O Conselho de Segurança da ONU se reuniu nesta quarta-feira para debater a situação no Oriente Médio. O primeiro a falar foi o comissário-geral da Agência de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, Phillipe Lazzarini.
Ele disse que depois de um ano de “profundo sofrimento e perdas, Gaza está totalmente irreconhecível e é um cemitério para dezenas de milhares de pessoas, muitas delas crianças”.
Fim de uma ordem internacional
Lazzarini disse aos embaixadores que um “mar de escombros substituiu antigas ruas, com quase toda a população agora deslocada”.
Ele também expressou grave preocupação com projetos de lei no parlamento israelense voltados para retirar a imunidade da Unrwa e “desmantelar” a agência.
O comissário geral disse que se aprovados, esses projetos estabeleceriam um “grave precedente para outras situações de conflito” em que os governos poderiam atuar para anular o trabalho da ONU.
Ele adicionou que a incapacidade de reagir contra essa medida “acabará por comprometer o trabalho humanitário e de direitos humanos em todo o mundo”.
Falando aos membros do órgão, Lazzarini disse que o Conselho de Segurança deve decidir por quanto tempo irá tolerar atos “que atingem o cerne do multilateralismo e comprometem a paz e a segurança internacionais”.
Segundo o chefe da Unrwa, esta impunidade exige uma resposta decisiva, caso contrário “podemos admitir que a ordem internacional baseada em regras do pós-Segunda Guerra Mundial está no fim”.
Ódio e extremismos futuros
Lazzarini disse que a última ofensiva israelense no norte é “especialmente alarmante”, deixando os palestinos sem nenhum lugar seguro para ir. Segundo ele, no sul, as condições de vida são “intoleráveis”, e Gaza está mais uma vez “oscilando à beira de uma fome provocada pelo homem”.
O chefe da Unrwa disse que depois de dois anos de aprendizagem perdida para as crianças, o enclave “não pode perder uma geração inteira e plantar as sementes para o ódio e o extremismo futuros”.
É por isso que a agência retomou alguns programas educativos em Gaza, para além das suas operações de salvamento de vidas, adiconou Lazzarini.
A diretora da divisão de finanças e parcerias, do Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, alertou para “graves impedimentos” ao acesso humanitário e à entrada de suprimentos essenciais para o comércio.
Espera de 212 horas em setembro
Lisa Doughten revelou que em setembro os trabalhadores humanitários gastaram um total de 212 horas, o equivalente a quase nove dias, apenas esperando para receber luz verde das autoridades israelenses para empreender missões de socorro.
Segundo ela, na semana passada, não houve movimentos humanitários para o norte, com passagens para suprimentos fechadas em Zikim e Erez.
A representante do Ocha disse que o norte de Gaza foi isolado, colocando em risco a segunda rodada da campanha de vacinação contra a poliomielite, prevista para meados de outubro.
Além disso, ela afirmou que nos últimos dias, entraram em média apenas 50 caminhões de mercadorias por dia, quantidades muito abaixo das verdadeiras necessidades.
A diretora de finanças disse aos membros do Conselho que ninguém pode “alegar ignorância sobre o que está acontecendo, nem podemos se dar ao luxo de desviar o olhar”. Lisa Doughten reitrou apelos ao órgão e aos Estados-Membros para que tomem medidas.