Recém-nomeada diretora executiva do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, ONU-Habitat, a brasileira Anacláudia Rossbach, compartilhou suas experiências e visões em uma entrevista à ONU News.
Com mais de 20 anos de carreira, Rossbach destacou sua transição da consultoria para o setor público, onde se dedicou às questões sociais e de habitação no Brasil.
“É possível a transformação em larga escala”
Anacláudia Rossbach falou sobre sua atuação na Prefeitura de São Paulo, cidade brasileira mais populosa, e em programas habitacionais de larga escala como o PAC Urbanização de Favelas e Minha Casa Minha Vida, que impulsionaram iniciativas de moradia no Brasil.
“Eu testemunhei o desenho desses programas, o processo de desenvolvimento desses programas e como funcionou a coordenação entre os diversos órgãos do governo federal. Houve um plano de habitação com a participação da sociedade civil, setor privado, academia, setores profissionais organizados, governos locais. Isso tudo desenhou esses programas de larga escala. E foi muito rápido. Eu fiquei muito impressionada com o resultado. Não são programas perfeitos, são programas de larga escala. Mas eu fui testemunha de que é possível ter esse tipo de transformação em escala e da mudança de vida das famílias. Eu conheço pessoas que moravam num barraco de madeira. Hoje moram numa casa e o fato de morar numa casa, num bairro integrado à cidade transformou a vida delas, delas e das futuras gerações”
Na ONU-Habitat, Rossbach enfrenta desafios como a implementação da Nova Agenda Urbana e a necessidade de abordar a informalidade nas cidades. Ela enfatizou a importância do planejamento urbano para enfrentar crises globais, como a mudança climática e a crise habitacional, e destacou o papel crucial dos jovens na construção de cidades mais inclusivas e sustentáveis.
Juventude e crise habitacional
Para a nova diretora executiva, alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável passa por algo que parece simples, mas vem se tornando cada vez mais complexo: ter um teto.
Anaclaudia Rossbach ainda aponta a importância de incluir os jovens para encontrar soluções para crise habitacional. Ela afirma que informações e dados sobre como a juventude se relaciona com as cidades é fundamental para criação de políticas públicas futuras que sejam efetivas.
“Eu acredito muito no planejamento urbano e na organização do território da cidade como uma chave importante para enfrentar as grandes batalhas globais. E eu acredito que os jovens podem nos ajudar nisso, porque a gente que está nessa batalha já há mais tempo, às vezes a gente não vê muitas coisas. Então, eu acho que os jovens, eles podem trazer um outro olhar. Eles já estão utilizando a cidade de uma maneira diferente. Eu posso usar minha experiência, tudo que eu aprendi no Brasil e fora para ONU-Habitat e colocar isso a serviço dos estados membros e suas cidades. Mas eu preciso desse olhar, porque eu preciso entender para onde a gente vai. A crise habitacional chegou no momento que nós não podemos mais ignorar. Nós temos que trabalhar de uma forma, de uma forma bastante intensa. Sem um teto, não conseguimos atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.”
Chefe da ONU-Habitat
Anaclaudia Rossbach sucede a Maimunah Mohd Sharif, da Malásia. A economia traz para o cargo mais de 20 anos de experiência trabalhando em assentamentos urbanos precários e informais, habitação social e políticas urbanas, além de projetar e implementar estratégias para organizações públicas, sociais e privadas com partes interessadas locais, nacionais e internacionais.
Atualmente, Anacláudia Rossbach atua no Lincoln Institute of Land Policy e também contribuiu com projetos no Banco Mundial, fornecendo assistência técnica e facilitando o diálogo político de alto nível para desenvolver e implementar habitações em vários países do mundo.
A chefe dom ONU-Habitat também trabalhou para a Prefeitura de São Paulo e foi a diretora fundadora da organização não governamental Interação, afiliada à Slums Dwellers International, desenvolvendo projetos de alto impacto em comunidades informais no Estado de São Paulo e na cidade de Recife, Brasil.