Nesta segunda-feira, o subsecretário-geral de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, discursou no Fórum Humanitário Europeu apelando por uma “mudança radical” na forma como a assistência é oferecida em crises.
De acordo com ele, o foco da comunidade humanitária deve estar em encontrar uma abordagem que “dê liderança para aquelas pessoas que pretendemos servir”.
Acúmulo de crises
O chefe humanitário das Nações Unidas ressaltou que o momento atual é marcado por crises graves, onde o recurso às armas é “cada vez mais a primeira opção”, a exemplo da Ucrânia e do Sudão.
Ele descreveu como “vergonhoso” o fato de estarmos em uma época em que “as gangues podem governar um país inteiro”, como ocorre no Haiti.
Griffiths lamentou ainda que nesta “era de guerra” a ONU seja “impedida de fazer seu trabalho e depois criticada por não fazer o suficiente”, situação que ele associou à crise em Gaza.
O subsecretário-geral disse que à medida que a atenção internacional “corre freneticamente de uma grande crise para outra”, as crises que vieram antes permanecem sem solução. Como exemplos, ele citou Síria, Iêmen e Mali.
Reforma no setor humanitário
O chefe humanitário lamentou que, em todo o mundo, civis e profissionais humanitários estão sendo mortos em “números injustificáveis”.
Griffiths ressaltou também a “crise de financiamento alarmante” no setor humanitário, usando como exemplo o Sudão, onde apenas 4% das necessidades de 25 milhões de pessoas estão financiadas para este ano.
Segundo ele, isso faz com que profissionais humanitários tenham que tomar, diariamente, “decisões extremamente difíceis sobre a vida e a morte, sobre o que financiar, quem priorizar”.
O subsecretário-geral disse estar “mais convencido do que nunca” sobre a necessidade de uma “mudança radical” na forma como a assistência é oferecida.
Necessidade de “aprender a ouvir”
De acordo com o chefe humanitário, isso tem que começar com uma compreensão mais profunda do que as pessoas em crise realmente precisam, e não do que os profissionais humanitários acham que elas precisam.
Griffiths mencionou pesquisas que revelam que muitos beneficiários de assistência não se sentem ouvidos e que a comunidade humanitária internacional precisa “aprender a ouvir”.
Ele citou o lançamento em 2023 de uma iniciativa da ONU em quatro países para encontrar esta abordagem mais colaborativa.
Proatividade, resiliência e antecipação
Para o especialista as ações humanitárias precisam se tornar “menos reativas, mais proativas e melhores na construção de comunidades resiliência por parte da comunidade”.
Ele também defendeu uma ação mais antecipatória, para ajudar as pessoas a se anteciparem a crises previsíveis, reduzindo o impacto e os custos humanitários. Para isso um financiamento mais flexível é essencial, assegurando mobilização rápida e apoio direto a atores e grupos locais.
Griffiths destacou ainda que é preciso distinguir, apoiar e respeitar a liderança de mulheres e suas organizações e a nível local e global, para que elas mostrem a melhor forma de conduzir o trabalho humanitário.