Os clubes brasileiros têm se mostrado dominantes na América do Sul. Tanto que, das últimas dez Libertadores (de 2013 a 2022), ganharam seis, incluindo as quatro mais recentes.
Mais uma edição do principal torneio continental está começando –é a 64ª–, e eu tenho a forte sensação de que será uma equipe nacional a conquistá-lo novamente.
Estão na disputa Athletico-PR, Atlético-MG, Corinthians, Flamengo (atual campeão), Fluminense, Fortaleza, Internacional e Palmeiras.
O domínio dos times nacionais é tão grande que desde 2020 o duelo na decisão é brasuca (Palmeiras x Santos, Palmeiras x Flamengo e Flamengo x Athletico-PR, nesta sequência). Não tem River Plate ou Boca Juniors, os dois gigantes argentinos, que tenha sido capaz de incomodar.
Ao mesmo tempo que fazem bonito na América do Sul, os times brasileiros decepcionam com recorrência no passo final para a glória: conquistar o Mundial de Clubes.
Nenhum dos seis que faturaram a Libertadores de 2013 para cá foi capaz de erguer o troféu da competição organizada pela Fifa, que tem tido diferentes sedes (Japão, Qatar, Marrocos, Emirados Árabes).
Desse modo, o brilho fica limitado, é “só” regional, não ilumina o planeta. Diante da enorme expectativa de reluzir ainda mais, o resultado é um “apagão”. A luz perde intensidade e fica como numa lanterna com pilha fraca.
No Mundial deste ano, que termina neste sábado (11) no Marrocos, quem decepcionou foi o Flamengo, que detinha amplo favoritismo diante do Al Hilal, da Arábia Saudita, na semifinal.
Caiu por 3 a 2. Houve reclamações rubro-negras em relação à arbitragem, que marcou dois pênaltis para a equipe do Oriente Médio e expulsou o volante Gerson no final do primeiro tempo, porém a diferença técnica é tão grande que botar a culpa no árbitro soa como atestado de incompetência.
Espera-se que, no Mundial, o representante sul-americano chegue à final. É visto como obrigação, já que os adversários são sempre inferiores, em se tratando do elenco.
Só que os brasileiros, incrivelmente, conseguem tropeçar na semifinal. Antes do Flamengo, o Atlético-MG levou de 3 a 1 do Raja Casablanca (Marrocos), em 2013, e o Palmeiras perdeu de 1 a 0 do Tigres (México), em 2020.
A meu ver, as causas são primordialmente o salto alto, a soberba, o “já ganhou”.
Vexames registrados, vem a disputa do terceiro lugar, que só serve para reforçar na cabeça do torcedor a lembrança da desgraça de dias antes, fazendo-o remoer a dor, a frustração, a tristeza, a raiva.
Vindo, a medalha de bronze, para quem devia estar na disputa da taça, é de tremendo amargor. Aliás, só os brasileiros passaram por isso, a disputa do terceiro lugar. Os campeões europeus, desde que o Mundial da Fifa começou a ocorrer todo ano (a partir de 2005), sempre chegaram ao jogo decisivo.
Na edição de 2000, a inaugural do Mundial, no Brasil, os representantes da Europa não alcançaram a final. Manchester United (fase de grupos) e Real Madrid (semifinal) ficaram pelo caminho, e o Corinthians superou o Vasco na decisão e sagrou-se campeão.
Esse evento foi bem atípico. Teve uma cara de “torneio de férias” (foi no começo do ano), algo experimental, com alguns dos participantes sendo definidos pela Fifa sem os requisitos esperados, o que não contribuiu para dar credibilidade à competição.
O Corinthians, por exemplo, jogou sem ter sido o vencedor da Libertadores do ano anterior, conquistada pelo arquirrival Palmeiras, que não participou –e sim o Vasco, campeão da Libertadores de 1998.
Ou seja, em um paradoxo, o Corinthians viu-se campeão mundial sem ser campeão da América.
Feito esse aparte sobre o Mundial de 2000, o fato é que nos dez anos iniciados em 2013 o representante europeu não falhou na competição. Sempre ganhou, seja de brasileiro (Real Madrid x Grêmio, em 2017, Liverpool x Flamengo, em 2019, Chelsea x Palmeiras, em 2021), seja de qualquer outro (argentino, mexicano, japonês, marroquino, emiradense).
(Um parênteses: escrevo antes de Real Madrid x Al Hilal, a decisão de 2023; o Real perdendo, será uma das maiores zebras da história do futebol; ganhando, reforça as linhas do parágrafo anterior.)
Por fim –e não dá para dizer que é pior do que cair na semifinal, mas é também preocupante– , quando avança à decisão, a equipe brasileira mostra-se visivelmente inferior ao oponente do velho continente.
Ocorreu, em anos recentes, com palmeirenses, com flamenguistas, com gremistas. Mesmo perdendo de pouco, exibiram futebol pouquíssimo convincente, não dando margem para o argumento de que “mereciam ter ganhado”. Pelo contrário. Foram merecedores da derrota, dada a superioridade de Chelsea, de Liverpool, de Real Madrid.
Assim, o Brasil completa dez anos sem título mundial de clubes. O último foi o do Corinthians, em 2012 –este sim tendo a Libertadores no currículo.
Somando-se ao jejum de mais de 20 anos da seleção brasileira em Copa do Mundo, o cenário é taciturno para o dito “país do futebol”.