O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chegou neste sábado (9) a Kiev em uma tentativa de demonstrar apoio dos países do bloco à Ucrânia após a vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos.
O presidente eleito é crítico do envolvimento americano na guerra —sob Joe Biden, Washington reafirmou repetidas vezes apoio completo ao país na sua resposta à invasão russa e enviou bilhões de dólares em armamentos e equipamento militar ao governo ucraniano. A vitória de Trump preocupa Kiev e os países europeus que apoiam o governo ucraniano contra Moscou.
“Nossa mensagem é clara: os europeus continuarão a apoiar a Ucrânia”, disse Borrell, que está de saída do cargo —ele será substituído pela ex-primeira-ministra da Estônia Kaja Kallas no mês que vem. “Tempos apoiado a Ucrânia desde o princípio e hoje, nesta minha última visita [como chefe da diplomacia da UE], transmito a mesma mensagem: apoiaremos em tudo que pudermos”, acrescentou o espanhol.
Trump disse diversas vezes ser capaz de pôr fim à guerra da Ucrânia “em 24 horas”, uma afirmação, analistas argumentam, que sinaliza a intenção do presidente eleito de pressionar Kiev a abrir mão de território ocupado pela Rússia em troca de uma paz.
O republicano foi eleito com um discurso contrário ao alto custo financeiro do apoio militar a Kiev oferecido por Biden desde o início da invasão, em fevereiro de 2022. Além disso, é conhecido por seus comentários elogiosos a respeito do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
“Ninguém sabe o que o novo governo [dos EUA] vai fazer”, disse Borrell em Kiev. “Mas nós europeus precisamos aproveitar essa oportunidade para construir uma Europa mais forte e unida. Uma das manifestações da nossa união, da nossa, força e da nossa capacidade é nosso papel de apoio à Ucrânia.”
Antes mesmo das eleições americanas, a possibilidade da volta de Donald Trump ao cargo já havia feito com que líderes europeus levantassem a possibilidade de construir uma arquitetura de segurança própria independente da Otan. Trump é extremamente crítico da aliança ocidental, e diz com frequência que os europeus “se aproveitam” do poderio militar americano para não investir o bastante em suas próprias Forças Armadas.
Um dos principais proponentes de uma aliança europeia, incluindo um eventual exército comum da UE, é o presidente da França, Emmanuel Macron. O político centrista já disse que o bloco não pode se proteger de outra forma, e recentemente vem pressionando pela criação de uma nova divisão militar europeia dentro da Otan.
Os países da União Europeia já enviaram US$ 125 bilhões, cerca de R$ 700 bilhões, em ajuda à Ucrânia desde o início da guerra. Os EUA, sozinhos, contribuíram com US$ 90 bilhões, segundo um estudo do Instituto Kiel, na Alemanha.