Cabe a Haaland um adjetivo que não seja ridículo – 29/08/2024 – O Mundo É uma Bola – EERBONUS
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Cabe a Haaland um adjetivo que não seja ridículo – 29/08/2024 – O Mundo É uma Bola

Entro neste texto no campo do Sérgio Rodrigues, colunista desta Folha e profundo conhecedor da língua portuguesa, além de escrever textos interessantes e saborosos.

Faço-o devido à palavra “ridículo”.

Ela foi usada por Pep Guardiola, treinador do Manchester City, ao se referir a Erling Haaland, o centroavante do time, depois de ele marcar três gols na vitória por 4 a 1, no sábado (24), sobre o Ipswich no Campeonato Inglês (Premier League).

“Os números [dele] são ridículos. Ridículos”, afirmou o espanhol, que para mim é o melhor técnico do mundo.

O objetivo de Guardiola foi, ao empregar o termo, elogiar o norueguês, um dos grandes artilheiros da atualidade. Para Pep, Haaland, 24, tem condição de alcançar a quantidade de gols de Messi, 37, ou de Cristiano Ronaldo, 39. “Os números são inacreditáveis na idade dele.”

Sou um progressista da língua, entendo perfeitamente que ela é mutante e que palavras com determinado significado podem ganhar outros no decorrer do tempo. Mas o “ridículo” empregado por Guardiola me incomoda.

Se há tantos adjetivos elogiosos que o idioma oferece (seja em português ou em inglês, que foi a língua utilizada por Guardiola em sua fala), por que recorrer a um que é historicamente negativo?

E mais: que os dicionários classificam, majoritariamente, como termo depreciativo. Talvez um dia “ridículo” seja visto como positivo. Hoje, a não ser em forçada de barra, não é.

Sendo assim, discordo do colega de profissão Everaldo Marques (ex-ESPN, atual Globo), o Evê, um dos grandes narradores brasileiros, que insistentemente usa, há vários anos, o bordão: “Fulano, você é ridículo!”. É marca dele: criou, usou, usa e continuará usando.

Pior que isso, só isto: para meu desgosto, parece que a expressão vem pegando gosto entre as pessoas mais jovens. Culpa do Evê!

Everaldo disse uma vez, segundo o UOL, que passou a utilizá-la “porque nos EUA eles usam ‘ridiculous’ como uma coisa fora do padrão, acima da média, de um nível muito alto”.

Tá, mas dava para “bordalizar” de modo a não criar confusão (há quem ainda não entenda o significado desse “ridículo” verbalizado pelo Evê): Exemplo: “Você é sublime”.

Outras alternativas: esplêndido, fantástico, extraordinário, incrível, fora de série, sensacional, impressionante, excepcional, assombroso, admirável, maravilhoso, soberbo. E por aí vai.

Ridículo, para mim, é e sempre será algo ou alguém de mau gosto, vulgar, grotesco, desprezível, digno de escárnio.

Há como um dos sinônimos, pouco conhecido, de “ridículo” o vocábulo “absurdo”, que em uma das suas acepções significa ilógico, fantástico, irracional, fora do comum.

OK, há esse argumento, e é com esse intuito que Evê emprega, e Guardiola empregou, o termo. Só que acaba soando ridículo mesmo, ao pé da letra.

Voltando à comparação de Haaland com Messi e Cristiano Ronaldo, dois superartilheiros e os melhores futebolistas deste século, deve-se recorrer ao que já aconteceu (fato) e ao que ainda pode acontecer (probabilidade) para traçar uma perspectiva.

De acordo com o site Messi vs Ronaldo, que computa estatísticas dos dois craques, o argentino soma 838 gols (em 1.069 partidas) e o português, 899 (em 1.235 jogos). A conta é da carreira profissional, incluindo clubes e seleção e excluindo jogos amistosos pelos times.

Pelo mesmo critério, conforme minha checagem, Haaland tem 280 gols em 337 jogos. Antes de atuar pelo Man City, ele defendeu Bryne (Noruega), Molde (Noruega), Salzburg (Áustria) e Borussia Dortmund (Alemanha).

Sua média de gols por jogo é 0,83. A de Messi, 0,78; a do CR7, 0,73.

Cristiano ainda está na ativa aos 39 anos. Se Haaland jogar até essa idade e atingir o mesmo número de partidas do português, mantendo a atual média de gols, terá balançado as redes 1.025 vezes.

De modo que o norueguês não só alcançará o número de gols de Messi e Cristiano Ronaldo como irá ultrapassá-los. Um feito possível e que pode ser adjetivado de diversas formas, menos como ridículo.

FONTE

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