dos aspectos interessantes do Oriente Médio é que há muita diplomacia política e mediação em andamento”. O chefe da ação humanitária da ONU afirmou que gostaria de ver os mesmos esforços em outros lugares em crise, como no Sudão.
Com guerra na Faixa de Gaza próxima de completar nove meses, as agências de ajuda da ONU continuam a relatar ataques pelos militares israelenses, resultando em vítimas civis, deslocamento forçado em massa e destruição de infraestrutura civil.
Além da violência no enclave, também há novos ataques contra palestinos na Cisjordânia, com uma nova escalada entre Israel e os militantes do Hezbollah na fronteira com o Líbano. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou de que um movimento em falso poderia desencadear uma catástrofe para toda a região e além dela.
Ação global e desafio financeiro
Além da crise no Oriente Médio, Griffiths afirmou que a ONU entregou ajuda a 144 milhões de pessoas em todo o mundo no ano passado, alcançando dois terços da meta estabelecida, mesmo diante de grandes desafios financeiros.
Ele destacou o trabalho extraordinário das agências de ajuda, especialmente dos distribuidores na linha de frente. O subsecretário-geral enfatizou que, embora o número de pessoas assistidas seja impressionante, milhões permanecem fora do alcance da ONU devido à falta de financiamento.
Griffiths também ressaltou a “disparidade vergonhosa” nos gastos globais, com mais de US$ 2 trilhões sendo gastos anualmente em guerras, enquanto os recursos destinados à ajuda humanitária e ao estabelecimento da paz são insuficientes.
Ele acrescentou que é preciso mudar a noção de que investir em guerras é uma forma eficiente de obter segurança.
Reformas no sistema humanitário
Refletindo sobre suas quatro décadas de trabalho em zonas de guerra e nos corredores diplomáticos do poder, o diplomata britânico insistiu na necessidade de uma reforma radical no sistema humanitário global, dado o aumento das necessidades e as emergências prolongadas.
Para ele, a ONU e a sociedade civil, os governos anfitriões em todo o mundo e as organizações regionais devem lidar com o fato de que o poder está sendo redistribuído pelo mundo.
Sobre os desafios de seu trabalho, ele relatou sua passagem pelo Sudão, onde se encontrou com representantes de organizações da sociedade civil que cuidam de emergências médicas em Cartum. Griffiths destacou a dedicação dos humanitários, que fazem com que o trabalho “valha a pena”.
O cargo de coordenador de ajuda da ONU é considerado uma das funções “mais desafiadoras do sistema”, devido às constantes viagens e à intensa atenção da mídia. Griffiths não revelou a identidade de seu sucessor, mas afirmou que a possibilidade de salvar vidas torna esse trabalho extremamente gratificante.