O comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, disse nesta quinta-feira que quer entrar em contato com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem falado em dar prioridade à paz.
Em conversa com a ONU News, em Nova Iorque, Philippe Lazzarini, enfatizou que não pode haver paz sem abordar a questão palestina e que “se existe um caminho para a paz, a Unrwa deve fazer de forma positiva parte importante dele”. No ansiado contato com Donald Trump, ele disse que debateria esse e outros assuntos, incluindo resgatar a questão temporária da agência.
Ambiente extremamente perigoso
Na entrevista ao vivo, em Nova Iorque, o chefe da Unrwa abordou a situação na Faixa de Gaza, no Líbano e o trabalho da agência em meio às diferentes crises. Em outubro, o parlamento israelense adotou dois projetos de lei que proíbem a atuação da agência depois de janeiro.
Para o comissário-geral, a situação em Gaza suscita ceticismo. Lazzarini forneceu detalhes de como cerca de 13 mil funcionários da agência operam em ambiente “extremamente perigoso” em área onde 90% do território está sob ordens de evacuação.
O chefe da Unrwa disse que os trabalhadores enfrentam “o mesmo sofrimento e tragédia que qualquer outra pessoa em Gaza” e estão morando em abrigos que na maioria das vezes estão danificados ou são alvos de ataques.
Lazzarini classifica a situação como um “horror distópico” com “um nível de destruição extraordinário”.
Sacrifício de uma geração inteira
Ele revelou que em sua atuação, a Unrwa tem servido como uma espinha dorsal da resposta e que com a possibilidade de deixar de funcionar, isso significará sacrificar uma geração inteira.
Mais de 660 mil meninas e rapazes vivem atualmente nos escombros sem que haja “absolutamente nenhuma agência das Nações Unidas capaz de fornecer serviços essenciais como a educação, além da Unrwa”.
Lazzarini abordou ainda o fim do prazo exigido pela administração Joe Biden a Israel para a abertura de mais canais de ajuda para Gaza. Segundo ele, o fluxo da assistência abrandou de forma significativa em meio à alta acentuada das operações militares.
O chefe da agência assinalou um cenário marcado pela impunidade com “pessoas enfrentando a fome e, ao mesmo tempo, um alto número de mortes que ainda não foram contabilizadas até à data na Faixa de Gaza”.
Semente para mais ódio
Com o iminente fim da atuação da Unrwa, o comissário-geral disse que poderá ser sacrificada uma geração e “plantada a semente para mais ódio no futuro”.
Ele defendeu a ação da Unrwa como uma entidade de desenvolvimento humano que fornece primeiramente educação, com as cerca de 700 escolas, além de beneficiar cerca de 2 milhões de pessoas com serviços de saúde.
Lazzarini apontou ainda a falta de acesso de jornalistas internacionais na área de conflito como um fator que aumenta a “guerra de narrativas” e questionou o motivo por trás desse impedimento da operação dos profissionais de informação.