O mundo não pode permitir que a “carnificina” em Gaza continue. Essa foi a mensagem do subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, se referindo aos ataques a hospitais, mortes de bebês prematuros e privações de meios básicos de sobrevivência para a população.
Nesta quarta-feira, o chefe humanitário apelou a todas as partes que façam “tudo o que estiver ao seu alcance” para apoiar e implementar um plano com 10 etapas para controlar a crise e proporcionar alívio aos civis.
Avanços na negociação por combustível
As medidas envolvem fluxo contínuo e seguro de ajuda, abertura de pontos de passagem adicionais além de Rafah, acesso a combustível em quantidades suficientes, expansão do número de abrigos seguros, financiamento de US$ 1,2 bilhão e um cessar-fogo humanitário, dentre outras.
Em entrevista para a ONU News, também nesta quarta-feira, Griffiths disse que os civis de Gaza estão em uma “situação horrível da qual não têm escapatória e em que são solicitados a se mover ainda em condições de perigo”.
Ele destacou que as agências humanitárias precisam de “centenas de milhares de litros de combustível” e que acordos estão sendo negociados para assegurar tal reposição, mas ainda falta aprovação final no mais alto nível das autoridades israelenses.
Segundo agências de notícias, na noite de terça-feira, Israel deu aprovação para 24 mil litros de diesel para serem usados exclusivamente por caminhões para operações da ONU, mas não ficou claro quando e como o combustível seria entregue.
“Hospitais não são campos de batalha”
Ao abordar a grave situação nas unidades de saúde, o subsecretário-geral afirmou que “o Hamas não deve usar um local como um hospital como escudo para a sua presença”.
Segundo Griffiths, esta é uma “afirmação tão forte ao abrigo do direito humanitário” como a afirmação de que os hospitais não devem se tornar “uma zona de guerra, de perigo”.
Ele ressaltou que “os hospitais não são campos de batalha”.
Durante visita a Gaza, a diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, disse que é preciso “deter este horror”, que resulta em crianças mortas, mutiladas, raptadas e com o direito à assistência negado.
Inundações e doenças em abrigos superlotados
Catherine Russell afirmou que “não há lugar seguro para onde as um milhão de crianças de Gaza possam recorrer”, destacando que mais de 4,6 mil crianças teriam sido mortas e quase 9 mil feridas.
Acredita-se que muitas crianças estejam enterradas sob os escombros de edifícios desabados, “o resultado trágico do uso de armas explosivas em áreas povoadas”, disse ela.
Cerca de 1,5 milhão de pessoas em Gaza estão deslocadas, incluindo mais de 787 mil abrigadas em 154 unidades da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa. A superlotação elevada está favorecendo a propagação de doenças.
O Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, informou que os deslocados que permanecem em tendas improvisadas fora dos abrigos no sul de Gaza por falta de espaço estão agora sofrendo com o início de fortes chuvas e inundações.
Plano de 10 etapas
1. Facilitar os esforços das agências humanitárias para estabelecer um fluxo contínuo de comboios de ajuda com segurança.
2. Abrir pontos de passagem adicionais para a entrada de caminhões de ajuda e comerciais, incluindo Kerem Shalom.
3. Permitir o acesso a combustível em quantidades suficientes para a ONU, outras organizações humanitárias e entidades do setor público e privado para prestar ajuda e fornecer serviços básicos.
4. Permitir que as organizações humanitárias forneçam ajuda em toda Gaza sem impedimentos ou interferências.
5. Permitir a expansão do número de abrigos seguros para pessoas deslocadas em escolas e outras instalações públicas em Gaza e garantir que continuem a ser locais seguros durante os combates.
6. Melhorar o mecanismo de notificação humanitária que ajudaria a poupar os civis e as infraestruturas civis da violência e ajudaria a facilitar o acesso humanitário.
7. Permitir a criação de centros de distribuição de ajuda humanitária para civis, de acordo com as necessidades.
8. Permitir que os civis se desloquem para áreas mais seguras e regressem voluntariamente às suas residências.
9. Financiar a resposta humanitária, que requer agora a US$ 1,2 bilhão.
10. Implementar um cessar-fogo humanitário para permitir o reinício dos serviços básicos e a retomada do comércio essencial. Esse cessar-fogo é também vital para facilitar a entrega de ajuda, permitir a libertação de reféns e proporcionar alívio aos civis.